Em meio aos efeitos causados pela pandemia do novo coronavírus (COVID-19), um dos que mais têm afetado a economia brasileira é o impedimento das pessoas de irem até os seus negócios e trabalhos e nem todos podem ser executados na modalidade home office. À frente de importantes redes de franquias, empreendedores avaliam o atual momento econômico que o país está enfrentando e dão dicas e conselhos às empresas, sobre como atravessar períodos difíceis como esse.
Segundo José Roberto Campanelli, fundador e diretor da Mary Help, pioneira para intermediação no serviço de diaristas, algumas medidas podem ser tomadas para ajudar a atravessar este período difícil, tais como: preservar ao máximo o caixa da rede, renegociar aluguéis, pausar campanhas publicitárias, conceder férias coletivas aos funcionários nos casos possíveis e postergar o pagamento de alguns impostos, conforme já foi autorizado pelo governo brasileiro.
Como maneira de se precaver e se resguardar para momentos como esses, o diretor diz que qualquer franquia deve ter uma boa gestão financeira, que preveja que a pessoa tenha reserva em caixa em tempos de vendas boas para suportar os períodos mais complicados, de recessão. “As empresas não quebram por falta de lucro, mas sim por falta de caixa”, explica.
Já para Richard Mendonça, sócio executivo e CEO da Phi Concept, rede de procedimentos estéticos faciais, em primeiro lugar é preciso ter transparência com a equipe e clareza sobre os passos que precisam ser dados e não entrar em desespero, para poder tomar as melhores decisões. Também é importante ter os custos da operação bem relacionados e identificar onde é possível reduzir gastos, além de relatório de fluxo de caixa atualizado com todas as entradas a receber versus as saídas, no curto, médio e longo prazo. Outra dica é renegociar prazos de pagamentos com fornecedores, aluguéis e outros custos fixos que possam nesse momento demandar recursos e identificar canais alternativos de vendas e divulgação dos produtos e serviços.
“Estamos mantendo o relacionamento com nossos clientes. Nosso modelo de atendimento proporciona um pouco mais de intimidade com eles. A equipe se mantém conectada com os clientes através do Whatsapp e também um plantão de atendimento por videoconferência. Nesse momento é importante demonstrar a preocupação que temos com as pessoas que fazem parte do nosso dia a dia.”
Assim como o diretor da Mary Help, Richard também defende uma reserva para contingências e manter o fluxo de caixa sob controle para momentos de crises. “O momento que estamos vivendo é atípico porque estamos impedidos de abrir a operação. Isso nos deixa numa situação bem delicada porque os custos continuam correndo e as vendas deixam de acontecer. Não é apenas uma queda por sazonalidade, é o momento de se organizar e se preparar para a retomada, pois tão logo passemos por essa crise e terá vantagem quem estiver pronto para a retomada”, afirma.
O cuidado com os clientes é um dos aspectos mais importantes para Abraão Barbosa, CEO e fundador da Doctor Frio – rede de manutenção de ar condicionado. “Mantenha-se conectado e solidário, porque todos estão muito sensíveis, e precisando de muito apoio. Manter uma lista atualizada de e-mails, grupos no WhatsApp é fundamental”. Segundo ele, o momento é de renegociar dívidas com bancos e fornecedores e de se comunicar e deixar claro as intenções da empresa.
“É possível se preparar para as turbulências do mercado. Primeiramente, tentando operar da forma mais enxuta possível utilizando inovação e tecnologia com automação de processos. Na Doctor Frio conectamos toda operação, em um canal de comunicação colaborativa, onde consigo ter toda empresa operando de qualquer lugar do mundo, precisando apenas de uma conexão com a internet”. Abraão está muito otimista “Acredito muito na força do empreendedor brasileiro. Somos criativos e competentes, e claro, que toda crise leva um tempo para se recuperar, mas a história mostra que também na crise, muitas empresas surgiram e cresceram assustadoramente. Porque ao invés de colocar o foco no problema, colocaram o foco na solução”.
Com previsão de inauguração para meados do final de maio, a Neo Delivery, franquia de aplicativo de entrega via moto frete, que opera 100% com delivery e está, inclusive, captando motoqueiros e parceiros para lançar seu aplicativo de entrega, acredita que este é um momento de direcionar os esforços de marketing para ações no digital, uma vez que, as pessoas estarão mais propensas a estarem neste canal.
“Se o empresário não informar que está ativo, as pessoas não vão saber. Trabalhe ações de delivery, mesmo que isso diminua um pouco sua margem. Agora não é hora de pensar em margem e sim de garantir a sobrevivência do seu negócio. Tente ganhar no volume”, reforça Julie Ane Ferreira, diretora de novos negócios da Neo Delivery. A rede franqueadora é uma solução que pode ter o seu lançamento em meio à crise. “Já vínhamos recebendo contato espontâneo de parceiros moto entregadores o que nos faz pensar de como anda a demanda na visão desses profissionais e como o mercado está lidando, oferecendo, tratando a relação de parceria com eles”, completa a empresária.
Outra rede de franquias que também opera 100 % com delivery, é o N1 Chicken, rede de franquia de delivery de frango frito. “Somos classificados como serviços essenciais que não podem parar e estamos tendo grande destaque no mercado com um aumento de 46% nas vendas de nossas unidades em todo Brasil”. Sócio fundador da rede, Rafael Matos, diz que antes de tudo o empreendedor tem que buscar entender de que forma o seu negócio pode vir a ser moldado na atual situação, conseguir passar por essa crise se reinventando, seja em vendas, com colaboradores, forma de comunicar com o cliente e principalmente como reduzir custos negociando aluguéis, fornecedores, parceiros, equipe, dívidas, entre outros.
Maior rede de franquias especializadas em cursos profissionalizantes na área da gastronomia, o Instituto Gourmet, está sugerindo aos seus franqueados algumas medidas que também servem como sugestão para as redes de franquias. “Estamos os orientando a reavaliarem contratos de experiência, avaliarem junto ao contador a possibilidade de férias coletivas, suspenderem todas a novas contratações de colaboradores neste período, negociarem pagamento junto aos fornecedores homologados e aluguéis junto aos proprietários dos imóveis, buscando por isenção total ou parcial dos aluguéis e taxas no período de abril, maio e junho.
Além disso, também estamos buscando com Instituições Financeiras, linhas de crédito e benefícios que ajudem o franqueado e incentivando o pagamento online de contas, e, no caso dos alunos, em até 12 vezes para permitir que eles se mantenham adimplente e que o franqueado faça uma antecipação dos valores. Mesmo em home office, recomendamos a continuidade das vendas e, por fim, orientamos que os franqueados mantenham conexão com os nossos alunos, enviando diariamente conteúdo online e que os instrutores atuem em contato com as turmas apoiando e tirando dúvidas”, relata Robson Fejoli, sócio diretor da rede.
Empresa revolucionária do brechó infantil e que trabalha com produtos seminovos e novos para bebês na faixa etária de RN (0 meses) até 3 anos, a Arena Baby, reduziu os royalties e realizou a isenção no fundo de marketing para seus franqueados e projeta realizar vendas online através de um marketing place, para minimizar os impactos da crise.
“Recomendamos aos nossos franqueados que, em momentos como esses, fiquem atentos à sua operação, custos, vendas, fluxo de caixa entre outros, para que a torne mais eficiente possível, diminuindo os riscos do negócio”, explica Pedro Cruz, gerente de expansão da Arena Baby Franchising. Como recomendação às redes de franquias, segundo Pedro, o primeiro passo é rever o DRE (Demonstrativo de Resultados do Exercício) e analisar quais custos podem ser postergados, cortados ou até negociados. Já a carga horária, salários e impostos, Pedro orienta que procurem seus escritórios de contabilidade. “Atuamos em um mercado de necessidade, no qual os bebês não param de crescer, sendo o nosso negócio uma grande oportunidade para as mamães gerarem créditos ou receberem dinheiro com os produtos que seus bebês já não usam mais. Acreditamos que voltaremos rapidamente ao patamar normal, pois haverá uma demanda altamente reprimida e um público novo com uma visão de consumo consciente, e que com todo o contexto da crise, será obrigado a rever seus hábitos de consumo”.
Há 12 anos de atuação no mercado de crédito consignado, a MTCred, tem a maior parte dos franqueados da rede que já trabalha home office e as lojas estão operando, porém sem atendimento ao público. “Nosso mercado oferece a possibilidade de vendas digital, ou seja, não é necessário que o cliente se desloque até nossas unidades. Estamos orientando os lojistas a entrarem em contato com seus fornecedores e renegociarem os contratos. Com relação aos colaboradores, estamos dando férias aos que permitem nesse momento”, conta Eder Oliveira, diretor de expansão da MTCred.
A rede já vinha há um bom tempo incentivando as vendas de maneira digital, aumentando as comissões para esse tipo de operação e investindo em treinamentos e equipamentos. “Mais de 50% de nossas operações já eram feitas de forma digital, mesmo antes dessa pandemia, o que devemos observar nesses próximos dias é um aumento ainda mais significativo dessas vendas. Nesse momento que nossos clientes estão em casa, aumentamos ainda mais o investimento em mídia através das redes sociais, o objetivo é chegar até eles, mesmo nesses momentos de crise, e oferecer condições de fazer empréstimo de forma segura”, finaliza Eder.