Com uma receita de R﹩ 186 bilhões, o franchising brasileiro possui mais de 160 mil unidades em operação com 1,358 milhão de empregos diretos, estando presente em mais de 40% dos municípios brasileiros. Esses dados refletem a realidade do setor em 2019, ou seja, antes da pandemia de Covid-19. Passados quase dois meses das principais restrições, a ABF – Associação Brasileira de Franchising projeta um cenário desafiador nos próximos meses com uma redução de até 15% das unidades franqueadas e uma redução de 200 mil postos de trabalho diretos.
“O setor agiu rápido: digitalizou operações, fortaleceu operações de e-commerce e delivery e até desenvolveu novos produtos e serviços. Porém, estas ações não serão suficientes para compensar integralmente os severos impactos econômico das políticas de isolamento social, a queda da confiança dos consumidores e da renda. Com isso, nossa expectativa é que o setor demore pelo menos dois anos para retornar aos níveis pré-crise. No caso das unidades em shoppings, o impacto é ainda maior, pois a operação foi quase completamente interrompida”, afirma André Friedheim, presidente da ABF.
Para enfrentar este cenário, a entidade propôs a seus associados – que respondem por mais de 80% do faturamento do setor – ações como a criação de comitês de crise com a participação de franqueados, a isenção ou suspensão das taxas típicas do sistema de franchising durante a pandemia, alargamento de prazos de pagamento, renegociação conjunta com fornecedores, dentre outras. “É neste momento que vemos a importância do sistema de franchising para pequenos e médios empreendedores. A negociação de taxas de royalties e pagamentos de produtos acaba sendo o primeiro financiamento que o franqueado tem e de forma muito ágil. Ele tem acesso também as ações conjuntas da rede para manutenção dos negócios, negociação com fornecedores e bancos e uma rica troca de experiências com a franqueadora e com outras franqueados, o que faz toda a diferença em um momento como este”, explica André Friedheim.
Representando cerca de 40% das lojas satélite e das unidades em praças de alimentação, as franquias enfrentam desafios extras nos shoppings também. Quase 400 centros estão fechados, sendo que muitos sequer permitem o ingresso dos franqueados às instalações ou a realização de estratégias omnichannel. Neste sentido, a ABF junto a outras entidades do varejo tem conversado intensamente com empreendedores e entidades do setor de shoppings, principalmente a ABRASCE – Associação Brasileira de Shopping Centers.
Na última reunião com esta entidade, realizada recentemente, a ABF formalizou um conjunto de propostas que inclui:
- • Cobrança do aluguel apenas com base em um percentual acordado sobre o faturamento efetivo, de acordo com cada contrato até final de 2020
- • Cobrança do aluguel mínimo no ano de 2021 a razão do fluxo do Shopping comparado aos mesmos meses de 2019
- • Não cobrança do 13º aluguel nos anos de 2020 e 2021
- • No caso dos Quiosques, seguir a mesma lógica das Lojas, mas ficando definido um aluguel percentual de, no máximo, 5% sobre o faturamento efetivo
- • Omnichannel: cobrança de aluguel de metade do percentual estabelecido sobre o faturamento obtido (líquido dos valores pagos aos canais digitais) e desde que a entrega final ocorra nas dependências do shopping
- • Isenção do pagamento do fundo de promoção até Dez/2020 enquanto não forem retomadas as atividades de comunicação, exceto por despesas já contratadas ou custos fixos do fundo de promoção
- • Redução das despesas condominiais, de forma permanente, com base no cobrado ao longo de 2019 em, pelo menos, 30%
- • Flexibilidade para abertura ou não da unidade, não só com relação a dias, mas horários de funcionamento, sem incidência de multa, pelo menos até que o shopping retome um fluxo equivalente a 70% do fluxo médio do shopping em 2019
- • Isenção da cobrança de taxas de transferência no corrente ano para operações de franquias em caso de repasses
- • Rescisão dos contratos de locação de unidades franqueadas, sem multa, até dezembro de 2020
- • Compromisso de não ajuizamento de ações de despejo até dezembro de 2020. Em contrapartida, a ABF irá orientar seus associados à não ajuizarem ações revisionais
A ABF sugeriu ainda ao setor de shoppings a realização conjunta de ações como o apoio a discussão de uma Medida Provisória que proteja a sucessão fiscal, trabalhista e comercial nos casos de repasses usando a mesma marca no ponto comercial; o planejamento conjunto da reabertura gradual dos shoppings; a discussão junto ao Governo Federal da criação de uma linha de crédito, a fundo perdido, para quitação dos condomínios até Dez/2020; criação de uma feira permanente em cada shopping com apoio da ABF e um portal de negócio online entre as entidades; instalações de hubs de logística regional para entregas e a criação de um grupo de trabalho entre franqueadores e empreendedores para discutir vários aspectos da relação lojista – empreendedor.
“A ABF enxerga uma união potencial dos setores para enfrentamento da crise no longo prazo e não apenas nos próximos meses. Queremos promover uma colaboração mais próxima para sobrevivência do pequeno e médio franqueado e de franqueadores, sempre buscando o diálogo e acordos de interesse mútuo, incluindo pequenos shoppings e empreendimentos regionais”, conclui o presidente da ABF.