Ganhando cada vez mais espaço no mundo dos negócios, desde 2017 as mulheres superaram os homens na abertura de empresas e são maioria entre os trabalhadores com carteira assinada nos pequenos negócios, segundo pesquisa conduzida pelo Sebrae com a Global Entrepreneurship Monitor (GEM) e o Anuário do Trabalho nos Pequenos Negócios.
As mulheres representam 24 milhões de empreendedoras no Brasil, enquanto que os homens são 25,4 milhões. Ainda segundo a pesquisa, elas lideram entre os pequenos negócios iniciados nos últimos três anos e meio, com 14,2 milhões, enquanto que os homens somam 13,3 milhões de negócios abertos a pouco tempo. No entanto, quando o assunto é salário, as mulheres continuam com remuneração menor que os homens, mesmo desenvolvendo as mesmas funções, carga horária e ainda são mais escolarizadas.
Em busca de crédito
Além da desigualdade profissional, as mulheres enfrentam preconceito quando buscam atuar em áreas tradicionalmente masculinas, como é o caso do mercado financeiro, além de encontrarem dificuldades na credibilidade para conseguir crédito, ainda enfrentam problemas para trabalharem nessa área, o que torna enfrentar algo ainda mais desafiador em suas carreiras.
Elenice Costa Guerreiro, de 34 anos, já sentiu na pele o preconceito por ser mulher no trabalho. Ela conduz junto a seu esposo uma construtora em Birigui (SP) e por diversas vezes foi motivo de “olhares tortos” por trabalhadores que não acreditaram em suas habilidades. Para mostrar que sabia tão quanto ou bem mais que eles, ela buscou por conhecer a fundo os serviços que desenvolvia.
A jovem empreendedora conta que fez curso de designer de interior, além de técnica em porcelanato, pisos e assentamentos, estrutura e pintura. “Se eu tinha que cobrar um bom trabalho eu também tinha que saber fazer, assim quando os trabalhadores discutiam eu mostrava como fazia. Hoje eles me respeitam aonde chego, pois me colocam como igual ou até melhor que eles. Temos que procurar melhorar sempre. Bater de frente não resolve e o respeito é a melhor resposta deles”, enfatiza Elenice.
Novos desafios
Se no ramo de construção civil a mulher é discriminada, no mercado financeiro onde é possível observar mais homens trabalhando não é diferente. Porém Elenice venceu mais esse obstáculo.
Ela notou que com o crescimento do mercado imobiliário a busca por crédito para financiamento habitacional e verba para entrada e documentação também estava maior o que despertou sua atenção por esse nicho. Há quatro meses ela e o esposo conduzem um novo negócio e visualizaram na franquia Banneg – Banco de Negócios (rede com foco em soluções financeiras) a oportunidade de ter mais oportunidades em Birigui (SP).
“Um serviço complementa o outro e isso tem refletido no nosso crescimento”, enfatiza a empreendedora.
Assim como na construção civil, Elenice busca estratégias para alavancar as vendas ao oferecer os produtos financeiros. Estudou muito bem esse mercado, além de receber o respaldo da franqueadora no suporte para início da operação. A jovem afirma que a confiança ao oferecer o produto é essencial para conquistar o cliente, seja ele homem ou mulher.
“No Brasil ainda há muito machismo e preconceito quando uma mulher está a frente dos negócios, por isso a luta é diária para mostrarmos o quanto capacitada somos”, conclui Elenice, que além de cuidar de duas empresas, também divide seu tempo nos cuidados diários dos dois filhos.
Atualmente o Banneg conta com 124 operações, dentre essas, 40 mulheres estão a frente do negócio, onde 20 são franqueadas e 20 possuem parcerias com o marido e dividem a gestão.
Carlos Alexandre Gomes, diretor executivo da marca salienta que as mulheres destacam importante papel dentro da rede, já que elas são mais focadas, fazem planejamento, além de ter muita resiliência no mercado. “Aprendemos muito com elas, pois além de serem mais exigentes e detalhistas, principalmente em relação a parte administrativa, possuem excelência no atendimento e sobressaem em números de produção”, afirma.
O executivo acredita que esse cenário sobre o mercado de soluções financeiras, apesar de contar com pouca participação de mulheres, deverá mudar. “Até porque com o empoderamento feminino, elas estão empreendendo cada vez mais e buscam sempre se destacar. Inclusive oferecemos ferramentas, principalmente estudos online que possibilitam o franqueado, independente do gênero para alcançar sucesso na área financeira com muita rapidez”, diz Gomes.
Mulheres conectadas
Em 2013, Leila Batista da Silva resolveu investir em um negócio próprio na área de tecnologia. Por gostar de informática e sistemas de gestão, já que a vida toda trabalhou nessa área, ela viu que era hora de começar empreender, mesmo que para isso tivesse que começar do zero, principalmente para prospecção de clientes. Afinal, ela teria que mostrar que mesmo sendo mulher dominava o assunto como ninguém, já que o segmento de tecnologia enfrenta certo preconceito quando o assunto é mulheres atrás de uma tela de computador.
Foi na rede de franquias Gigatron Franchising que ela encontrou essa oportunidade. Hoje ela possui destaque dentro da franqueadora e é a franqueada mulher que mais se destaca dentro da rede, motivo de muitos elogios pelo diretor executivo da marca Marcelo Salomão. “Por muitos anos o mercado de tecnologia teve dominância masculina, mas esse número de investidores mulheres vem aumentando. A Leila é a prova de que para ser bem sucedido com o negócio requer dedicação, e isso ela tem de sobra. Foi a persistência e por acreditar em si mesma que hoje ela está no patamar que tanto almejou alcançar, mesmo que para isso teve que enfrentar quem duvidasse da sua capacidade por ser mulher”, diz o diretor
Claro que todo esse sucesso veio acompanhado de muito suor, tendo como principal objetivo vencer. A primeira barreira enfrentada por Leila foi a gestão do negócio. Como possui pleno domínio da área técnica, ela teve que buscar através de cursos como administrar ao certo uma empresa equilibrando a parte administrativa com a parte técnica.
“Teve momentos que pensei em desistir. Procurei me tornar empresária para ter mais tempo livre e ficar com minha filha, o que foi totalmente por água abaixo. Trabalhei muito no começo, e somente agora, aos 43 anos, consegui equilibrar a vida pessoal e profissional, porém já consigo colher os frutos desse trabalho”, afirma a empreendedora que hoje soma mais de 220 clientes ativos em Osasco (SP), faturamento bruto mensal de R$35 mil e ainda é referência em software de gestão em várias regiões da capital do estado.
Simpatia e respeito
A empreendedora conta que sempre teve muito êxito nessa profissão, apesar de ser dominada pelos homens. “Sofri machismo e preconceito e ouvi muitas gracinhas. Sempre disse que não foram as minhas belas pernas, que nem eram tão belas assim rs, que me abriram portas, pelo contrário, foi minha competência profissional. Ainda ganhamos menos que os homens, e somos relegadas a ter vida dupla, como trabalhar e cuidar da casa, se um filho fica doente é a mulher que ‘falta’ ao trabalho não o homem. Mas acredito que quando você quer e é boa no que faz obtém êxito”, afirma Leila que acrescenta que hoje é muito respeitada nessa área de atuação, além de ser motivo também de elogios pelos clientes devido confiarem plenamente em seu trabalho.
Leila que possui sociedade junto ao irmão revela que já teve clientes que preferiu fechar o negócio com o irmão por não confiarem no seu trabalho, apenas por ser mulher. “Mas o contrário também existe, sou respeitada e admirada por muitos outros clientes. Alguns acham até que somos casados, no entanto, ele veio para empresa através de mim, além de ser meu irmão e sócio”, conclui.
Dos 72 franqueados que a Gigatron possui, atualmente, três são mulheres. Apesar do número ser bem baixo elas são responsáveis por 15% dos clientes ativos em toda a rede.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 56% das mulheres em idade economicamente ativa estão empregadas no Brasil, já os homens o percentual é de 78,2%. Apesar dessa diferença, o Brasil é um dos países onde a diferença entre os gêneros é um pouco menor do que o resto do mundo, ocupando a 97ª posição em 188 países no Índice de Desigualdade de Gênero.