Empreendedorismo: As hortaliças, flores e árvores que nascem do lixo

Você percebe que a data do evento já passou, rasga o convite em vários pedacinhos e dispensa tudo na lixeira, que por acaso acabou de ser lavada e ainda tem gotas de água no fundo. Alguns dias depois, leva um susto ao perceber que, dos pedacinhos de papel, brotaram várias plantinhas. A cena é totalmente possível se o material em que foi impresso o convite for um papel chamado Paper Plant. 

Com esta ideia, Raysa Liandra, 24 anos, e Lília Tenório, 38 anos, conquistaram o primeiro lugar na categoria Indústria da Feira Nacional de Empreendedorismo (FNE), evento do Centro Brasileiro de Cursos (Cebrac). As vencedoras são alunas do curso profissionalizante Assistente Administrativo Completo da unidade do Cebrac de Caruaru (PE), a 160 quilômetros de Recife. “O professor fica babando quando vê uma situação dessas” celebra José Marcone da Silva, orientador de Raysa e Lília no trabalho. “Isso traz muita satisfação, é muito bom.” 

Raysa e Lília se formaram em fevereiro e, no período do curso – que dura um ano e meio – criaram a própria empresa na escola. A iniciativa, segundo o professor José Marcone da Silva, faz parte da metodologia da instituição, que não por acaso também oferece aos seus alunos um curso específico sobre empreendedorismo, estimulando os estudantes a desenvolverem esse tipo de projeto.  

Nesse caso, a experiência evoluiu e virou uma empresa de verdade, em pleno funcionamento. Raysa e Lília hoje são sócias e trabalham no desenvolvimento e na divulgação da Paper Plant. 

Sementes são acrescentadas no processo de reciclagem 

O Paper Plant é um papel reciclado. Raysa e Lília recolhem material que normalmente vai para o lixo e, com ele, produzem no liquidificador uma espécie de polpa, uma massa úmida de celulose. A massa é moldada novamente na forma de folhas de papel. Nesse momento, são acrescentadas as pequeninas sementes, que podem ser de hortaliças, de flores e de árvores.  

Uma camada de papel reciclado, outra de sementes e, por cima, outra folha de papel. O material é bem prensado. Depois, é só deixar secar, e pronto: nasce uma folha de papel que pode ser plantada! 

As folhas são um pouco mais grossas do que o normal, tem algum relevo, e podem ser usadas para a confecção de etiquetas, cartões de visita, folders, convites e outras aplicações. O único detalhe é que tinta da impressão deve ser à base de água, pois se não for a germinação fica prejudicada. 

Dependendo da semente, a durabilidade pode variar entre seis meses e um ano. A forma mais assertiva de plantar é somente molhando o papel, o que facilita a germinação. Mas também pode-se enterrar o papel picado e molhá-lo, mas neste caso a camada de terra deve ser bem superficial.

Participação em premiação internacional, no Equador 

No fim de agosto, o projeto participou do Prêmio Latinoamérica Verde, no Equador. O evento é uma promoção da Associação de Ações para a Economia Verde, que tem a chancela do governo do Equador e busca promover projetos relacionados à sustentabilidade.  

Neste ano, foram inscritos 2.728 trabalhos de 38 países, e o Brasil participou com 10 projetos. O trabalho de Caruaru ficou entre os 500 melhores.