Redes continuam vendendo franquias em meio à crise

Os últimos meses foram totalmente atípicos no país e, como não podia ser diferente, o setor de franquias viu seu faturamento encolher 48,2%, segundo dados recém-divulgados pela Associação Brasileira de Franchising (ABF). Os segmentos mais afetados foram turismo, entretenimento, alimentação e saúde, beleza e bem-estar, consequência das medidas de isolamento social adotadas por todos os estados do país.

A boa notícia é que todo mundo sabe que a situação é passageira. Claro que os impactos da crise causada pela pandemia do novo coronavírus vão se estender ainda por alguns meses, e já se espera retração de 5% no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2020, segundo previsões do Banco Mundial. Ainda assim, haverá uma recuperação, mesmo que gradual.

Nesse cenário, de crise hoje e perspectiva de retomada em um futuro próximo, investidores têm visto uma oportunidade: investir em franquia. “O investidor, hoje, enxerga o cenário por dois prismas: receio e oportunidade. É um binômio que está presente na conversa com qualquer candidato a franqueado no atual momento”, afirma Eduardo Murin, diretor de expansão do CNA, uma das maiores redes de ensino de idiomas do país.

O receio a que se refere Murin tem relação direta com a incerteza do atual momento. Já a oportunidade está em condições vantajosas apresentadas pelas redes de franquias no atual momento e ao fato de, ao optar por uma franquia, o empreendedor já estrear no mercado com todo o know-how trazido pela franqueadora – um diferencial em um momento de crise.

“Este difícil momento que vivemos mostra mais uma vez as vantagens de empreender dentro do sistema de franchising”, comenta André Friedheim, presidente da ABF. “Não que nossas unidades estejam imunes, mas elas têm mais estrutura e acesso a conhecimentos e experiências para reagir mais rapidamente às adversidades.”

Diante desses fatores, algumas redes estão registrando procura de interessados em abrir novas unidades e concretizando negócios mesmo em meio à crise.

A Oral Unic, rede de clínicas odontológicas premium fundada em Santa Catarina, assinou 16 contratos para novas franquias entre março e junho deste ano. Vale destacar que são franquias de alto investimento, a partir de R﹩ 900 mil. Atualmente, a Oral Unic tem 70 unidades em operação.

Mesmo em um cenário de crise, além de conseguir expandir, a rede lançou uma nova franquia, a Face Unic, de clínicas especializadas em harmonização orofacial. A nova marca com conceito boutique tem três unidades-piloto em operação e agora começa a expansão por franquias. O investimento inicial no negócio é a partir de R﹩ 370 mil. “Após um período de avaliação e sucesso das operações começamos agora a expansão por franquias”, afirma Nadim Farid, fundador da Oral Unic e da Face Unic. Desde que foram inauguradas, as unidades-piloto têm alcançado faturamento progressivo e hoje registram receita mensal de R﹩ 120 mil. O plano de expansão contempla todo o Brasil. “Por enquanto só não vamos entrar em grandes capitais, como São Paulo e Belo Horizonte”, diz Nadim.

No setor de franquias de educação, que ao contrário da economia do país cresceu 3,5% no primeiro trimestre do ano, segundo dados da ABF, a rede de ensino de idiomas Rockfeller Language Center assinou seis contratos de novas franquias durante o período da quarentena. Dentre esses, quatro foram assinados com executivos de grandes empresas que, devido às incertezas do momento, resolveram se antecipar investindo no próprio negócio. Hoje, a Rockfeller Language Center tem 62 unidades em operação e 12 para serem inauguradas. Até dezembro, a rede busca chegar a 120 unidades pelo Brasil.

Para André Belz, um dos fundadores da Rockfeller Language Center, a procura por novas franquias da rede tem relação com o fato de a marca ter se adaptado ao ambiente remoto de aprendizagem em tempo recorde no setor de idiomas. Em menos de cinco dias os alunos estavam com aulas no ambiente digital quando o isolamento social foi decretado. Isso foi possível porque a Rockfeller Language Center é uma empresa nativa digital e já usava tecnologia em sala de aula. “Conseguimos transportar a mesma aula da escola física para o ambiente remoto”, destaca Belz.

Diante disso, a taxa de frequência de alunos aumentou durante a pandemia e candidatos a franqueados continuam procurando a marca para investir. “É importante avaliar, antes de investir, como uma empresa se sai em momentos difíceis como o atual que estamos vivendo”, comenta Belz.

Já a rede de escolas de idiomas CNA, desde o começo da quarentena até o momento, registra sete revendas (quando uma franquia em funcionamento é repassada a um novo franqueado), sete viradas de bandeira (quando o franqueado migra de marca) e nove novas escolas. “É um resultado que superou nossas expectativas”, diz Murin.

Para atrair novos franqueados, o CNA desenhou novas condições de negócio. Criou, por exemplo, uma cota de apoio que chega a R﹩ 150 mil em material didático bonificado, projeto arquitetônico e kit inicial, além de oferecer 50% de desconto na taxa de franquia. “E, muito importante, retiramos algumas travas contratuais. Isso significa que flexibilizamos as exigências, tirando todo o peso (e o receio) do novo franqueado”, afirma Murin.

Como hoje o maior medo de quem quer investir em uma franquia é um possível agravamento da crise ou a incerteza de até quando ela irá durar, o CNA retirou a multa contratual para o novo franqueado que não inaugurar a escola nas datas inicialmente previstas e até para quem decidir cancelar a parceria. Assim, em caso de agravamento da crise econômica, até maio de 2021 o novo franqueado pode desfazer o contrato sem multa. Nos contratos assinados agora, a primeira data de abertura possível é outubro ou novembro deste ano, e a segunda, em maio de 2021, para quem preferir esperar.

“Claro que estamos incentivando a abertura das franquias ainda em 2020, porque queremos ser parte de um motor propulsor da economia brasileira, gerando empregos. Então, os novos franqueados que inaugurarem suas escolas ainda neste ano estarão isentos de 100% da taxa de franquia”, pontua Murin.

Para Denis Santini, professor do MBA em para franquias da FIA/Provar e CEO da MD | Make a Differente, grupo especializado em comunicação para redes de franquias e varejo, o apoio do franqueador contribui para a redução do risco de empreender em um momento de crise. “Vemos que algumas redes estão dando todo o apoio para seus franqueados, até se desdobrando, parcelando dívidas e oferecendo financiamentos. É importante olhar para essa resposta na hora de investir em uma marca.”