Há bem pouco tempo, as mais variadas atividades online ainda eram vistas pela sociedade como algo distante ou, na melhor das hipóteses, incipiente. “No futuro, tudo será online”, previam os mais audaciosos. A pandemia e a necessidade de isolamento social, porém, precipitaram o que se antevia como a página seguinte da evolução tecnológica: por conta da Covid-19, quem olhava com desconfiança para as transações online passou, por necessidade, a ter de comprar comida, remédios, gás de cozinha e outros itens por meio de aplicativos; quem estudava apenas presencialmente passou a ter aulas online – e assim sucessivamente.
Agora, praticamente tudo pode ser feito pela internet. Até mesmo rigorosas provas de certificação profissional já podem ser realizadas online. É o caso do Exame de Certificação dos Agentes Autônomos de Investimento (AAIs), que devido às restrições impostas pela Covid-19 passou a ser aplicado virtualmente pela Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord) – o teste é realizado em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV).
A revolução cultural decorrente da pandemia, claro, também atingiu o dia a dia das empresas. Como resultado da migração temporária ou permanente de milhões de empresas para o regime de home office, as antes esporádicas reuniões virtuais de trabalho tornaram-se parte da rotina dos colaboradores. E os treinamentos corporativos, que antes da pandemia exigiam vultosos investimentos financeiros e verdadeiras epopeias logísticas para transportar e alojar centenas de colaboradores em um só local, ganharam forma também no ambiente online. Dos telões dos auditórios para as telas do notebook ou do celular, mais do que uma alternativa os treinamentos online tornaram-se uma necessidade.
Segundo a Catho Educação, somente no começo da pandemia, entre 21 de março e 6 de abril, o crescimento no número de matrículas para cursos EAD foi de 70%, enquanto o interesse pelos cursos remotos aumentou em 45%. Parte desse movimento, explica a empresa, se deu pela necessidade de as pessoas continuarem estudando e buscando especialização mesmo em tempos de crise.
Mas, apesar da redução de custos e do ganho de tempo, em razão de não depender do deslocamento dos funcionários até o local do treinamento, os programas de formação e aprimoramento online também têm desvantagens em relação ao formato presencial. Pensando nisso, o mestre em ciência da educação e estudioso de neurociências Renner Silva criou um treinamento virtual que se propõe a ser tão impactante quanto os realizados presencialmente.
O segredo, diz Renner, está na tecnologia. Além do fato de a transmissão ser ao vivo e de os participantes estarem seguros – cada um em sua casa, como manda o figurino em tempos de Covid-19 –, o Treinamento com Realidade Aumentada (TRA) busca levar aos participantes as mesmas sensações vivenciadas em atividades presenciais. Tecnologia que combina perspectivas visuais dos mundos real e digital, a realidade aumentada dá ao espectador a possibilidade de interagir em um ambiente lúdico híbrido entre o que existe concretamente ao seu redor e uma projeção virtual, uma espécie de segunda camada de visão.
No TRA, cada participante pode, por exemplo, escolher o lado da plateia que irá ocupar no auditório virtual. Com a palestra em andamento, são possíveis vários tipos de interação entre palestrante e público. Com um aceno de mão virtual, o participante pode pedir para realizar uma pergunta; ao fazê-la, sua imagem é exibida no telão, um painel de LED em alta resolução, que se transforma no cenário virtual personalizado para a empresa – o painel fica posicionado atrás do palestrante – como ocorre, naturalmente, em uma palestra ao vivo.
Com painel de LED de alta definição, câmeras para transmissão em 4K, iluminação profissional, cenários personalizados, plateia virtual, dinâmicas e sistemas interativos, a experiência é tão imersiva e estimulante quanto um encontro presencial. E o melhor: é também mais barata. As soluções de eventos completos custam de R$ 20 mil a R$ 100 mil. “Aliado a uma tecnologia de última geração, o Treinamento com Realidade Aumentada leva até as empresas a mesma emoção e transformação que um evento presencial. Ou seja, aumenta o engajamento, produtividade e proatividade, trazendo os colaboradores de volta com energia total”, resume o palestrante.
Com treinamentos virtuais, empresas mantêm engajamento e ampliam ganhos
A pandemia colocou à prova a capacidade de resiliência e a criatividade dos gestores corporativos. Para várias empresas, a crise sanitária foi o estopim para a adoção de treinamentos virtuais que acabaram garantindo não só a manutenção das operações como também os ganhos financeiros, mesmo diante da quarentena imposta pelo vírus.
Na Casa do Construtor, maior rede brasileira de franquias especializada na locação de máquinas e equipamentos de pequeno porte para a construção civil, durante a pandemia houve um aumento de 60% de procura na plataforma EAD.
“Neste período, como os treinamentos presenciais foram suspensos, a universidade teve que se reinventar e buscar novos métodos para manter a capacitação digital”, afirma Érica Sartori, diretora da Universidade Corporativa da Casa do Construtor. “Como a empresa tem um showroom completo, o professor filmava todo o processo de um equipamento e, com o celular, fazia a gravação do passo a passo de operação. Outra saída foi criar vídeos curtos sobre temas da atualidade, como vendas online, BI (business intelligence), entre outros”.
Segundo Érica, o crescimento nas buscas pela plataforma EAD é resultado do aumento no número de franqueados da rede – além da alta na locação de equipamentos, a Casa do Construtor também vendeu franquias durante a pandemia. “Com este modelo, que é muito econômico, já que o franqueador não gasta com hospedagem e passagens, a universidade fortaleceu o relacionamento com os franqueados, que estão ativos em busca de qualificação.”
Outra empresa que apostou nos treinamentos online durante a pandemia foi a OrthoDontic, maior rede de franquias especializada em ortodontia do País. Neste caso, a maior preocupação foi garantir a segurança sanitária de clientes, colaboradores e franqueados durante os atendimentos. “Novos treinamentos e manuais foram desenvolvidos e implementados em tempo recorde para que os novos processos fossem seguidos à risca”, afirma Fernando Massi, um dos sócios da OrthoDontic. “Também disponibilizamos treinamentos comportamentais como ‘gestão em tempos de crise’.”
A Mais Top Estética, rede de serviços fundada em 2016 em Cruzeiro, no Interior Paulista, conseguiu ignorar a crise com um pacote de medidas que incluiu a criação de novos produtos, a venda de unidades – em um período de 90 dias após o começo da pandemia, foram 13 novas franquias – e treinamentos de franqueados e colaboradores, que mesmo com a redução de 50% da jornada de trabalho seguiram em constante aperfeiçoamento. “Tivemos uma produtividade igual ou talvez até superior no que se refere à criação de serviços, à organização e à criação de manuais e protocolos de atendimento”, celebra Caio Rodrigues, CEO da marca.