Mascateando pela cidade de São Paulo, batendo de porta em porta. Foi assim que Youssef El Orra recomeçou a vida no Brasil no final da década de 40. Libanês de origem desembarcou no país quase que por acaso, já que o navio desviou a rota. De ambulante virou dono de loja de tecido na Rua 25 de Março, reduto da colônia e, mais tarde, precisamente em 1952, abriu com o cunhado Said Darghan uma fábrica no bairro da Penha. Ali começou a produzir as colchas Persas. Foi já no comando da fábrica e disposto a fixar raízes no país, que Youssef El Orra se casou com a também libanesa Fatme El Orra. Da união nasceram sete filhos, quatro homens e três mulheres, entre eles Mahmoud El Orra, hoje com 47 anos.
“Meu pai era um comerciante nato e uma determinação muito clara de que os filhos primeiro cursassem uma universidade para depois, se fosse o caso, assumir os negócios da família”, afirma El Orra. Isso não significava, contudo, que os meninos não tivessem contato direto com a fábrica. Pelo contrário. Aos 10 anos, El Orra pegava o ônibus com os irmãos no Parque Dom Pedro em direção ao bairro da Penha. Enquanto os amigos jogavam futebol nas férias, ele e os irmãos ajudavam na fábrica, ora na expedição, ora na embalagem, mais adiante, na área comercial. Cresceram sabendo o valor do dinheiro. El Orra formou-se em engenharia têxtil, o irmão o mais velho Ahmed Chauki El Orra (56) em medicina e o mais novo Nassib El Orra em administração. Mahmoud estudou no Líbano e nos Estados Unidos, casou-se com a americana Susan El Orra e voltou ao Brasil 1994.
Ao lado dos irmãos, Mahmoud ficou responsável pela área industrial da fábrica. Acontecimentos suscetíveis fizeram parte dos desafios da família. Um assalto à mão armada deixou o pai muito ferido e foi à gota d´agua para ele sair de cena dos negócios. Youssef faleceu em 2004. Outra tragédia viria pouco tempo depois, perderam quase tudo em um incêndio no galpão da fábrica.
Mesmo com um pé nos negócios da família, Mahmoud El Orra estava certo de que construiria a própria estrada, teria o próprio negócio.
Foi quando atuou na Câmara de Comércio Brasil-Mauritânia, onde conheceu muita gente e se deu conta de que cargos políticos não eram para ele. Ao contrário, o sucesso vem quando se faz o que gosta. Em 2007, começou a fabricar fibras para enchimento de almofadas, travesseiros e estofados. A Pillowtex é hoje a única fábrica na América Latina, a produzir travesseiros, almofadas e enchimentos usando as quatro técnicas existentes no segmento – látex, micropérolas, visco elástico e fibra de poliéster.
Um empresário inquieto rumo à criação de mais um negócio
Visitando clientes nas grandes feiras de presentes, El Orra enxergou a oportunidade de fabricar almofadas de visco divertidas, o que deu origem à Zona Criativa, especializada em presentes bem-humorados com traços de design. O carro-chefe ainda hoje é a almofada de visco elástico, colorida, irreverente e com mensagens bem-humoradas.
O primeiro cliente foi a rede de varejo Papel Magia, no final de 2009. “Despachei uma almofada simples, com as palavras: Paz, Amor, Alegria, estampadas e escritas em japonês. Eles não só gostaram, como fecharam o primeiro pedido e se transformaram em nossa principal vitrine”.
Diferentemente da concorrência, a Zona Criativa apostou na verticalização, com criação, desenvolvimento e produção dentro de casa, o que lhe garantia uma qualidade aprimorada a um custo muito competitivo. “Ainda hoje nas almofadas ninguém bate o nosso preço”, declara El Orra. A necessidade de aumentar o mix de produtos levou o empresário a viajar para a China em busca de ideias e fornecedores de copos, canecas, porta-retratos, luminárias, entre outros itens, tudo, é claro, com cor, humor e mensagens diferenciadas.
Em 2013, já com a marca sólida, a estratégia foi expandir por meio de licenças da Marvel, Disney e Cartoon Network. Hoje, são 10 licenças, que respondem por 40% do portfólio. “O licenciamento nos permitiu fugir da sazonalidade das datas comemorativas e atingir o público apaixonado por jogos e personagens”, lembra. “São 2.500 itens, cerca de 500 lançamentos por ano e mais de 5.000 pontos de venda no país”.
Detentor da patente do cobertor com manga, produto que se tornou um dos carros-chefes da Zona Criativa, como bom descendente de libanês, El Orra não estava contente, queria mais. Mesmo com boa penetração no mercado, o empresário acreditava que se falasse direto com o consumidor final teria chances de crescer. A ideia era abrir lojas próprias e, em um futuro próximo, expandir via franquias. O desafio, contudo, era grande, afinal sustentar uma loja de varejo com uma única marca é difícil, já que o custo é alto e a conta nem sempre fecha. “Eu tinha muita experiência na indústria, mas praticamente zero de varejo”, ressalta. “Mas, ao mesmo tempo, queria estar mais perto do consumidor, a fim de que ele nos ajudasse a criar novos produtos.” Em 2012 abriu a primeira loja e, na sequência, outras três unidades, a maioria em shopping center, além do e-commerce. Os resultados não decepcionaram, mas, também, não foram suficientes para iniciar o processo de franchising.
Os quiosques Crazy4Mugs marcam sua entrada em franquias
Desistir? Jamais. Esse é um verbo que esse palmeirense fanático não sabe conjugar. A saída, aliás, estava dentro da própria loja. Dos mais de dois mil produtos da Zona Criativa, mais de 600 são copos e canecas. Versões únicas, divertidas, temáticas, que primam pela embalagem com cara de presente, pela qualidade e que agradam os chamados B2F (B2Fãs), consumidores que procuram produtos não pelo preço, mas para completar coleções. “Ninguém no Brasil tem uma linha tão completa e diferente como a gente”, reforça El Orra. Daí surgiu a ideia, no início de 2016, de criar a Crazy4Mugs, rede de quiosques de presentes especializada em copos e canecas, sem deixar de fora o sucesso de vendas, o famoso cobertor com manga.
São mais de 600 skus, que primam pela diversidade e qualidade das linhas, acabamento diferenciado, estampas únicas, formatos que variam do clássico aos de empunhadura que permitem o encaixe perfeito dos dedos, por exemplo. Os copos são um capítulo à parte. Além de coloridos, nos mais diversos temas, apresentam versões para os mais variados fins, inclusive para o preparo de misturas para práticas esportivas. Sem contar os personagens, de princesas a super heróis, passando por histórias em quadrinho, réplica de matérias de jornal e até clássicos do futebol. Tudo é muito lúdico, com estampas exclusivas que se reproduzem nas embalagens que, também, funcionam como presente. O cobertor com manga, um sucesso de vendas, explora as licenças dos personagens dos heróis da Marvel e outros temas. “Eu costumo dizer que é o universo dos sonhos. Se não dá para viver na Disney, por que não trazer um pouco daquela atmosfera para nossos quiosques?”, questiona. Foi o que ele fez.
A primeira unidade foi aberta no dia 11 de novembro do ano passado, no Internacional Shopping Guarulhos. A ideia é somar quatro pontos próprios até fevereiro de 2017 e aí, então, começar a franquear.
Serão três modelos de quiosques – 2mx3m, 2mx4m e 3mx3m – com preços entre R$ 88 mil e R$ 100 mil. A meta é fechar 2017 com 25 unidades e um faturamento de R$ 12 milhões. Em cinco anos, a rede projeta um volume de 250 pontos. “A opção pelo quiosque está diretamente ligada ao momento econômico do país, que pede investimentos mais enxutos, com retorno mais rápido, maior giro e rentabilidade”, afirma o empresário.
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