Quanto vale o sonho de um filho? Para Geraldo Gláucio de Araújo Caldas, de 54 anos, valeu o veículo de trabalho, o carro da família, fora um empréstimo considerável no banco. Ele usou o dinheiro para comprar uma franquia de beleza para sua filha mais nova.
Empreendedorismo presente
Durante uns 10 anos, Geraldo trabalhou como motorista de transporte universitário em Belo Horizonte (MG), porém sempre apostou em algo paralelo. Durante esse período, ele chegou a abrir diversos negócios no ramo de alimentação. Pela sua mão passou, por exemplo, padaria, lanchonete, fábrica de pão de queijo, entre outros.
Em 2018, Geraldo ensaiava investir novamente, e assim, começou a estudar bastante um empreendimento que viesse a dar certo. Certo dia, quando menos esperava, em seu celular chegou uma mensagem falando sobre uma franquia de beleza que estava crescendo na cidade. “Mostrei para Marina (filha) que ficou empolgadíssima. Ela que estava sonhando em abrir o próprio negócio se identificou ‘logo de cara’. Daí tudo mudou”, relembra Caldas que abriu em junho uma unidade da SUAV (rede com foco em serviços de estética express) junto a sua filha mais nova, no bairro Buritis, o segundo bairro mais populoso na capital mineira.
Com os novos planos, porém sem capital, Geraldo vivenciando o entusiasmo da filha, decidiu então vender a van que usava a trabalho para investir no negócio; entretanto, com o valor foi possível pagar apenas parte do investimento (avaliado em R$127.600). A saída? Vender o carro da família (uma SUV avaliada em R$35 mil) e para completar o investimento, ele fez um empréstimo no banco de cerca de R$20 mil.
“Foi uma decisão muito difícil, afinal, estamos falando de dinheiro e possibilidades de vingar ou não um negócio. Mas, a Marina já estava vivenciando tudo aquilo, e estava disposta a se dedicar completamente; nesse momento não tive dúvidas, arrisquei todas as minhas fichas. Por um período sabíamos que as coisas não seriam fáceis; em casa somos em cinco e todos ficamos ‘a pé’, além é claro, de acumular as prestações da dívida’, comenta o empresário.
Apoio da filha
Pai de três filhas, Caldas não se importou em deixar de lado a vontade de empreender novamente no segmento de alimentação para investir no sonho da filha. Marina Fonseca Caldas, de 26 anos, apesar da pouca idade, desde nova enfrentou muitos obstáculos e correu atrás do que queria: ser empreendedora.
Ainda na adolescência, a jovem começou a trabalhar em salões de beleza. Lá, ganhou experiências para criação de penteados e escovaria, e também fez cursos de manicure e pedicure para aumentar o portfólio e conseguir um dinheirinho a mais. “Sempre tive afinidade com a área de beleza. Em 2009, quando conclui o Ensino Médio ainda estava bastante indecisa para qual vestibular prestar, tentei medicina veterinária, mas não passei, e em 2010, ainda indecisa entre química e farmácia, tive o apoio do meu pai para optar por um curso técnico. Então comecei o curso de estética e cosmetologia, e foi uma das melhores escolhas que já fiz; me identifiquei muito”, relembra.
Enquanto fazia o curso, Marina dividia o seu tempo em adquirir novas experiências. Durante certo tempo trabalhou na administração e no atendimento ao cliente de um restaurante. E para enriquecer o currículo, fez ainda um estágio em uma clínica de estética em gestão e administração. Conhecimentos esses que mais tarde serviriam de base para um novo negócio.
Tamanha dedicação sempre gerou orgulhou ao pai, e foi o principal combustível para estimulá-lo a investir na SUAV. Hoje, um simples comentário sobre sua sociedade familiar faz seus olhos brilharem. “Ter a Marina em um negócio comigo é muito gratificante como empresário, mas principalmente como pai. A dedicação e experiência que ela teve durante esses anos a transformou em uma excelente profissional e ser humano. Sei bem que não teria uma pessoa melhor para trabalhar ao meu lado”, frisa Glauco.
Mãos à obra
Como parte da estratégia para recuperar o dinheiro investido, pai e filha optaram pelo modelo de negócio mais completo que a SUAV oferece – que inclui depilação, design de sobrancelha e esmalteria (ao todo são cinco modalidades). A intenção, a princípio, era de conquistar o investimento em até 36 meses e quitar a dívida no banco.
No entanto, as expectativas surpreenderam e esse dinheiro poderá ser recuperado bem antes do que o previsto. É que com apenas dois meses de operação os franqueados já atingiram o ponto de equilíbrio! Em outras palavras, em apenas 60 dias a unidade já conseguiu pagar seus gastos e garantir um faturamento em média de R$25 mil/mês, e registrar o número de aproximadamente 200 clientes por semana. Diante do positivo desenvolvimento, a expectativa é que ainda neste ano o faturamento bruto mensal supere os R$70 mil.
Felizes com a aposta que tem dado certo, eles não pensam em parar por aí. Abrir outra franquia está nos planos dos empreendedores. “Intenção sempre temos né?! (risos). A franquia está indo bem, e confesso que planejo inaugurar mais uma unidade da SUAV em outra cidade. Me identifiquei muito com a franquia, e com todos os seus projetos. E mesmo tendo certa experiência administrativa, o suporte fez toda a diferença nessa questão. Com isso, já estamos conseguindo superar as dificuldades de início de operação e aprendendo cada vez mais”, conclui Marina.
Geraldo divide as tarefas administrativas com a filha que fica à frente da parte operacional e atendimento ao cliente.
Motorista de aplicativo
Geraldo continua atuando como motorista, mas dessa vez por meio de um aplicativo em BH. Ele pontua que a intenção de continuar trabalhando como motorista é para que não dependesse financeiramente do empreendimento no início do negócio. Mas para isso, foi necessário financiar um carro (de cunho popular), já que com a compra da franquia foi necessário vender o carro da família.