Após três quedas consecutivas, a proporção de famílias paulistanas endividadas subiu em março. No mês, 50,2% das famílias declararam ter algum tipo de dívida, alta de 1,7 ponto porcentual (p.p.) na comparação com fevereiro. Em relação a março de 2016, quando essa parcela era de 51,6%, houve queda de 1,4 p.p.. Em números absolutos, o total de famílias endividadas passou de 1,873 milhão em fevereiro para 1,941 milhão em março, sendo que em março de 2016, esse número era de 1,979 milhão. Comparando março, ano a ano, a redução de famílias endividadas foi de 38 mil. Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), realizada mensalmente pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
Segundo a assessoria econômica da Federação, depois do uso dos recursos adicionais do décimo terceiro salário para quitar as dívidas era natural que o número de famílias endividadas voltasse a subir. A Entidade ressalta, porém, que este patamar ainda é inferior ao registrado no mesmo período do ano passado, refletindo ainda o conservadorismo dos consumidores que, diante da crise econômica e do receio do desemprego, estão avessos à tomada de crédito.
Na segmentação por renda, o endividamento é maior dentre as famílias que ganham até dez salários mínimos. Para este grupo, o porcentual de endividados em março foi de 54,6%, alta de 1,8 p.p. em relação ao mês anterior, quando 52,8% pessoas estavam endividadas. Para as famílias com renda superior a dez salários mínimos, a proporção de endividados foi de 37,6% em março, alta de 1,7 p.p. em relação a fevereiro (35,9%).
Do total de famílias endividadas, 47,3% delas afirmaram comprometer entre 11% a 50% da sua renda com o pagamento de dívidas. Já para 27,6% das famílias, o comprometimento com o pagamento de dívidas é menor que 10%, enquanto que para 21,9% das famílias endividadas esse comprometimento é superior a 50% da renda.
Inadimplência
A inadimplência também voltou a subir e atingiu 17,5% em março, alta de 1,0 p.p. na comparação com fevereiro. Em relação ao mesmo período do ano passado, a proporção de famílias com contas em atraso caiu 0,9 p.p., quando registrava 18,4%. Já a proporção de famílias que não terão condições de pagar as contas no próximo mês subiu pelo terceiro mês consecutivo, passando de 8,4% em fevereiro para 8,7% em março, o maior patamar desde outubro de 2006 e é 2,0 p,p. superior ao registrado em março de 2016, quando 6,7% das famílias declararam estar nessa situação.
Para os consumidores com contas em atraso, 56,2% deles afirmaram ter contas vencidas a mais de 90 dias; 23,5% têm contas atrasadas entre 30 e 90 dias; enquanto que 19,5% do total de famílias estão com dívidas por até 30 dias.
A ocorrência de contas em atraso foi maior dentre as famílias com menor renda, proporcionalmente às famílias de renda mais elevada. Segundo a FecomercioSP, para esta faixa da população, onde qualquer imprevisto pode desequilibrar suas finanças, o crédito representa um importante meio de inclusão nos padrões de consumo e é a única forma de acesso a esses padrões.
Para as famílias com renda de até dez salários mínimos, a proporção de contas em atraso subiu 2,1 p.p., ao passar de 21,2% em fevereiro para 23,3% em março. Já no caso das famílias com renda superior a este montante, o porcentual passou de 5,7% para 4,6% no mesmo período.
Tipos de dívida
O principal tipo de dívida continua sendo o cartão de crédito, que foi utilizado por 70,5% das famílias paulistanas em março. Em seguida, os carnês (13,9%), financiamento de carro e casa, ambos com 12,2%, crédito pessoal (11,0%), cheque especial (7,1%) e crédito consignado (4,6%).
Metodologia
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) é apurada mensalmente pela FecomercioSP desde fevereiro de 2004. A partir de 2010, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) comprou a pesquisa da FecomercioSP, que passou a analisar os dados nacionalmente. A Federação continua divulgando os dados de São Paulo, alinhados com a data de divulgação da PEIC nacional pela CNC. Na capital, são entrevistados aproximadamente 2,2 mil consumidores.
O objetivo da PEIC é diagnosticar os níveis de endividamento e de inadimplência do consumidor. Com base nas informações coletadas, são apurados importantes indicadores: nível de endividamento, porcentual de inadimplentes, intenção de pagamento de dívidas em atraso e nível de comprometimento da renda. Tais indicadores são observados considerando duas faixas de renda.
A pesquisa permite o acompanhamento do nível de comprometimento do comprador com as dívidas e sua percepção em relação à capacidade de pagamento, fatores fundamentais para o processo de decisão dos empresários do comércio e demais agentes econômicos.