Após a confirmação de mais uma queda no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro (-3,6% em 2016), consolidando a pior recessão da história do País, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) aponta que a recuperação da economia, em curto prazo, está comprometida pelos baixos níveis de investimentos e poupança no País, reflexos das políticas econômicas erradas adotadas em parte por desconhecimento e também por motivos ideológicos/eleitorais a partir de 2013.
De acordo com a Entidade, ao longo do ano passado, o PIB chegou a cair 4,8% no acumulado em quatro trimestres, mostrou desaceleração da queda no final do ano, mas confirmou a preocupação da Federação quanto à gravidade dos efeitos continuados dos desajustes internos dos principais fundamentos econômicos que somente a partir da segunda metade de 2016 começaram a ser enfrentados.
No último trimestre do ano, o Brasil teve uma retração de 0,9% contra o trimestre anterior e de 2,5% em relação ao quarto trimestre de 2015. Este número é menos ruim do que a média do ano, que começou com queda de 5,4%, passou para 3,6%, depois 2,9% e, finalmente 2,5%, sempre sobre o mesmo período do ano de 2015. De todos os dados apresentados, o ponto crucial, segundo a FecomercioSP, continua sendo a queda do nível de investimentos e poupança. Recorrente desde 2014, a queda dos indicadores de investimentos foi muito grande em 2016 também, e para a Federação deve ser a fonte de todas as preocupações do governo e do setor privado.
Com isso, o futuro segue comprometido e a Entidade não enxerga motivos para qualquer otimismo com a atividade econômica nos próximos trimestres. No quarto trimestre de 2016, houve queda de 5,4% na Formação Bruta de Capital Fixo, em relação ao mesmo período de 2015, e no acumulado dos quatro trimestres a retração chegou a 10,2%. O ritmo de queda dos investimentos, assim como ocorreu com todos os dados do PIB, é menor do que vinha se apresentando em 2015, porém, ainda é muito elevado diante da necessidade de recuperação da economia. Conforme já havia sido adiantado pela FecomercioSP, a baixa capacidade de investimento acaba se tornando um forte impedimento para retomada mais robusta e rápida da economia em 2017.
A retração de investimento se deve à reduzida poupança interna, que atinge apenas 13,9% do PIB, quando em países emergentes essa taxa varia entre 25% e 30% do PIB. Ainda assim, a taxa de investimento (apesar de muito baixa) é maior do que a poupança interna: 16,4% do PIB. Ou seja, mesmo com o baixo nível de investimentos, o País continua precisando de poupança externa ao ritmo de 1,5% ao ano. Neste ambiente, a retomada do crescimento em 2017, segundo a Federação vai ocorrer muito mais pela fraquíssima base de comparação do que por condições ideais na economia, apesar da Entidade reconhecer que o atual governo tem feito grandes esforços para melhorar o ambiente de negócios e retomar o equilíbrio macroeconômico, que serão importantes aliados nesse recomeço.
Setores comprometidos
De acordo com a FecomercioSP, a pior recessão da história brasileira ilustra os efeitos perversos provocados pelo descaso do governo com o desequilíbrio macroeconômico sobre a confiança do investidor no País. A apatia do governo para estimular de forma correta, por meio de reformas e busca da eficiência e redução de burocracia, entraves e insegurança jurídica, ao longo dos últimos anos, segundo a Entidade, está custando ao País a maior taxa de desemprego da história. Sem poupança, não há como crescer de forma sustentável, o que obrigava o governo a buscar formas mais caras de financiamento interno ou no exterior.
A Federação pondera, porém, que há algum alento vindo do setor externo, com aumento recente do fluxo de investimentos (diretos e financeiros) e com recente aumento de preço das commodities, que pode ajudar neste início de retomada.
Sob a ótica da demanda, o consumo das famílias continua sendo outro destaque negativo, com resultados típicos de recessão, recuando 2,9% no quarto trimestre de 2016, contra o mesmo trimestre do ano anterior e 4,2% no ano passado todo. Este resultado, segundo a FecomercioSP, era mais do que esperado diante das elevadas taxas de desemprego que se mantém muito resistentes. Somente a retomada efetiva de investimentos vai gerar empregos e renda para que se reverta essa situação.
Pela ótica da produção industrial interna a situação não é muito diferente. Houve queda no produto industrial de 3,8% em relação a 2015, e de 2,4% em relação ao quarto trimestre de 2015, fato que indicadores secundários e antecedentes já mostravam nos últimos meses. O setor de Serviços caiu 2,4% na comparação com o quarto trimestre de 2015 e 2,7% no acumulado do ano.
Na avaliação da FecomercioSP, o que mais preocupa é a falta de investimentos, a despeito de grandes esforços da equipe econômica para retomar um ambiente minimamente atrativo. O quadro de instabilidade política constante também não contribui para atrair investidores. De qualquer maneira, ao longo dos primeiros meses de 2017, a Entidade aponta que a economia dá indícios que já chegou no fundo do poço, e de que o País está muito próximo de um ponto de recuperação. Ainda assim, a Federação espera que o início de 2017 será fraco, com um quadro que irá melhorar, gradativamente, podendo fechar o ano com crescimento de 1%. A recuperação será, de qualquer forma, pouco expressiva diante do estrago feito pelo desgoverno na área econômica nos últimos três anos. Para que o Brasil reestabeleça padrões de consumo e produção aos patamares de 2013/2014, a Entidade pontua que serão necessários algo como três ou quatro anos mais constantes.
A FecomercioSP acertou ao longo de 2015 ao apontar a expectativa em relação aos aumentos expressivos das taxas de desemprego e inflação, que se confirmaram entre 2015 e 2016. Neste momento, a Federação espera também estar antecipando a provável retomada, ainda que tímida, já a partir deste ano. O fundo do poço aparentemente passou, mas a situação vai permanecer insatisfatória por um bom tempo ainda. Por conta disso, a Entidade acredita que esse ano será o início, muito gradativo, da reconstrução do crescimento econômico do Brasil, e como todo processo em seu início, será bastante demorado.
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