Com a economia ainda em recessão e o desemprego crescente, as vendas na Páscoa deste ano não devem apresentar crescimento expressivo. Uma sondagem realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em todas as capitais mostra que entre os consumidores que vão realizar compras na Páscoa, 39% planejam diminuir os gastos na comparação com o ano passado, principalmente as mulheres (47%). O aumento dos preços dos ovos de chocolates e demais produtos típicos do período sem que a renda também tenha crescido (42%), além do desemprego (21%), são as razões mais mencionadas entre quem acha que vai gastar menos na data comemorativa. No total, 57% dos brasileiros vão presentar alguém nesta Páscoa. Três em cada dez (28%) consumidores estão indecisos e 15% disseram abertamente que não realizarão compras.
Levando em consideração os consumidores que não vão comprar chocolates, os motivos mais citados são o endividamento e a priorização de dívidas (22%). A falta de costume ou o fato de não gostarem da data (18%) e o desemprego (17%) completam a lista de justificativas. Entre os indivíduos da classe C, o percentual de endividamento (28%) e desemprego (22%) são ainda maiores do que para o restante da amostra.
“A piora da economia ainda exerce um forte impacto sobre o consumidor, que acaba sendo obrigado a limitar seus gastos para organizar as finanças. Diante dessas dificuldades, até mesmo datas comemorativas de grande apelo como a Páscoa, acabam sofrendo com a priorização de gastos do brasileiro. Cabe ao empresário do varejo investir em promoções, preços atrativos e em estratégias de vendas para atrair os consumidores que estão indecisos, que representam um grande percentual”, afirma o presidente da CNDL, Honório Pinheiro.
Para 56% dos compradores, preços estão mais caros; 89% vão pesquisar
O levantamento revela ainda que 56% dos consumidores ouvidos têm a sensação de que os preços dos produtos para a Páscoa estão mais caros neste ano do que em 2016. Para 24%, os valores estão na mesma faixa e apenas 4% acreditam em preços menores. Diante da conjuntura de preços estão mais salgados, a pesquisa também mostrou que maioria (89%) dos compradores pretende fazer pesquisa de preço antes de levar os ovos ou demais produtos para casa. O comportamento surge com mais força entre as pessoas da classe C (91%) e as mulheres (93%).
A atual crise econômica é mencionada por sete em cada dez (67%) consumidores para justificar a percepção de preços mais elevados no comércio. Outros 25% disseram que os preços estão mais altos por tratar-se de uma data comemorativa, em que a procura pelos chocolates aumenta de forma considerável.
“A pesquisa de preço é um importante instrumento para quem quer economizar. Como os valores dos ovos, geralmente, variam bastante de um estabelecimento para o outro ou entre marcas, é fundamental reservar um tempo para procurar as melhores condições, inclusive usando a internet a seu favor”, orienta a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Não tão popular quanto o amigo secreto nas festas natalinas, o ‘amigo chocolate’ pode ser uma alternativa para quem quer gastar menos. A pesquisa revela que entre quem vai presentear alguém, 21% vão entrar na brincadeira, que será feita, sobretudo, entre familiares (62%), amigos (42%) e colegas de trabalho (35%). O gasto médio com o presente do ‘amigo chocolate’ será de R$ 36.
Supermercados serão o principal centro de compra
Os tradicionais ovos de chocolates (65%) despontam na preferência entre os produtos mais procurados nesta data. Outros itens que despertam o interesse dos consumidores são as caixas de bombons (53%), ovos de chocolate infantis (46%), barras de chocolate (37%), chocolates artesanais e caseiros (23%), colombas pascoais (14%) e também bebidas, como vinho (10%).
O principal local de compra deverá ser os supermercados, com 71% de citações. Depois surgem os shopping centers (24%), as lojas de departamento (22%) e também vendedores de chocolates caseiros (16%). Na avaliação dos entrevistados, os fatores que mais influenciam na escolha do local de compra são a atratividade do preço (61%), as promoções e descontos oferecidos (51%) e a qualidade dos produtos (48%).
A pesquisa também revela que as pessoas mais presenteadas na data serão os filhos (58%), os maridos e as esposas (46%). As mães (34%), os próprios entrevistados (32%) e os sobrinhos (31%) completam a lista. As mulheres presentearão principalmente os filhos (64%), ao passo que os homens darão presentes sobretudo para as esposas (54%). A maioria (61%) dos entrevistados deve comemorar a Páscoa na própria casa.
Maioria vai pagar em dinheiro; 34% vão gastar até R$ 100 com ovos e produtos
No total, pouco mais de um terço (34%) dos compradores gastará até R$ 100 com chocolates e produtos típicos da Páscoa, mas a média geral, considerando todos os que pretendem comprar, é de R$ 139, na soma dos itens comprados.
Embora tenham manifestado a intenção de presentear alguém na Páscoa, quatro em cada dez (40%) entrevistados ainda não definiram o número de itens a serem adquiridos. Entre aqueles que já se planejaram nesse sentido, a média é de cinco produtos por pessoa.
Outra constatação do levantamento é que a maior parte (41%) dos consumidores pretende ir às compras nesta primeira semana de abril, enquanto 35% vão deixar para última hora, adquirindo os produtos na semana anterior à data de comemoração.
O pagamento à vista (70%) será de longe a forma de pagamento mais usada na Páscoa deste ano, seja em dinheiro (56%) ou no débito (14%). O cartão de crédito em parcela única, segunda modalidade preferida para comprar chocolates neste ano, é citada por apenas 15% dos consumidores, e o cartão de crédito parcelado teve 11% de menções. Entre os que pretendem parcelar as compras, a média será de quatro prestações. Ou seja, até o mês de julho, muitos desses consumidores estarão com o orçamento comprometido para o pagamento de dívidas.
5% ficaram com o nome sujo por causa da Páscoa passada
Ainda que evitar comprar presentes em datas comemorativas possa ser uma alternativa para economizar e colocar o orçamento em ordem, para parte dos entrevistados, essa não é escolha: 10% admitem que costumam gastar mais do que suas finanças permitem para presentearem na Páscoa e 3% até deixarão de pagar alguma conta para comprar chocolates ou produtos neste ano.
Outro dado que inspira preocupação e denuncia o comportamento imprudente de alguns consumidores é que 5% dos entrevistados que fizeram compras na Páscoa do ano passado ficaram com o nome sujo por não quitarem as parcelas das compras, sendo que 3% ainda se encontram nessa situação. Entre quem vai presentear em 2017, mais de um terço (34%) reconhece que tem pelo menos uma conta em atraso e 30% estão com o CPF inscritos em cadastros de inadimplentes.
“Em um momento de grandes incertezas e pouco propício ao endividamento, o ideal é fazer compras à vista. Diminuir o tamanho dos ovos, presentear menos pessoas e ser criativo na hora de agradar são outras saídas válidas. A Páscoa é apenas a primeira data comemorativa do ano e pode ser arriscado já comprometer o orçamento com prestações ainda com muitos meses pela frente”, orienta o educador financeiro do portal ‘Meu Bolso Feliz’, José Vignoli.
Metodologia
A pesquisa ouviu inicialmente 1.034 consumidores de ambos os gêneros, acima de 18 anos e de todas as classes sociais nas 27 capitais do país. Para avaliar o perfil de compra, foram considerados 600 casos da amostra inicial. A margem de erro é de no máximo 3,9 pontos percentuais a uma margem de confiança de 95%.