FecomercioSP projeta retomada do crescimento do País em 2017

O Brasil atravessa uma crise econômica sem precedentes. O ano de 2016 deve se encerrar com queda de 3,2% no Produto Interno Bruto (PIB), inflação de 6,8%, retração de 6,0% nas vendas do varejo, perda de 3% do PIB Industrial, além de mais de 12 milhões de desempregados. Segundo análise da Federação de Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), esse cenário econômico negativo ficará para trás e as projeções para o próximo ano são positivas e inspiram confiança.

De acordo com a Entidade, a troca de governo trouxe alguns resultados práticos positivos já em 2016, como a redução da pressão inflacionária, que em parte se devia à desconfiança ainda restante. A mudança também realimentou a confiança de empresários e consumidores e, mais importante, impulsionou a tramitação da primeira e principal reforma: a PEC 241, sobre o teto de gastos do Governo. Com a mudança de cenário, o Banco Central viu espaço para iniciar processo de redução de juros que não ocorria há quatro anos e a Taxa Selic que estava em 14,25% entre janeiro e outubro encerrará o ano em 13,75%.

Na visão da FecomercioSP o diagnóstico econômico quase unânime sobre as medidas necessárias para a retomada do crescimento, o ambiente político consistente com a aprovação de reformas e o aumento da confiança de empresários e consumidores devem contribuir para que a economia brasileira colha bons frutos já no ano que vem, com crescimento do PIB de 1,0%, inflação caminhando para o centro da meta e abaixo dos resultados anuais verificados desde 2009. Entre outros pontos positivos previstos para 2017, podem ser citados: saldo comercial favorável, forte ingresso de capitais via investimentos diretos e financeiros, resgate da propensão ao investimento por parte de empresários nacionais e estrangeiros e recuperação do consumo ao longo do ano. Finalmente, esse processo dará início à retomada do emprego e redução das taxas de desemprego.

Confiança
O pessimismo predominou na passagem de 2015 para 2016 com o cenário de instabilidade socioeconômica em que se encontrava o País. A persistência de alta nos preços de determinados bens, crédito mais caro e escasso, falta de perspectiva para minimizar a crise política e, principalmente, o crescimento do desemprego aumentaram ainda mais a apreensão dos consumidores e empresários, atingindo diretamente a vida financeira das famílias e, consequentemente, o consumo e as vendas no comércio.

O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) iniciou o ano aos 89,0 pontos registrando elevações pontuais influenciadas pelo reajuste do salário mínimo, mas voltou a cair em março e abril. A situação só começou a melhorar com a perspectiva real de que um novo governo estava prestes a assumir a condução do País. O indicador avançou nos meses de maio até setembro, voltou para a área de otimismo no mês de agosto ao atingir os 100 pontos, registrou uma leve queda em outubro e voltou a subir em novembro alcançando os 110,3 pontos. Segundo a FecomercioSP, para o mês de dezembro estima-se um ICC em patamar de aproximadamente 109,0 pontos, considerando-se as condições socioeconômicas presentes neste momento. Assim, o ICC deve fechar 2016 com pontuação média de 98,3 pontos, 4,2% superior a observada em 2015.

A deterioração de variáveis como inflação, emprego e renda e a baixa confiança do consumidor tiveram impactos negativos sobre as vendas e, consequentemente, sobre o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC), que entre dezembro de 2015 e maio de 2016 manteve-se ao redor dos 75 pontos. Assim como o ICC, as expectativas começaram a dar sinais de elevação a partir da segunda fase do impeachment, puxando a alta do indicador que saltou dos 75,9 pontos em maio para 96,1 pontos em novembro. Expectativas essas que superam também a velocidade da retomada da confiança na economia no curto prazo. Para o mês de dezembro, a Federação estima que o ICEC alcance os 97,7 pontos. Com isso, o indicador deve fechar 2016 cerca de 3% acima do verificado em 2015, em média.

Estoques e expansão
Com as sucessivas quedas nas vendas do varejo, foi inevitável que o Índice de Estoques se deteriorasse ao longo de 2016, principalmente pelo aumento na proporção de empresários com estoques acima do adequado, que atingiu o maior valor da série histórica em abril (41,6%). Em novembro, a proporção de empresários que consideram seus estoques acima do adequado atingiu 35,6%, ao mesmo tempo em que os que consideram seus estoques adequados subiram para 51%, a maior proporção do ano. Considerando o momento em que as vendas permanecem baixas e os estoques relativamente elevados, a FecomercioSP avalia que a redução média dos estoques foi a melhor notícia para o varejo às vésperas do Natal e que será uma grande oportunidade para os varejistas ajustarem o excesso de mercadorias. Es sa reversão de tendências, ainda que não tenha sido suficiente para resgatar todo o dano causado pela forte contração das vendas, traz um certo ânimo com a possibilidade de redução dos estoques para patamares adequados em 2017.

Em 2016 o Índice de Expansão do Comércio (IEC), formado pelas expectativas de contratação e pelo nível de investimento dos empresários do varejo paulistano, teve dois momentos muito distintos: no primeiro semestre manteve a trajetória de queda que vinha desde 2015, atingindo a menor pontuação histórica em abril (65,3 pontos) e iniciou um processo de recuperação a partir da metade do ano. Na passagem de maio para junho, por exemplo, o índice subiu 10,9%. A recuperação percebida no segundo semestre se deu nas variáveis emprego e investimento, porém com maior ênfase na expectativa de contratações, o que indica, de acordo com a Entidade, que o varejo em breve deve voltar a abrir vagas, mantidas as condições que viabilizaram a retomada da confiança e as perspectivas de desempenho positivo. Com isso, o IEC deve apresentar nova alta em dezembro, a oitava consecutiva, encerrando o ano aos 92,9 pontos. Entretanto, a pontuação média do indicador em 2016 deve ser 3,3% inferior à registrada no ano passado. A FecomercioSP acredita que o indicador continue a crescer no início de 2017.

Endividamento e inadimplência
Em 2016, a proporção de famílias endividadas na capital paulista não apresentou grandes oscilações, iniciando o ano com 51,8% e a estimativa da Entidade é que em dezembro, 51% das famílias paulistanas tenham algum tipo de dívida. Diante de toda a instabilidade do quadro político e econômico, houve um esforço do consumidor em manter o orçamento equilibrado, sendo que em junho, foi registrada a menor proporção do ano, de 49%.

Ao longo do ano, a elevação da inadimplência, motivada principalmente pelo desemprego, foi o dado mais preocupante. Em agosto, 19,9% das famílias paulistanas tinham alguma conta em atraso, a maior proporção desde maio de 2012. Também cresceu o número de famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas no próximo mês. A proporção de 8,5%, registrada em agosto, foi a maior em quase dez anos. No primeiro semestre, um ponto de atenção foi a mudança no perfil da dívida das famílias, que passaram a utilizar com mais frequência linhas emergenciais de crédito. A proporção de famílias com dívida no cheque especial, por exemplo, atingiu o maior patamar da série histórica em junho, de 10,9%. Vale ressaltar que a taxa de juros cobrada ultrapassa os 320% ao ano (a.a.) no caso do cheque especial e 480% a.a no rotativo do cartão de crédito. Os dados de inadimplência caíram nos últimos meses do ano e a injeção dos recursos do 13º salário devem ajudar as famílias a quitar as dívidas em atraso.

A Pesquisa de Risco e Intenção de Endividamento (PRIE) apontou para um consumidor muito conservador e consciente dos efeitos da crise econômica sobre o orçamento doméstico. Esse consumidor não mostra propensão para se endividar e, por conta disso, este indicador ainda não reagiu aos ventos relativamente positivo s que sopraram a partir do segundo semestre de 2016, até porque o desemprego continuou a crescer e assustar as famílias, apesar da redução recente do ritmo de cortes de vagas. Em dezembro, a FecomercioSP projeta que o índice de intenção de financiamento atingirá os 19,7 pontos, encerrando o ano com uma média de 16,8 pontos, 16,1% inferior à média registrada em 2015.

Inflação
No primeiro semestre de 2016, os preços apurados pelo indicador de Custo de Vida por Classe Social (CVCS) apontaram alta média de 0,72%, abaixo da média de 1,01% registrada no mesmo período de 2015, mas ainda permanecia em patamares elevados. Já na segunda parte do ano, até outubro, o CVCS ingressou finalmente em uma trajetória de desaceleração para uma média de 0,32%.

Nos dez meses de 2016, as classes de renda que mais sentiram os aumentos no custo de vida foram a E e D, que acumularam altas de 6,45% e 6,29%, respectivamente. Já as classes A e B foram menos impactadas, sofrendo aumentos no custo de vida de 5,47% e 5,54%, respectivamente no período.

Ao longo do ano, o segmento de Alimentação e bebidas foi o maior responsável pela alta no Índice de Preços do Varejo (IPV), registrando crescimento de 9,43% no acumulado do ano. A segunda maior contribuição para a alta foi do grupo Saúde e cuidados pessoais, cujos preços variaram 11,16% de janeiro a outubro.

Em paralelo, o Índice de Preços de Serviços (IPS) apresentou crescimento de 5,40%, muito abaixo do observado no mesmo período de 2015, quando o IPS acumulava 13,1% de alta. Pelo segundo ano consecutivo, o segmento de Habitação exerceu a principal contribuição de alta no IPS, assinalando em 2016, incremento de 4,94%. A segunda maior pressão de alta em 2016 foi do grupo Saúde e cuidados pessoais, que encerrou o período com alta de 10,84%. Entre os itens que mais encareceram, destacam-se Plano de saúde (7,71%) e Serviços laboratoriais e hospitalares (7,75%).

Consumo
O Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) enfrentou em 2016 o seu pior período desde o início da série em 2010. Após quedas consecutivas, o indicador atingiu 63 pontos em junho, o menor patamar histórico. Essa evolução da insatisfação foi resultado da recessão econômica com forte aumento do desemprego e inflação e pela turbulência política. Porém, com o voto de confiança à nova equipe econômica do Governo, houve a partir de julho, cinco elevações seguidas, recuperando o indicador e chegando a novembro no seu maior patamar do ano com 73,9 pontos, alta 13,1% em relação ao mesmo período de 2015. Os itens que mais cresceram anualmente foram Perspectiva de Consumo e Perspectiva Profissional com 51,6% e 18,4%, respectivamente. Esse momento positivo aponta par a uma expectativa de manutenção da tendência de crescimento tanto para dezembro, quanto para o próximo ano. Entretanto, para que esse aumento de satisfação se reverta em consumo de forma mais significativa, são necessárias que as variáveis emprego e renda melhorem.

Emprego
O mercado de trabalho formal do comércio varejista pelo segundo ano seguido sofrerá redução. Em 2016, a FecomercioSP projeta que 55.120 postos de trabalho com carteira assinada serão fechados no varejo do Estado de São Paulo, saldo de 838.687 admissões e 893.807 desligamentos, segundo a Pesquisa de Emprego no Comércio Varejista de São Paulo (PESP). Assim, o estoque ativo do varejo paulista deve encerrar o ano com 2.074.909 trabalhadores. Apesar do desempenho negativo, a perda de vagas com carteira assinada neste ano será levemente inferior a apurada em 2015, quando 60.441 vagas foram eliminadas.

No comércio atacadista o quadro é o mesmo, com redução no número de trabalhadores pelo segundo ano seguido. Neste ano, estima-se que 10.932 postos de trabalho com carteira assinada serão fechados pelo setor no Estado de São Paulo, saldo de 163.077 admissões e 174.009 desligamentos. Assim, o setor atacadista paulista deve encerrar o ano com um estoque ativo de 488.484 trabalhadores. Assim como observado no varejo, o saldo negativo de empregos será mais ameno em 2016, quando comparado aos 17.225 empregos formais extintos em 2015.

No setor de serviços, o cenário é pior do que o visto ao final de 2015 já que 133.220 empregos celetistas devem ser eliminados em 2016, saldo de 2.030.862 admissões e 2.164.082 desligamentos, o pior resultado desde o início da série histórica, em 2010. Em 2015, foram extintos 106.833 empregos formais, ou seja, são 26.387 vínculos perdidos a mais em 2016. A estimativa é que o setor de serviços do Estado de São Paulo encerre o ano com um estoque ativo de 7.291.407 trabalhadores com carteira de trabalho assinada.

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