Em cada dez usuários de cartão de crédito no Brasil, quatro (39%) aumentaram o valor da fatura no último mês de julho, segundo dados apurados pelo Indicador de Uso do Crédito do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas). Para 33% dos consumidores ouvidos, a fatura se manteve estável na comparação com o mês anterior à pesquisa, enquanto 24% conseguiram diminuir o valor cobrado. Segundo a sondagem, o valor médio das faturas em julho foi de R$ 883.
O levantamento revela que o brasileiro está utilizando o chamado ‘dinheiro de plástico’ para fazer, principalmente, compras básicas e de primeira necessidade. Produtos de supermercados (62%), remédios e itens de farmácia (49%) e combustível (30%) encabeçam a lista dos produtos mais adquiridos via cartão. Outras compras também realizadas recentemente no crédito foram a aquisição de roupas, calçados e acessórios (29%), idas a bares e restaurantes (28%) e recargas para celular pré-pago (20%).
“Os dados sugerem que o brasileiro está recorrendo ao crédito para compras do dia a dia, inclusive mantimentos. A orientação é que, independentemente do tipo de aquisição ou dos valores, o cartão pode ser um aliado do orçamento e, não necessariamente, um vilão. Tudo depende da maturidade e do grau de organização do seu usuário. Se ele não pagar a fatura integral e acabar optando pelo rotativo ou parcelamento, vai arcar com uma taxa de juros que pode chegar até a 500%, em média”, alerta a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
42% usaram alguma modalidade de crédito, mas 61% dos que tentaram fazer compra parcelada tiveram o pedido negado
Dados apurados pelo SPC Brasil e pela CNDL revelam que 42% dos consumidores brasileiros recorreram a alguma modalidade crédito no último mês de julho, sendo que a mais utilizada é o cartão de crédito, mencionado por 37% das pessoas consultadas. Em segundo lugar aparecem o cartão de loja e o crediário com 13% de menções. Completam o ranking o limite do cheque especial (6%), empréstimos (4%) e financiamentos (4%). O percentual de brasileiros que não recorreram às compras a prazo ou empréstimos de recursos financeiros no último mês de julho somam 58% da amostra.
De forma geral, o Indicador de Uso do Crédito registrou 27,4 pontos em julho. O resultado ficou próximo da média dos seis meses anteriores, situada em 27,2 pontos. O indicador varia de zero a 100 pontos e busca medir o uso das principais modalidades de crédito pelos consumidores brasileiros. Quanto mais próximo de 100, maior o número de usuários e de frequência no uso das modalidades.
Em julho, entre os consumidores que tentaram obter crédito em loja, 61% tiveram o pedido negado, sendo que a razão principal foi a inadimplência (9%). Outras alegações foram a renda insuficiente (3%) e a falta de comprovação de renda (3%). “O consumidor deve encarar a negação do crédito como um indicativo de que é preciso rever suas atitudes com relação ao dinheiro, buscando equilibrar seus gastos e seus ganhos”, afirma a economista Marcela Kawauti.
Quando questionados sobre a dificuldade de contratar empréstimos e financiamentos, a maior parte (40%) opina que é difícil ou muito difícil, enquanto apenas 18% avaliam como fácil ou muito fácil. Outro 21% assumem uma opinião neutra a respeito do grau de dificuldade na obtenção de recursos de terceiros.
Outro dado de destaque é que entre os consumidores com empréstimos e financiamentos, 34% admitiram atrasos ao longo do contrato e 19% disseram estar no atual momento com parcelas pendentes de pagamento, o que totaliza 53% desses consumidores com dificuldades para honrar os compromissos. “A situação pode ter sido agravada pela crise, mas sofre influência também da falta de planejamento do orçamento pessoal. Organizar as finanças de forma que seja possível a formação de uma reserva para lidar com os imprevistos e emergências é essencial para que haja tranquilidade”, orienta o educador financeiro do portal ‘Meu Bolso Feliz’, José Vignoli.
42% dos brasileiros estão no ‘zero a zero’ e 56% vão tentar conter gastos em setembro, segundo indicador de propensão ao consumo
Sobre o estado das finanças, a maior parte dos consumidores (42%) disse estar no zero a zero. Ou seja, sem falta de recursos, mas também sem sobras. “Embora a situação desses consumidores não seja tão dramática quanto a daqueles que estão no vermelho, a situação não é confortável, devido ao risco de que lhes ocorra algum imprevisto” afirma Vignoli. O percentual de consumidores que disseram estar no vermelho, isto é, sem conseguir pagar todas as contas, é de 36%. Apenas 17% se encontram no azul.
Como reflexo das dificuldades financeiras, o levantamento que aferiu a propensão do brasileiro ao consumo apurou que 56% dos consumidores pretendem cortar gastos no mês de setembro contra apenas 5% que pensam em realizar mais compras. Os que pretendem manter o mesmo patamar de gastos somam 34% dos consumidores. Os efeitos da crise se destacam entre as justificativas para os que irão diminuir o consumo: 21% disseram que reduzirão as despesas por conta dos altos preços, 14% por estarem desempregados e 10% porque tiveram redução de renda. Além desses, 16% mencionam o endividamento, 8% citam a intenção de fazer uma reserva financeira e 5% o descontrole sobre o próprio orçamento.
Sem considerar as compras de supermercados, os produtos que os consumidores mais pretendem adquirir neste mês de setembro são roupas, caçados e acessórios (21%), seguidos dos remédios (20%). Outros itens também citados são recarga para celular pré-pago (16%), perfumes e cosméticos (11%), artigos de cama, mesa e banho (6%), materiais de construção (6%), eletrodomésticos (6%) e salão de beleza (65). Bens de maior valor aparecem somente no final da lista, como celulares (3%), carro (3%) e casa própria (2%).
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