Metade das franquias apontam quedas superiores a 25% na 2ª quinzena de março, diz estudo da ABF

O setor de franquias foi impactado diretamente pelos reflexos econômicos e sociais da pandemia de Covid-19, especialmente as políticas de isolamento social e o fechamento dos shoppings. A Pesquisa de Desempenho Setorial da ABF (Associação Brasileira de Franchising) do 1º trimestre mostrou que a queda no faturamento de praticamente metade das franquias foi superior a 25% na segunda quinzena de março de 2020, em relação ao mesmo período de 2019. Na comparação com a quinzena anterior de março de 2020, a queda de faturamento superior a 25% foi registrada por 44,2% das franquias. Analisando o primeiro trimestre como um todo, o impacto foi menor, mas ainda bastante significativo: o faturamento passou de R﹩ 41,464 bilhões em 2019 para R﹩ 41,537 bilhões em 2020, crescimento de 0,2%, enquanto o crescimento no mesmo período de 2019 foi de 7%.

Na comparação entre a segunda quinzena de março e a primeira, houve um reflexo semelhante à análise anterior, mas com um maior número de redes (17,2%) que alegaram não ter sentido grandes diferenças.

“Nossa pesquisa mostra que o setor estava com um bom desempenho em janeiro e fevereiro, mas em março o declínio devido à pandemia ocorreu de forma muita rápida. As políticas de isolamento social, principalmente o fechamento dos shoppings, provocaram uma diminuição sensível na demanda do consumidor. A queda só não foi maior, pois essas ações foram implementadas no final do trimestre, sem contar que muitos estados ainda não tinham aderido firmemente à quarentena”, afirma André Friedheim, presidente da ABF, acrescentando que, com esses dados, já é possível projetar a continuação desta trajetória no 2º trimestre.

Outro reflexo importante foi a diminuição no ritmo de expansão de unidades e da geração de postos de trabalho. O setor encerrou o trimestre com 161.141 unidades em operação, 1% a mais do que no trimestre anterior (na mesma comparação no 1º trimestre de 2019 esse saldo foi de 2,5%). O volume total de empregos diretos foi de 1.361.795, 0,3% a mais do que o trimestre anterior.

“Esses dados refletem uma diminuição do ritmo de expansão, maior aversão a risco e o fechamento de algumas unidades em decorrência da pandemia. Notamos também que algumas empresas deixaram o sistema ou suspenderam planos de expansão por meio do franchising, o que acabou se refletindo nestes números. Vamos acompanhar de perto estes dados nos próximos meses. Por isso a importância dos programas governamentais de estímulo, especialmente as linhas de crédito destinadas aos pequenos e médios empresários”, disse o presidente da ABF.

Na análise por segmento no trimestre, os que apresentaram melhor desempenho foram Serviços Automotivos (crescimento no faturamento de 7,4%), Comunicação, Informática e Eletrônicos (+6,9%), Limpeza e Conservação (+5,6%), Casa e Construção (+3,6%) e Serviços Educacionais (+3,5%). Características intrínsecas de cada segmento foram bastante importantes para tais resultados. No caso de Serviços Automotivos, temos o impacto de uma frota mais envelhecida e o fato de que muitas cidades, incluindo São Paulo, permitiram a continuação da atividade na quarentena. Já Comunicação, Informática e Eletrônicos vem sendo estimulado pela consolidação de empresas de tecnologia em meios de pagamento, além do crescimento dos investimentos em marketing digital e comunicações online de forma geral – muitas redes desta área inclusive, operam no modelo home based, logo já estavam preparadas para o momento de isolamento social.

Além da recuperação dos mercados imobiliário e da construção civil, Limpeza e Conservação e Casa e Construção são segmentos que possuem clientes corporativos que, em geral, são mais resilientes. Houve ainda uma maior demanda por limpeza, pelas questões sanitárias envolvidas na pandemia, e a realização de manutenções e pequenas obras em casas, que agora passaram a concentrar a maior parte da vida das pessoas. Por fim, o segmento de Serviços Educacionais conseguiu migrar grande parte de seus serviços para o ambiente online – alguns países inclusive registraram aumento de demanda para capacitação a distância na quarentena -, além de ser o período em que grande parte das matrículas são realizadas.

Outros ramos que merecem destaque são os de franquias de supermercados e farmácias, que experimentaram um pico de demanda no final de março, cujos resultados devem se refletir mais fortemente no segundo trimestre. Maior segmento do franchising brasileiro, o segmento de Alimentação já sentiu com força os impactos da Covid-19 e registrou uma queda no faturamento no trimestre de -1,6%.

Adaptação ao novo cenário

O estudo da ABF identificou também que o setor reagiu rápido aos reflexos da pandemia. Dentre as principais ações já adotadas (índice superior a 70%) estão serviços online, orientações e treinamentos sobre Covid-19, delivery, e-commerce e promoções. Um pouco abaixo, mas com grande penetração, estão a formação de comitês de crise, criação de novos produtos ou serviços, antecipação de férias na franqueadora, desenvolvimento de novas tecnologias/inovação e ações solidárias (índice superior a 55%).

“Este difícil momento que vivemos mostra mais uma vez as vantagens de empreender dentro do sistema de franchising. Não que nossas unidades estejam imunes, mas elas têm mais estrutura e acesso a conhecimentos e experiências para reagir mais rápido. Não raro, o primeiro crédito que o franqueado tem acesso, por meio da postergação ou suspensão de taxas e pagamentos, é do próprio franqueador. Além disso, muitas redes se mobilizaram para buscar melhores condições de crédito, negociar com locatários e administradores de shoppings e conversar com fornecedores diversos. Notamos também um intercâmbio ainda maior entre os franqueados e até o desenvolvimento de novos produtos e serviços”, ressalta André Friedheim. Como boas práticas, algumas redes relataram ainda o suporte intensificado aos franqueados, a realização de reuniões online e webinares, comunicação frequente, home office e atendimento via redes sociais.

Outro indicativo da solidez do setor é que 47,7% das redes mantiveram ou ampliaram seus planos de expansão.

A ABF também tem agido fortemente para apoiar o setor e se adaptar a este momento. A entidade digitalizou grande parte de suas atividades, promovendo webinares semanais com temas relevantes para o setor e mesas virtuais quase diárias para os franqueadores trocarem experiências e melhores práticas na crise. Em termos de boas práticas, sugeriu a seus associados, de acordo com a realidade de cada franqueadora, a isenção ou suspensão de taxas típicas do sistema durante a pandemia, alargamento de prazos de pagamento e renegociação conjunta com fornecedores, além de maior atenção a questões sanitárias e de prevenção à Covid-19. Em paralelo, a ABF se articulou com associados e entidades correlatas para uma negociação com shopping centers, locatários de forma geral, bancos, emissores de cartão e o próprio governo com vistas a melhores condições para franqueados e franqueadores.

Metodologia

A Pesquisa de Desempenho do Franchising referente ao 1º trimestre de 2020 envolveu uma base amostral com redes respondentes que representam cerca de 33% das unidades e 34% do faturamento. Dado ao momento de pandemia, a pesquisa abrangeu também os principais impactos no mês de março de 2020. Abrangendo o mercado como um todo, inclusive não associados, os números do desempenho do setor de franchising são apurados em pesquisa por amostragem, cruzados com levantamentos feitos por entidades representantes de setores correlatos ao sistema de franquias, órgãos de governo, instituições parceiras e de ensino. Auditados por empresa independente, os dados divulgados pela ABF são referência para órgãos governamentais de diversas esferas, entidades internacionais do franchising, como World Franchise Council (WFC), Federação Ibero-americana de Franquias (FIAF) e instituições financeiras.