Dólar acima de três reais, alta de juros e crescimento do PIB negativo são alguns índices da economia neste ano que apontam para um futuro nada promissor no país, sobretudo para setores como a indústria e o comércio – incluindo as franquias, que vêm em um forte ritmo de expansão.
Em 2014, o Brasil viu o número de franquias em atividade no país aumentar 9,8%, mais de 11 mil novas unidades abertas de quase três mil marcas diferentes. Em faturamento, essa expansão representou uma movimentação financeira de 127 bilhões de reais no ano passado de acordo com dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF).
Embora os números sejam grandiosos, o ano passado foi o período em que o setor expressou menor crescimento quando comparado com as taxas de expansão de anos anteriores, o que acena para um futuro nada confortável nos próximos anos.
A análise é do economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Clemens Nunes. Segundo ele, o cenário econômico ” aponta na direção de um enfraquecimento no consumo das famílias, com uma menor venda de bens e serviços e com impacto direto nas franquias”.
“O setor de franquias é muito dependente do que a gente chama de consumo das famílias. E quais são os fatores que afetam esse desempenho? O emprego e a renda das pessoas. Essencialmente a renda do trabalho”, explica o professor da FGV.
De acordo com ele, com o enfraquecimento do mercado de trabalho e aumento da inflação, o poder de compra da população brasileira deverá ficar reduzido, comprometendo gastos com os setores de bens e serviços nos quais está concentrada grande parte das franquias ativas atualmente no país.
Diante desses fatos, Nunes aconselha que tanto franqueadores quanto franqueados tenham foco na sobrevivência durante a crise com a finalidade de, no médio prazo, aproveitar oportunidades de mercado que surgem em momentos como o que o país vive hoje.
“Quem sobreviver vai ter o benefício de um mercado menos competitivo porque muita gente não vai suportar a crise. Então quem ficar vai sair mais forte”, destaca o economista.
No entanto, para isso é preciso uma gestão extremamente controlada das finanças destas franquias. Entre as medidas apontadas por Nunes está, inclusive, a redução das taxas cobradas de franqueados com o intuito de de evitar a falência de unidades já em funcionamento.
“É melhor ter uma renda menor do que um franqueado sair do negócio e levar junto um ponto de venda. É hora de sentar, renegociar os termos do contrato para que o franqueado possa passar por esse período difícil da economia mantendo sua sustentabilidade financeira”, destaca.
Por outro lado, o economista não descarta o fechamento de unidades que não conseguiram se estabelecer nos últimos anos – quando a crise ainda não havia chegado ao seu auge.
“Se num cenário positivo como tivemos até 2011 e 2012 algumas unidades não conseguiram gerar rentabilidade, muito dificilmente elas vão conseguir gerar rentabilidade nos próximos dois anos. Vale a penas mantê-las? Muito provavelmente não”, aconselha Nunes.
O jeito, segundo o professor da FGV, é cortar gastos fixos e transformá-los em variáveis, renegociando contratos e controlando o consumo de insumos que tiveram ajustes acima da inflação este ano, como energia, água e combustível.
“Todos são custos que são essenciais para quem toca o negócio e não há muito como controlar os preços. Mas é possível controlar o quanto é consumido destes serviços e desses bens”, ressalta Nunes que aconselha uma processo de racionalização de rotas e adoção de estoques reduzidos para conter os custos com combustíveis, por exemplo.
De acordo com ele, as medidas devem ser tomadas com o intuito de aumentar a capitalização para aproveitar as oportunidades de uma economia em recessão, como redução no preço de alugueis de pontos mais atrativos.
“A primeira coisa é sobreviver, a segunda é sair com recursos para aproveitar essas oportunidades excepcionais que vão surgir”, conclui o economista.
Clique aqui e cadastre-se para receber informações exclusivas. É gratuito!