Mesmo com as seguidas reduções da taxa de juros e inflação em queda, a intenção de consumo das famílias paulistanas ficou estável em abril, muito por conta da manutenção do cenário de forte desemprego. Em abril, o índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) alcançou os 78,3 pontos, leve queda de 0,6% em relação a março quando o indicador registrava 78,7 pontos, e 17,4% superior na comparação com o mesmo mês de 2016. Mesmo apresentando estabilidade em abril, a pequena retração interrompeu uma série de nove elevações consecutivas do indicador, que havia registrado em março a maior pontuação desde junho de 2015. O ICF é apurado mensalmente pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) e varia de zero a 200 pontos, sendo que abaixo de 100 pontos significa insatisfação e acima de 100, satisfação em relação às condições de consumo.
Três dos sete itens avaliados pela pesquisa apresentaram queda em abril, na comparação com março. O destaque negativo foi o Momento para Duráveis que registrou retração de 9,4% em relação a março, atingindo 50,5 pontos. Esta é a segunda queda consecutiva, porém, segundo a assessoria econômica da FecomercioSP, não deve ser encarada como mudança de tendência e sim como um ajuste após uma sequência de oito altas consecutivas. De acordo com a Entidade, o desemprego ainda assusta e por mais que a Taxa Selic tenha se reduzido de forma acelerada, os reflexos na ponta ainda não são visíveis com juros ainda altos e a manutenção da seletividade do crédito pelo sistema financeiro. As variáveis, emprego e crédito, são fundamentais na decisão de compra de produtos que necessitam de financiamento de longo prazo, como é o caso dos duráveis.
Diante do cenário ainda turbulento, o consumidor prioriza as necessidades básicas como compra de alimentos, medicamentos, pagamentos de contas atrasadas e contas do dia a dia. Por conta disso, o item Perspectiva de Consumo subiu, em abril, 2,2% e 50,9% em um ano. No mês, o índice foi de 75,6 pontos, o maior patamar em dois anos, contra 50,1 pontos neste mesmo mês de 2016. Segundo a Federação, a injeção do FGTS das contas inativas aliado a uma inflação mais baixa criou um sentimento mais otimista para o futuro, possibilitando a quitação das dívidas, equilibrando as finanças e aumentando o potencial de consumo. Tanto que tem mais gente dizendo que a renda familiar está melhor do que em relação a 2016. O item Renda Atual cresceu 1,5% e atingiu 89,5 pontos, maior patamar desde julho de 2015.
No entanto, as famílias continuam cautelosas no curto prazo e o efeito dos recursos do FGTS para o consumo tende a ser pequeno. Pesquisas indicam que a população, em geral, deve utilizar o dinheiro disponível para pagamento de dívidas. O item Nível de Consumo Atual ficou estável, em abril, e permaneceu nos 46 pontos, sendo o item com pior avaliação do ICF no mês. Mesmo com esse nível alto de insatisfação, essa pontuação é 19,1% acima da vista no mesmo período do ano passado.
Já o crédito, que seria uma forma de ampliar o consumo das famílias, continua sendo um entrave. A taxa de juros ao consumidor, segundo o Banco Central, está em 73% ao ano, cinco pontos porcentuais a mais do que no início do ano passado. Os paulistanos ainda encontram dificuldades na contratação de financiamentos para compras a prazo. O item Acesso a Crédito atingiu 74,6 pontos, alta mensal de 2,6%.
E por fim, apesar do dado preocupante do número de desempregados no País, os dois itens, Emprego Atual e Perspectiva Profissional, são os únicos em que a maioria dos paulistanos está avaliando de forma satisfatória, acima dos 100 pontos. O primeiro ficou 0,2% abaixo do mês anterior e se manteve na casa dos 101 pontos (101,6 pontos). E o segundo registrou retração de 2,4%, porém é o item com melhor avaliação do indicador, com 110,2 pontos.
Na análise por faixa de renda houve resultados assimétricos. Enquanto o índice das famílias com renda superior a dez salários mínimos cresceu 1,1% e atingiu 81,1 pontos, o índice de satisfação das famílias que recebem abaixo deste patamar recuou 1,2% e se posicionou, em abril, nos 77,3 pontos. Porém, ambos ainda em patamares de insatisfação, abaixo dos 100 pontos.
Segundo a FecomercioSP, o resultado de abril não gera nenhum tipo de preocupação e não altera a tendência do indicador. As comparações deste mês e dos meses seguintes contra o mesmo período do ano passado serão feitas contra os piores resultados da série, que foi exatamente no segundo trimestre de 2016 e, assim, as variações anuais tendem a ser expressivas. Desta forma, analisando o quadro atual e do ano passado se nota claramente uma melhora das condições econômicas das famílias. O motivo, segundo a Federação, é que além da crise econômica havia a instabilidade política, especificamente com o processo de impeachment, que não deixava claro o que aconteceria no futuro próximo, criando um ambiente de cautela por parte dos consumidores na ampliação dos gastos.
Neste ano, o ambiente político e econômico mostrou melhora, mas o avanço se dá de forma moderada e lenta. O indicador de consumo ainda está longe dos 100 pontos, mas os paulistanos, minimamente, vão reduzindo os seus receios com a intenção de consumo. Para a Entidade, isso é visto nos dados da Pesquisa Conjuntural do Comércio Varejista (PCCV), também aferida pela FecomercioSP, na qual indica crescimento nas vendas do comércio na capital paulista, consolidando uma leve recuperação da economia da região.
Metodologia
O Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) é apurado mensalmente pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) desde janeiro de 2010, com dados de 2,2 mil consumidores no município de São Paulo. O ICF é composto por sete itens: emprego atual; perspectiva profissional; renda atual; acesso ao crédito; nível de consumo atual; perspectiva de consumo e momento para duráveis. O índice vai de zero a 200 pontos, no qual abaixo de 100 pontos é considerado insatisfatório e acima de 100 pontos, satisfatório. O objetivo da pesquisa é ser um indicador antecedente de vendas do comércio, transformando-se, com base no ponto de vista dos consumidores e não no uso de modelos econométricos, em uma ferramenta poderosa para o varejo, fabricantes, consultorias e instituições financeiras.