Especial Mês da Mulher: do preconceito à pandemia, conheça os desafios e as conquistas de mulheres empreendedoras

Sálua Bueno

As mulheres já são a maioria da população, do eleitorado, do ensino superior e representam 48,7% do empreendedorismo no Brasil, de acordo com os dados da Global Entrepreneurship Monitor. Mesmo diante de todos os obstáculos e preconceitos que persistem na sociedade, das crises econômicas, da pandemia e de ter que conciliar as gestões dos negócios e da família, elas seguem superando desafios e inovando em diversas áreas. Por sinal, inovam mais do que eles. Segundo o Sebrae, enquanto 71% delas usam redes sociais, aplicativos e a internet para vender seus produtos e serviços, só 63% deles usam essas ferramentas. “Empreendedoras são criativas, inovadoras e não têm medo das crises”, destaca Ana Fontes, presidente da Rede Mulher Empreendedora (RME). Em comemoração ao mês da Mulher, conheça algumas dessas histórias inspiradoras:

1 – Alzira Gonçalves, fundadora da rede Casa da Empada

Em outubro de 1987, nascia a Casa da Empada, instituindo o conceito de loja especializada em empadas numa época em que este tipo de salgado era vendido apenas em padarias e bares em geral. Tudo começou quando Dona Alzira Gonçalves preparava os quitutes nas reuniões em família e todos se encantaram com o resultado da receita, que é preservada até hoje. A matriarca deu os primeiros passos vendendo o quitute para bares, padarias e outros estabelecimentos comerciais, pois nunca se imaginava uma loja especializada em empada até então. O ponto onde fabricava as empadas, uma pequena loja na Conde de Bonfim, na Tijuca, passou a vender também para as pessoas que passavam. Em pouco tempo, os salgados fizeram enorme sucesso e a pequena loja se tornou referência, tendo que aumentar a capacidade de produção.

O sucesso foi gigantesco, um verdadeiro fenômeno que surgia a partir da propaganda boca a boca, com clientes de todas as partes do Rio de Janeiro e do Grande Rio solicitando que novas lojas fossem abertas mais próximas às suas residências. Aos poucos, aprimoraram-se os temperos com maior diversidade de sabores, sempre primando pela qualidade dos produtos e serviços, no mais elevado padrão de higiene e produção artesanal realizada com carinho e amor. “Eu trabalhava das 6h45 até as 21h. Batalhei muito! Ia até o Cadeg escolher as melhores matérias-primas, me dedicava na produção das empadas, horas de madrugada preparando massas para vender no dia seguinte. Um legado para meus filhos”, conta Dona Alzira com orgulho e emocionada aos oitenta e tantos anos. “Não revelo a idade, mas já passei dos 80”, revela com sorriso no rosto.

Com a expansão gradual e cuidadosa da empresa, tendo em vista um crescimento forte e sustentável de longo prazo, a maior preocupação sempre foi, e ainda é, a manutenção da qualidade dos produtos. Por isso, as lojas que pertencem à rede de franquias Casa da Empada são abastecidas por sua Central de Produção, localizada no bairro de Maria da Graça, responsável pela confecção e distribuição de toda linha de empadas e salgados. Os produtos chegam prontos para irem ao forno das lojas, tornando a operação simples ao franqueado e garantindo um controle de qualidade mais efetivo por parte da franqueadora.

2 – Sálua Bueno, CEO do Grupo Amelie

Neta de imigrantes sírios, economista com mestrado na UFRJ, Sálua Bueno deixou a carreira, inclusive um doutorado no exterior, quando a cozinha a chamou. Com espírito empreendedor incorrigível, atuou como COO da Blumar, maior empresa de turismo receptivo do Brasil, onde ganhou know-how para iniciar voos próprios. Em 2014, criou o Amelie Creperie et Bistrot, no Shopping da Gávea, no Rio de Janeiro, um restaurante pioneiro no Brasil na culinária da região da Bretanha, localizada no oeste da França, e na sua principal iguaria, a galette, crepe fino feito à base de trigo sarraceno, elemento tradicional da localidade.

Não demorou muito para inaugurar, em 2017, unidades no Barra Shopping e no Botafogo Praia Shopping. Em 2020, mesmo com a pandemia, a empreitada cresceu, se reinventou na quarentena com o delivery de alta gastronomia, deu os primeiros passos no mercado de franquia e se transformou numa rede com 3 lojas próprias e 3 franqueadas no Rio de Janeiro e em São Paulo, uma delas a primeira Dark Kitchen. Em 2021, o Amelie Creperie et Bistrot deve chegar a 10 unidades. Outra novidade do grupo, que será lançada este ano, é o Juliette, restaurante que alia sabor, charme, clássico, modernidade e acolhimento numa “embalagem” diferenciada, a partir das vivências nas incursões da empreendedora mundo afora, para levar uma experiência gastronômica cosmopolita.

3 – Liana Segal, CEO da healthtech Espaço Médico Brasil

Liana Segal inovou há mais de 20 anos ao criar o primeiro coworking dedicado exclusivamente aos profissionais da saúde, o Espaço Médico Brasil, no Rio de Janeiro. A pandemia veio, mas não assustou a empresária, que decidiu investir na ampliação do negócio por meio da tecnologia. Do coworking médico, tornou-se uma empresa de soluções tecnológicas na área da saúde, uma healthtech, disponibilizando franquia, telemedicina, sistema de marcações de consultas, call center e, mais recentemente, um hub de consultórios nunca visto no mercado. Este último se trata de uma plataforma online que permite o intercâmbio de médicos em busca de um espaço para atender e clínicas com consultórios bem montados disponíveis para locação por período a um bom custo-benefício, de forma a aproximar esses profissionais dos pacientes no endereço de sua escolha e com todo o suporte logístico e de marcação de consultas. Tudo isso a um investimento 90% menor do que as despesas com o próprio ponto. “A rotina do médico é intensa, trabalham em vários hospitais e clínicas, subutilizando o consultório e mantendo o custo com aluguel e assistente altíssimo. Manter essa estrutura ficou inviável para os profissionais da área”.

A empreendedora projeta que, até o fim de 2021, a plataforma impacte mais de 200 consultórios e 2 mil médicos, movimentando cerca de R$ 20 milhões anuais. No total, foram mais de R$ 100 mil investidos em 2020 na modernização do negócio. “Com 61 anos, dois filhos e três netos”, como costuma dizer, ela atribui à experiência trazida pelo tempo o fator fundamental para conseguir encarar desafios como o de 2020 de forma tão destemida. “Quando comecei a minha vida empresarial, aos 27 anos, sentia que a juventude não me trazia credibilidade. Hoje, adoro dizer a minha idade e ver que ela me empodera e autoriza minhas ações”, revela e completa: “Como mulher, mãe e avó, me vejo uma empreendedora mais amorosa nos negócios, com mais empatia, mas firme para atingir os objetivos”. A empresária ressalta, no entanto, que os anos de vida e experiência não podem ser um fator que crie uma zona de conforto no aprendizado e na capacidade de mudar e crescer. “Sonhos não podem envelhecer, nem a capacidade de inovar, se renovar e crescer. Eles devem, sim, amadurecer até que se tornem realidade. E o tempo precisa ser visto e usado como um parceiro nesse processo”.

4 – Izabelly Miranda, CEO da rede Cuidare

Após se formar em enfermagem, a potiguar Izabelly Miranda, de 31 anos, decidiu empreender criando a Cuidare em 2016, em Natal, projeto que começou ainda na faculdade a partir de uma carência, percebida por ela, de serviços de cuidadores qualificados e de forma humanizada. A empresa cresceu rapidamente e, após dois anos liderando o mercado local, Izabelly decidiu formatar a franquia da marca e dar oportunidade para outras mulheres empreendedoras – atualmente, as mulheres correspondem a 80% dos postos de liderança da rede. A marca se transformou numa das maiores redes de cuidadores do país, presente em 20 estados e no Distrito Federal, no Brasil, e em Lisboa, Portugal, com mais de 80 unidades, e operações em curso no Canadá e na Argentina. Com a pandemia do novo coronavírus e as regras de isolamento social, a procura pelos serviços da rede aumentou em 30%. A franqueadora precisou ajustar toda a cadeia de operação e a gestão da rede à logística dos cuidadores. Para tal, desenvolveu um software para ajudar no gerenciamento das suas unidades, que integra, por exemplo, um sistema de ponto de funcionários via celular por geolocalização, gerando relatórios com horários exatos, número de dias trabalhados, faltas, atestados, salário base, entre outros itens. “Mudamos imediatamente a logística dos nossos cuidadores, que não puderam mais fazer trabalhos extras e ficaram restritos a apenas um idoso. Além disso, desenvolvemos e lançamos uma cartilha de procedimentos para garantir a segurança dos assistidos”, completa Izabelly. Todas essas medidas impactaram positivamente não apenas para que a rede conseguisse dar conta da demanda crescente, mas também no faturamento de 2020, que foi 30% maior. Trata-se de uma microfranquia e o franqueado fica responsável pela seleção, treinamento, coordenação, supervisão e encaminhamento da sua equipe de cuidadores qualificados (todos com curso de técnico de enfermagem), além de fazer a intermediação entre quem procura o serviço e o profissional especializado.

5 – Nadia Benitez, CEO da rede Ginástica do Cérebro

A história de empreendedorismo da paranaense Nadia Benitez desafia todos os prognósticos, prova de que perseverança, estudo e uma boa dose de ousadia são ingredientes fundamentais para alcançar os objetivos. Natural de Foz do Iguaçu (PR), ela desejava, desde muito cedo, abrir o seu próprio negócio, ainda que não tivesse qualquer histórico do tipo na família. Foi assim que, em 2011, tornou-se franqueada, em parceria com o marido, de uma marca do ramo da educação, a Tutores. A empreitada deslanchou, sendo premiada como uma das melhores unidades da rede em todo país. Nadia então voltou para a sala de aula e começou a fazer uma especialização em neuropedagogia com o objetivo de se aprofundar no processo de aprendizado dos alunos. Foi aí que começou a desenvolver o projeto do curso de neuroaprendizagem “Ginástica do Cérebro”. Em pouco tempo, o negócio virou franquia, se desenvolveu como rede e se consolidou como referência em estimulação cognitiva.

Com a pandemia do novo coronavírus, veio o desafio de rever projetos e se reinventar diante do momento. Como manter o funcionamento das unidades em tempo de isolamento social e consequente paralisação das aulas presenciais? A empresária, que também é psicopedagoga, desenvolveu com sua equipe um plano de ação para evitar a perda de aprendizado e evasão dos seus alunos, na maioria, idosos. Entraram em cena as aulas online, o que manteve as atividades para antigos e novos alunos e também ajudou na inclusão digital dos mais velhos. A estratégia de sobrevivência virou janela de oportunidade para o crescimento do negócio mesmo num momento tão delicado como o atual. Com o sucesso da nova empreitada e o aumento da demanda de novos alunos, Nadia decidiu criar um novo modelo de franquia para atender a essa nova realidade aos potenciais empreendedores também. Trata-se de um formato de microfranquia móvel, com aulas domiciliares e suporte online, para quem deseja ter o seu próprio negócio e gerar renda mesmo na crise, em especial, em cidades pequenas.

A rede conta atualmente com 20 unidades físicas em 10 estados. A expectativa da empresária é iniciar mais 20 operações nos novos formatos no primeiro semestre, impactando em R$ 1 milhão no faturamento da marca, que fatura cerca de R$ 2 milhões anuais. Além da dedicação ao negócio, Nadia é palestrante e promove encontros para incentivar o empreendedorismo feminino.

6 – Mariza Gottdank, CEO da rede Dank Idiomas

Com 20 anos de atuação como professora em escolas de idiomas, Mariza Gottdank decidiu empreender em 2010 ao criar uma consultoria de idioma para empresas com funcionários em dificuldade para aprender inglês, a Dank Language. A empreitada evolui para conquistar novos públicos e a educadora desenvolveu para o seu negócio um método diferenciado: um blend de atividades unindo softwares de correção de pronúncia às técnicas de desbloqueio da conversação. Com o sucesso do método, a marca virou Dank Idiomas e foi transformada em franquia em 2018. A aposta passou a ser no modelo de ensino a distância, neste caso, no modelo de escola móvel, com material digital e impresso que, com base em compartilhamento de telas oferecido por plataformas de videochamada, permite ao franqueado oferecer aulas em qualquer lugar, seja em casa, empresas ou até em um café, sem necessidade de instalar-se em ponto comercial e fazendo a sua própria rotina. Nos dois primeiros anos, foram vendidas 3 franquias, mas foi em 2020, durante a pandemia do novo coronavírus, que a empreendedora viu a sua rede disparar: foram 11 novas unidades, sendo duas no exterior, no Uruguai e no Canadá. No Brasil, está presente em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Goiás. Já a procura de alunos aumentou em 30%. “Por ser uma microfranquia com investimento inicial de apenas R$ 7,5 mil, tornou-se uma oportunidade – entre professores, em especial – para empreender num momento de retração do mercado de trabalho e sem sair de casa”, explica.

Para 2021, a empresária diversificou o leque de serviços. “Percebi que houve muita demanda para aulas online e o aumento da concorrência nesse formato. Cheguei à conclusão de que precisávamos ir além com um novo diferencial. E ele veio a partir dos cursos técnicos de idiomas que desenvolvemos com foco em diversas profissões, como comércio, hotelaria, direito e inglês básico para quem quer começar a trabalhar em escritório e precisa, por exemplo, atender ligações em inglês. Todos com material e método próprios: o ‘Inglês para Carreira’”, conta Mariza, que vai lançar ainda esse ano cursos de inglês para entrevistas de emprego, na medicina, para comércio exterior e português básico para negócios, este para estrangeiros que se inserem no mercado brasileiro.

7 – Monique Rodrigues – CEO da rede Clinicão

Com 27 anos no mercado, a Clinicão é a primeira franqueadora de serviços veterinários do Brasil. Comandado pela carioca Monique Rodrigues, o processo de criação do negócio começou em 1987, quando ela foi aprovada no vestibular para veterinária na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Em 1993, inaugurou a sua primeira clínica, em Guaratinguetá (SP), e inovou com procedimentos que se tornaram tendências no atendimento aos pets em sua primeira unidade, localizada no município de Guaratinguetá (SP). Com o apoio do Sebrae e muito estudo, fez da clínica uma referência e ingressou no franchising com o propósito de desenvolver veterinários empreendedores. Isso porque um aspecto marcante no negócio é que, além do suporte padrão de uma franqueadora para a franqueada, Monique, que também tem MBA em Gestão Empresarial e Economia, dá todo o suporte para o franqueado ou a franqueada – em geral, profissional da área da saúde – na sua formação e preparação para administrar um negócio. “Sei das dificuldades por experiência própria. Quando criei a clínica, foi bem complicado, pois, na faculdade de veterinária, não tive nenhum aprendizado na área de gestão. No mercado pet se verifica, infelizmente, um baixo grau de profissionalismo nas diferentes áreas. Graves problemas de gestão são comuns nos empreendimentos, fazendo com que bons técnicos não atinjam os resultados esperados ou não evoluam profissionalmente”. O sonho ganhou forma, nasceu e cresceu, transformando-se numa rede com unidades nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Em 2020, mesmo com a pandemia, a Clinicão cresceu 30%, faturou R$ 2,5 milhões e o plano de expansão é abrir mais 12 novas clínicas na região Sudeste até o fim do ano. Na linha da inovação, acaba de lançar a “Clinicão Plus”, assessoria virtual com conteúdo ilimitado e exclusivo para o pet e tabela diferenciada nos serviços de todas as unidades da rede. A assinatura da “Clinicão Plus” pode ser feita por meio de pacotes mensal, trimestral, semestral e anual, com valores a partir de R$ 29,90.