Depois de um período desafiador no 2ºTRI, o setor de franquias acelerou sua trajetória de recuperação em julho, registrando uma redução média de faturamento de 7,2% em relação ao mesmo período de 2019. É o terceiro mês consecutivo de recuperação, sendo que a taxa de julho é significativamente menor do que os 48,2% em abril, os 41% em maio e os 30,1% em junho. É o que mostra o estudo da Associação Brasileira de Franchising – ABF em parceria com a empresa de pesquisas AGP. Tal desempenho é atribuído à melhora do quadro geral da economia e do setor, incluindo agendas mais avançadas de reativação econômica, maior número de unidades em operação, fortalecimento dos canais digitais e à melhora na confiança por parte do empresariado e do consumidor. A manutenção dos juros em níveis historicamente baixos e os programas de renda emergencial também impactaram positivamente.
“Em linha com o que vínhamos acompanhando mês a mês, nosso estudo identificou um movimento importante de recuperação em julho. De fato, o quadro macroeconômico melhorou muito, mas creio que o esforço das franquias desde março no sentido de intensificar o suporte aos franqueados, digitalizar processos e canais de venda, reconquistar o consumidor e buscar alternativas de negócio tenham surtido efeito. A maior operação dos shoppings, com todos os cuidados necessários, é outro fator que impulsionou o setor. Nos próximos meses, esperamos que essa melhoria fique mais homogênea, abrindo caminho para resultados ainda melhores”, afirma André Friedheim, presidente da ABF.
Pela primeira vez desde o início da pandemia, segmentos do franchising voltaram a registrar crescimento no faturamento na comparação com o mesmo período de 2019. É o caso de Casa e Construção que registrou um crescimento de 36% em relação a julho do ano passado. “É um número que chama a atenção, mas temos que ter em mente que a pandemia represou vendas e mudou sazonalidades. Como vários indicadores e estudos apontam, o fato de as pessoas passarem a quase totalidade do seu tempo em casa levou a investimentos e melhorias como reformas, compra de móveis e decorações, montagem de escritórios e até a aquisição de piscinas. No entanto, isso não seria possível sem a força destas marcas, seu intenso trabalho de comunicação e a criação de novos canais de venda”, explica André Friedheim.
Já Comunicação, Informática e Eletrônicos apresentou uma taxa de expansão significativa. Neste caso, a intensa digitalização dos negócios e da comunicação foram os principais impulsionadores. Serviços e Outros Negócios cresceu 9%, alavancado por serviços logísticos e B2B. “Fora os fatores mercadológicos, cabe mencionar a capacidade de reinvenção do setor e a preparação para atender esse aumento de demanda em um contexto ainda delicado”, disse o presidente da ABF. Merecem destaque ainda os segmentos que, embora não tenham crescido, estão mais próximos dos resultados de 2019. São eles Saúde, Beleza e Bem-Estar, com redução de apenas 2%, e Limpeza e Conservação, com queda de 6%. “Saúde e Beleza está atendendo a demanda reprimida destes meses, mas também se beneficia de venda de pacotes e de ter investido no passado em um relacionamento mais digital com seus clientes. Já Limpeza e Conservação tem uma demanda grande para serviços de sanitização de perfil variado”, disse o presidente da ABF.
Os segmentos de Alimentação (-27%) e Moda (-47%) apresentaram um impacto maior, mas também mantêm uma trajetória de melhoria nos últimos três meses.
O estudo ABF/AGP apontou também que 5,1% das unidades de franquia estiveram fechadas temporariamente em julho, queda de quase seis pontos percentuais em relação a junho. A taxa de encerramentos definitivos chegou a 2% e a de repasse a 0,3%.
“Em julho notamos um movimento maior de ajuste com o fechamento de 2% de unidades. Temos casos tanto de empreendedores que tiveram que encerrar suas unidades dadas as dificuldades de quase cinco meses de pandemia, como de redes e multifranqueados que optaram por otimizar sua ocupação territorial, focando esforços nas operações mais rentáveis. É importante ressaltar, porém, que essa taxa é inferior a de negócios isolados e que, mesmo neste contexto inédito, os franqueados puderam contar com o apoio e orientação do franqueador, além das iniciativas conjuntas e troca de experiências que participar de uma rede proporciona”, disse o presidente da ABF.
Desempenho do 2ºTRI
A melhora em julho ocorreu depois de um período muito desafiador no 2ºTRI de 2020. O balanço aponta que houve uma queda de 35,7%, com o faturamento passando de R﹩ 43,122 bilhões no 2ºTRI de 2019 para R﹩ 27,720 bilhões no 2ºTRI de 2020. Considerando o período de janeiro a junho de 2020, a queda foi de 18,1% (R﹩ 84,586 bi para R﹩ 69,257 bi). No 2ºTRI, a taxa de unidades de franquia abertas foi de 1,2%, de fechamento 4,4%, o que resultou em uma redução do volume total de 3,2%. O repasse ficou em 0,4%. O estudo identificou ainda que houve uma queda de 15% do número de redes de franquia em operação no Brasil, considerando os seis primeiros meses do ano. Neste grupo, há potenciais franqueadores que não deram andamento a seus planos de expansão (a maior parte), empresas que deixaram de operar no sistema de franchising, marcas descontinuadas e redes atingidas pela pandemia. É importante ressaltar que, de forma geral, trata-se de redes com poucas unidades e cujo impacto nos resultados do setor é marginal.
Assim como apontado em pesquisas anteriores, os segmentos mais impactados no 2ºTRI foram Entretenimento e Lazer, Turismo e Hotelaria e Moda. Já os segmentos menos impactados foram Saúde, Beleza e Bem-Estar (com uma queda de apenas 3,1%), Comunicação Informática e Eletrônicos, Casa e Construção, e Serviços e Outros Negócios.
A pesquisa do 2ºTRI confirmou também uma tendência importante no setor: a digitalização dos canais de venda. Notou-se uma migração das vendas via lojas próprias e franqueadas para e-commerce (que passou de 2,1% em 2019 para 2,9% em 2020), aplicativo de delivery (2,1%), aplicativo próprio (0,7%) e vendas por WhatsApp (1,7%). Vendas por canais alternativos como venda direta, catálogo e parceiros passaram de 2,7% para 4,9%. Além disso, quase 70% das redes alegaram trabalhar com o canal e-commerce, enquanto essa taxa em 2019 era de 61,1%. A participação dos franqueados neste canal também deu um salto, passando de 51,9% em 2019 para 91,6% em 2020.
Esse processo de digitalização também pode ser observado nas ações institucionais que migraram para os eventos digitais. Como é o caso da próxima Expo Franchising ABF Rio Virtual, feira online oficial de franquias da ABF Seccional Rio que será realizada de 25 de setembro a 1º de outubro. Com cerca de 80 marcas expositoras, a iniciativa digital expande a experiência da versão presencial – que foi postergada para 2021 – com uma semana de contatos entre empreendedores e marcas de diferentes segmentos em um ambiente totalmente online, seguro e interativo.
Gratuita aos interessados que acessarem a feira de franquias virtual através do link expofranchising-abf.rio.br , a plataforma possibilitará ao visitante obter todas as informações por meio de palestras sobre o franchising, materiais virtuais das redes, trocar experiências e conhecer as marcas expositoras através de rodadas de negócios virtuais individuais, pré-marcadas com os representantes das redes.
Mesmo em um cenário tão adverso, a tendência de maior dispersão geográfica do franchising pelo País se manteve. Como mostram os gráficos abaixo, houve uma queda na participação do Sudeste no volume total do faturamento do setor e crescimento em estados fora do eixo RJ-SP.
“O franchising mantém sua caminhada gradual para além do eixo Rio-São Paulo. Esse movimento abre novos mercados, dispersa riscos e atinge toda uma nova gama de públicos e investidores. Inclusive, uma pesquisa recente do IBGE apontou o crescimento de cidades médias e polos regionais, muitos deles ligados à agricultura. Certamente, isso é uma grande oportunidade de negócio e o franchising está antenado a este movimento”, ressalta André Friedheim.
Metodologia
A Pesquisa de Desempenho Mensal referente ao mês de julho de 2020 envolveu uma base amostral com 268 redes respondentes que representam cerca 23,6% das unidades e 23,9% do faturamento do setor. Já a pesquisa do 2º TRI teve uma base amostral de 319 respondentes que representam 29% das unidades e 32% do faturamento. Abrangendo o mercado como um todo, inclusive não associados, os números do desempenho do setor de franchising são apurados em pesquisa por amostragem, cruzados com levantamentos feitos por entidades representantes de setores correlatos ao sistema de franquias, órgãos de governo, instituições parceiras e de ensino. Auditados por empresa independente, os dados divulgados pela ABF são referência para órgãos governamentais de diversas esferas, entidades internacionais do franchising, como World Franchise Council (WFC), Federação Ibero-americana de Franquias (FIAF) e instituições financeiras.