Empreendedoras comemoram o Dia Internacional da Mulher mostrando que a luta não acabou

A situação da mulher no mercado de trabalho piorou durante a pandemia devido principalmente ao fechamento das escolas. Porém, aos poucos e se reinventando cada vez mais, elas estão retomando os seus lugares

Lucilaine Lima, fundadora do Instituto Gourmet Crédito da foto: Fábio Seixo

A pandemia da Covid-19 impactou a economia brasileira sob diversas perspectivas. A situação das mulheres no mercado de trabalho, por exemplo, piorou ao longo do ano passado, uma consequência bastante considerável frente às conquistas delas até hoje. Nesse 08 de março, dia em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, empreendedoras à frente de franquias mostram que a luta não acabou e que o mercado de trabalho para as mulheres precisa voltar a se refazer.

Segundo dados mais recentes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o percentual de mulheres que estavam trabalhando ficou em 45,8% no terceiro trimestre de 2020, o nível mais baixo desde 1990, quando a taxa ficou em 44,2%. Ao comparar o terceiro trimestre de 2020 com o mesmo período de 2019, a queda na parcela de mulheres que estavam no mercado de trabalho foi de 7,5 pontos percentuais (de 53,3% para 45,8%). O retrocesso foi menor entre os homens, de 6,1 pontos percentuais (de 71,8% para 65,7%).

Com histórias de sucesso, essas mulheres donas de grandes redes contam como a pandemia tem impactado não só a rotina pessoal e profissional, como também, sobretudo, a vida das colaboradoras de suas redes e como elas estão contornando os desafios.

Segundo Lucilaine Lima, fundadora do Instituto Gourmet, as brasileiras perceberam o impacto da pandemia em suas vidas e precisaram se readaptar a uma nova rotina. Isto foi necessário para que tudo se mantivesse em ordem e todos em segurança. Ela reforça ainda que, mais uma vez, as mulheres uniram suas forças em grupos, nas redes sociais e de outras formas possíveis para compartilhar suas experiências e desafios. Desta forma, trocaram boas práticas do dia a dia conseguindo, portanto, com sucesso, atravessar este momento atuando com ideias criativas, conselhos e acalentos em todos os momentos que houve necessidade.

Com relação aos desafios diários neste período, a empreendedora conta que a forma como recebemos cada um deles e como os conduzimos, faz a diferença. “Os meus desafios foram os de quase todas as brasileiras: das tarefas domésticas, do ensino, de exercer o papel de mãe, esposa, empresária, entre tantas outras faces que diariamente nos desdobramos para exercer e nos esforçamos para sermos assertivas, além de produtivas. Contornar esses desafios como base de aprendizado e torná-los legado. Trazer um olhar diferente e tirar valiosas lições diante do contexto vivenciado, foi a solução que encontrei para que eu não vivesse o caos. Assim, a pandemia passou a ter ares mais leves, trouxe muitas reflexões e crescimento”.

Para Vanessa Ban, fundadora da SuperGeeks, trabalhar home-office não foi uma grande novidade, pois ela já atuava desta maneira para poder dividir o seu tempo entre as tarefas da empresa e da maternidade. Porém, a quarentena mudou sua rotina, principalmente agora sem o suporte da escola para contar. “Ter uma criança de 4 anos, cheia de energia, o dia inteiro dentro de casa e conciliar com o trabalho não é nada simples. Tive que explicar à minha filha o que estava acontecendo e criei uma tabela de atividades, incluindo tempo para brincar e estudar e assim fui me organizando”.

Ela conta que durante a quarentena deixou praticamente todas as suas colaboradoras em home-office, flexibilizando horários e auxiliando-as ao máximo que conseguia. “Empatia é a palavra do momento, principalmente para nós mulheres que acumulamos cada vez mais funções para exercer”, salienta.

Michelle Whady, uma das fundadoras da Fast Escova – rede de beleza – conta que sofreu bastante as consequências do isolamento em seu negócio. “A maioria das nossas clientes, tiveram que ficar em casa com seus filhos, pois antes contavam com a ajuda da escola para poderem trabalhar e ter esses momentos de cuidados consigo mesmas. Nossas funcionárias também sofreram com a situação, porque tiveram que encontrar alguém para cuidar de seus filhos e outras tiveram que deixá-los com familiares em casa para conseguirem colocar comida na mesa. A falta de escolas e creches foi um agente muito significativo para o impacto da atuação das mulheres neste momento de pandemia”, relata.

Outra empreendedora do segmento de beleza é Kelly Nogueira, CEO da Espaço Nails. Durante a quarentena decretada pelo governo estadual de São Paulo e devido ao fechamento dos shoppings, as colaboradoras das unidades da marca tiveram que permanecer em suas residências para se protegerem do vírus.

“Quando soube que todas as minhas unidades próprias e franqueadas seriam fechadas por conta de decisão governamental, não tinha o que fazer a não ser cumprir as instruções de isolamento social. Passei quatro meses com meus filhos, irmã e sobrinhas em minha casa. Sem faturamento, sobrevivi com as reservas que tinha e continuei trabalhando na expansão da Espaço Nails via WhatsApp. Consegui fechar alguns contratos tendo em vista que os shoppings flexibilizaram valores de CDU e aluguel para novos lojistas”.

Kelly conta que houve momentos em que entrou em desespero por temer o que viria com a retomada, afinal o que aconteceu tinha sido algo inédito. Foi então, durante esse período, que ela teve a ideia de criar uma nova marca, a Espaço Make by Kelly Nogueira, em formato de quiosques. Pensando que muitas mulheres seriam desligadas de seus empregos, ela criou um modelo de negócio a preço popular, maquiagens de marcas variadas com custos que vão até R$ 20, gerando oportunidade e empregos.

Afinal, o mercado de trabalho para a mulher vai se refazer?

A dúvida que fica para todas as mulheres que tiveram que se desdobrar para conseguir dar conta da vida pessoal e profissional e lutar para não perder as conquistas que tiveram até agora é: qual será o futuro do mercado de trabalho para as mulheres, como ficará?

Para Lucilaine Lima, o mercado não irá se refazer e a mulher fará isso acontecer naturalmente. “A mulher possuiu uma mente criativa, cheia de perspectivas e ideias que tornam o mercado cada dia mais inovador. Não tenho dúvidas de que, sempre que necessário, as mulheres terão força e criarão situações inusitadas para que sua vida pessoal, familiar, carreira, entre outras áreas, desenvolvam-se com muito sucesso”.

Histórias de sucesso inspiram em momentos difíceis

Casos repletos de desafios e que deram certo podem servir de inspiração, reflexão e motivação para momentos desafiadores como o vivenciado atualmente, do qual o denominamos Covid-19.

A trajetória profissional de Lucilaine Lima é uma entre as mais variadas que encontramos, com casos reveladores do quanto as mulheres lutam para conciliar maternidade e trabalho de uma maneira admirável.

Formada em biologia, a empresária teve a ideia de criar o Instituto Gourmet em 2010, em Serra (ES), quando resolveu trocar as aulas que dava para estudantes do ensino médio pelas vendas de doces caseiros. O intuito era poder ficar mais perto de seu filho.

A idealização da rede veio após quase sete anos vendendo bem casados. Hoje o Instituto Gourmet é a maior rede de ensino em gastronomia do país, com mais de 80 unidades em funcionamento. No último ano a rede faturou cerca de R$ 60 milhões.

Já Vanessa Ban teve a ideia de criar a SuperGeeks em 2012, quando ainda morava no Vale do Silício (EUA) com seu esposo, Marco Giroto. Eles trouxeram o conceito para o Brasil e fundaram a SuperGeeks em 2014. A SuperGeeks atende crianças e adolescentes entre 05 e 17 anos, que fazem cursos para aprender Ciência da Computação. A rede tem mais de 5 mil alunos matriculados e 50 unidades em operação no país, além da expansão internacional, em Portugal.

Michelle Whady, que passou por uma grande e transformadora luta pela vida, encontrou na própria trajetória, motivação e inspiração para enfrentar esse momento de pandemia. A empresária foi diagnosticada com câncer no estômago e em 2013 precisou retirar 100% do estômago e mesmo com a previsão pessimista dos médicos que só teria mais seis meses de vida, surpreendentemente se curou enquanto aguardava a confirmação do tratamento com quimioterapia após a cirurgia, do qual, felizmente não precisou fazer.

Todo aprendizado e bagagem que viveu no período de tratamento contra o câncer, entre outras experiências, como ter sentido na pele o desemprego em 2017, foram ferramentas fundamentais para que a fizeram esboçar um dia junto com sua amiga e sócia, Marcia Queiroz, a Fast Escova.

A marca oferece serviços de escova, make e tranças estilosas que são realizadas com perfeição e o conhecimento de especialistas com no máximo 40 minutos. Também não é necessária hora marcada e o preço é fixo e justo. Além disso tudo, também assinam uma linha de produtos para o cuidado e tratamento dos cabelos, dessa forma, suas clientes podem estender os cuidados em casa. Hoje com apenas dois anos de franchising, a Fast Escova já conta com 100 lojas espalhadas pelo país e a expectativa é que até o final do ano cheguem a 150.

Já Kelly Nogueira, que foi policial militar e que com o tempo ficou em dúvida sobre sua carreira devido o salário que recebia e os riscos da profissão. Ela também enfrentava um relacionamento abusivo com seu ex-namorado, que sempre a menosprezava, dizia que ela nunca seria ninguém e que não pegava em suas mãos porque dizia sentir nojo, ela tinha suas unhas roídas.

Por um longo tempo, Kelly sofreu em silêncio até que alguma coisa a fez despertar e colocar um ponto final na relação. Com isso, ela decidiu pegar o que a mais a machucava e transformar em força, pediu afastamento da Polícia Militar e investiu no negócio rentável das unhas de gel. Hoje as duas empresas contam com 25 unidades presentes em diversos shoppings da cidade de São Paulo e apresentam um faturamento de quase vinte milhões de reais por ano.