Manter regras e procedimentos estabelecidos, sempre foi uma ordem no franchising. Mas, em uma sociedade que anda em constante transformação, aos poucos esses princípios começam a ser quebrados e o franqueado que até então era coadjuvante de uma marca passa a atuar como peça principal até mesmo para o desenvolvimento dela.
Hoje em dia, os franqueados encontram nas redes autonomia para empreender. Nesse aspecto, a PremiaPão, rede de franquias com foco em propaganda em saco de pão, já entendeu essa necessidade e adotou a mudança. A direção, que é conduzida por três jovens empresários, entendeu essa necessidade e percebeu que isso tem facilitado a integração da rede.
Raphael Mattos, diretor executivo da microfranquia, afirma que a marca dá espaço para o franqueado empreender. “Inclusive se a proposta for boa, não vemos problemas em adotar a sugestão. Se for agregar ainda mais valor à marca, por que não?”, falou.
Ele conta que não é incomum encontrar franqueados que pensam “fora da caixinha” e que adotem medidas diferenciadas para conquistar o público consumidor e os anunciantes da região na qual pertencem. “Nem sempre eles fazem somente aquilo que determinamos. Muitas vezes adotam ações por intuição ou até mesmo com a ajuda de outros franqueados que sugerem algo que já tenha funcionado”, explica o diretor.
Algumas sugestões já foram inclusive adotadas pela própria PremiaPão e repassadas aos demais investidores. “Dia desses, nossa franqueada de Eunápolis (BA) sugeriu utilizarmos o totem (ferramenta de endomarketing) para divulgação dos saquinhos nas padarias. Fizemos o teste e deu certo! O totem tem o tamanho real de uma pessoa, fica próximo aos saquinhos e chama bastante atenção de quem vai comprar pão. Em Eunápolis, o conceito faz muito sucesso e ganhou até um apelido carinhoso. Eles a chamam de Mia, por conta do final da palavra Premia”, disse.
Outro caso é o do masterfranqueado Victor Vidal, de São Miguel Paulista, em São Paulo. Ele propôs duas ações inovadoras à rede permitindo que a comunicação entre franqueados e anunciantes seja ainda mais eficiente e rápida.
A primeira é sobre dicas! No caso, ele gravou um vídeo com algumas sugestões de vendas para o final do ano – época em que os negócios ocorrem de forma acentuada, já que muitas empresas estão abastecendo seus estoques e, com o pagamento do décimo terceiro e férias, naturalmente aumentam as vendas. Neste, ele conta como os franqueados poderiam utilizar cupons de desconto para os últimos saquinhos a serem produzidos ainda em 2017.
Além disso, Vidal também deu a ideia de usar o seu próprio site (que até então era padrão para todos os franqueados) para captar os clientes da sua região. “Normalmente, esses dados ficam conosco. Nós recebemos informações como telefone, nome, empresa, e-mail e cidade, guardamos isso em um banco de dados e somente respondemos caso o anunciante entre em contato. Porém, esse processo acontece de forma mais neutra. Com a sugestão do Victor, fizemos uma alteração na programação do site dele para que o contato ocorra de forma direta. Agora todos os dados são enviados diretamente para o e-mail corporativo do Victor e ele consegue entrar em contato muito mais rápido e fazer uma seleção mais íntima com os possíveis anunciantes. Será ele quem determinará se o cliente está interessado ou não. Caso esteja, ele já agenda uma visita ou uma conversa por telefone”, revela o empreendedor.
Raphael acredita que a questão em si agrega valor a todos os envolvidos – ao franqueado que encontra resultados financeiros e a marca que é fortalecida. E diz ainda que o futuro dessas redes mais engessadas não é muito animador. “Elas tendem a pender a chance de se adaptar ao mercado e as inovações que ele oferece. Principalmente porque são seus franqueados que sentem ali no dia a dia, as questões que precisam ser adaptadas”, concluiu.
Mas empreender em franquia pode, mesmo? Pode!
Outra que se vem se enquadrando nessa realidade é a Acqio – rede de franquias especializada em pagamentos eletrônicos. A marca não só aceita, como incentiva todos os envolvidos a estimularem esse lado empreendedor de ser. “Incentivamos isso através de grupo no whattsapp e até mesmo por e-mail. Temos um canal aberto com eles e ninguém melhor para trazer ideias, já que passam o dia na rua e encontram concorrência o tempo inteiro”, falou Robson Campos, CEO da franqueadora.
De acordo com ele, a empresa não abre mão de nenhuma regra em específico, mas em todos os modelos de negócio busca preservar a remuneração do franqueado, respeitando o contrato.
Campos diz que, volta e meia, está trocando ideia com seus franqueados sobre os assuntos que envolvem seu segmento e o mercado como um todo. E que em meio a essas conversas surgem muitas sugestões. A mais recente delas, foi sobre alternativas para venda de equipamento que não sejam necessariamente feitas no boleto, à vista ou no cartão de crédito.
“Temos percebido uma mudança no comportamento do franqueado na questão empreendedorismo. Eles querem empreender mais, mesmo estando à frente de uma unidade franqueada. Além dos filtros e exigências para prospecção de novos franqueados com perfil mais empreendedor, temos incentivado negociações diferenciadas em termos de parceria com varejo e indústria, bem como soluções de captura via TEF (Transferência Eletrônica de Fundos) para clientes com maior faturamento”, contou.
Assim como a PremiaPão, a Acqio acredita que este é um caminho sem volta – pelo menos no seu campo de atuação. “O engessamento pode antecipar o fim de uma rede de franquias neste ramo, onde as constantes evoluções no segmento, bem como a maior participação de meios de pagamentos eletrônicos no consumo das famílias em relação a outras modalidades (dinheiro, cheque, etc), fazem com que todos estejam constantemente antenados para a crescente concorrência e novidades”, finaliza.