Quem quer empreender em uma franquia precisa dedicar-se em diversas áreas do negócio para que ele prospere, sempre com foco. Isso não significa, entretanto, que existam oportunidades de sucesso apenas em redes que exigem trabalho realizado todos os dias da semana, com horários estendidos em mais de 12 horas diárias. “Quando se procura uma franquia, é preciso que ela se adeque ao estilo de vida que o futuro franqueado pretende ter a longo prazo. Por ser um projeto de vida – e não apenas um investimento – a franquia necessariamente deve levar em conta a qualidade de vida que o franqueado deseja”, enfatiza Thaís Kurita, advogada especializada em franchising e varejo.
Kurita, que acompanha o processo de seleção de franqueadoras há mais de 20 anos, as aconselha, sempre, a orientar seus franqueados sobre como é o cotidiano das redes. Ela explica que é pouco adequado, por exemplo, um franqueado que não abre mão de surfar aos finais de semana ter um negócio que opere em shopping, porque esse estabelecimento exige que a loja mantenha-se em funcionamento 365 dias por ano, das 10h às 22h, e receba mercadorias antes de sua abertura. “Ninguém espera que o franqueado trabalhe 18 horas por dia, mas ele precisa ver o funcionamento do negócio em dias e horários diferentes, para ser um bom operador. Não tem o mesmo desempenho quem deixa a franquia ser administrada apenas por gerentes”, pondera a especialista.
Também deve pensar bem no tipo de franquia que escolherá quem tem filhos pequenos ou deseja realizar atividades paralelas, como estudos. “Horários estendidos, como os de restaurantes, pode exigir uma dedicação noturna do empreendedor e atrapalhar a dinâmica familiar ou um curso”, lembra.
Nos casos apresentados, ela ressalta que os hipotéticos franqueados poderiam adquirir uma franquia que não exige o trabalho aos finais de semana ou que, ao menos, permitam parte deles livres, como as tardes de sábados e domingos. “Além disso, pontos instalados em ruas não costumam funcionar até muito tarde”, diz ela.
Em relação à lucratividade, Thaís Kurita diz que as franqueadoras realizam estudos de viabilidade que mostram quais são as condições necessárias para que os negócios prosperem. “A partir do momento em que o franqueador desenhou um modelo de negócio em que é possível não trabalhar aos finais de semana ou em parte deles ou, ainda, em lojas de ruas, ele deve tê-los testado e sabe que o retorno do investimento se dará em determinado período. Isso deve ser demonstrado numericamente ao futuro franqueado, com bastante transparência.Vale lembrar que não trabalhar nos finais de semana pode implicar em trabalhar muito mais nos dias que sobram, de forma a ‘compensar’ esse período de descanso”, esclarece.
Conheça franqueados que escolheram marcas que flexibilizam o trabalho aos finais de semana, não exigem instalação em shoppings e atraem quem quer mais tempo para vida pessoal:
Dr. Shape: Quando procurava uma franquia, o casal Ariane Brandt e Reinaldo Teles sabia que trabalhar aos sábados seria um impeditivo, uma questão sem negociação para eles. “Por motivos religiosos, não trabalhamos neste dia da semana”, conta a franqueada. Há três anos, quando procuraram a Dr. Shape – maior franqueadora de suplementos e artigos esportivos da América Latina, com mais de 60 lojas, rede da qual eram clientes, foram orientados a abrir uma loja em região de grande movimento. “Em nossa rede, existem casos parecidos como os deles, que apoiamos e damos total suporte. A ideia sempre é a de encontrar alternativas para a melhor forma de administrar o negócio”, comenta Roberto Kalaes, franqueador. Segundo ele, a primeira loja da rede, instalada no Centro de São Paulo, opera apenas em um período do final de semana, sendo um exemplo da flexibilidade de horários que o tipo de negócio permite. “Essa loja não abre aos domingos, desenvolvendo plenamente seu faturamento, Temos outras operações em shoppings, que trabalham nos finais de semana e nos feriados, e outras que abrem apenas de segunda a sexta-feira. É um negócio realmente modulável, que tem fácil adaptação”, comenta.
Brandt e Teles foram bem assessoras na escolha do ponto, que fica no Centro de Osasco, e a loja fatura adequadamente, até mais do que o previsto. “A loja performa bem, mesmo na pandemia, e realmente não precisamos trabalhar aos finais de semana, colocando em prática nosso planejamento. Sem essa questão, que para nós é fundamental, não compraríamos a franquia”, diz a franqueada.
Kalaes explica que a presença do franqueado no negócio é uma exigência que a franqueadora Dr. Shape faz. “Quando negociamos uma franquia, são colocadas as condições aos franqueados de forma transparente. A flexibilidade de estar em lojas de rua ou shopping oferece oportunidades diferentes, mas todas elas com perspectivas reais de faturamento e retorno de investimento. Isso significa que o franqueado sabe que, abrindo ou não aos finais de semana, ele terá que trabalhar com dedicação e seguir padrões da franqueadora para que seu negócio prospere”, enfatiza.
A Dr. Shape acaba de lançar um novo formato de franquia: trata-se de um projeto 2 em 1, que reúne a tradicional loja de suplementos alimentares e artigos esportivos da marca a uma clínica de emagrecimento, no mesmo local. A novidade foi pilotada na franquia de Dourados (MS) com muito sucesso, gerando mais rentabilidade ao negócio para o franqueado e muitos benefícios aos clientes, que aprovaram os resultados alcançados. “Muitos franqueados da rede estão interessados em implantar a clínica em suas unidades franqueadas”, informa Kalaes.
A Dr. Shape tem interesse em abrir franquias em todo o Brasil. O valor total de investimento esté estimado em R$ 310 mil, com retorno 12 a 36 meses, para o modelo “Viva na Medida”, que inclui a clínica. Já uma loja Express, sem a clínica, exige investimento de R$ 200 mil.
IP School – Inglês Particular – “Para ser sincero, não me lembro da última vez que precisamos trabalhar em um final de semana”. Com essa frase, Rauel Araruna, franqueador da IP School – Inglês Particular, resume a dinâmica da rede de ensino de inglês particular, que tem dez escolas em São Paulo (capital e região metropolitana).
A IP School é uma rede que atua de forma singular: sem material didático e com aulas personalizadas, criadas conforme o perfil e as necessidades dos alunos, atende pessoas de todas as idades pelo sistema híbrido de ensino, que mescla aulas presenciais às virtuais. Como o franqueado quase nunca é quem ministra as aulas – o ideal é que o empreendedor tenha perfil comercial, assumindo a coordenação das vendas e a gestão geral do negócio, transferindo aos professores a responsabilidade do atendimento aos alunos – ele pode se programar para não trabalhar nos finais de semana. “Temos franqueados que preferem estar nas escolas nas manhãs de sábado, ficando livres depois do almoço e em todo o domingo. Outros acham esse dia ruim para vendas – já que apostam em clientes corporativos – e dão o melhor de si de segunda a sexta-feira. Desde que cumpram com o planejamento estratégico para que a unidade deslanche, não há qualquer problema de descansarem quando acharem conveniente – assim como nós, da franqueadora, fazemos”, acredita o franqueador.
Numa franquia IP School investem-se R$ 33 mil (microfranquia, unidade virtual) ou R$ 149 mil (unidade física). A marca busca franqueados para todo o estado de São Paulo.
Nayara Rocha, uma jovem advogada, de 25 anos, é a mais nova franqueada da IP School – Inglês Particular. Ela investiu em uma microfranquia virtual da marca e atuará no bairro da Vila Olímpia, na capital paulista, com aulas particulares de inglês, individuais ou para grupos de até quatro pessoas. “Investi R$ 33 mil na franquia e estou contente porque posso conciliar este trabalho com minhas atividades como advogada. Além disso, não trabalhar nos finais de semana me permitirá ter mais tempo livre para realizar outras atividades que quero priorizar em minha vida, como o aperfeiçoamento profissional, por meio de cursos; o lazer e a vida pessoal”, diz.
– Nem todos os tipos de negócios podem deixar de operar ao menos em uma parte do final de semana – mas, com organização, é possível ao franqueado desfrutar de descanso e programar viagens sem que haja qualquer prejuízo em seu faturamento. Na MicroPro Desenvolvimento Profissional e Comportamental, que tem 35 escolas profissionalizantes no Estado de São Paulo, as atividades costumam estender-se por todo o sábado. “É um dia em que muitos estudantes têm tempo para fazerem seus cursos e não podemos descartar essa data”, diz Fábio Affonso, franqueador.
Porém, como as escolas funcionam em horário estendido, necessitando de um gerente para apoiar o franqueado na gestão, pode haver um entendimento entre ambos para que o franqueado tenha mais sábados livres. “A maioria de nossos franqueados ou não trabalha aos sábados ou trabalha apenas em alguns sábados mensais – e não o dia inteiro”, comenta o franqueador.
Ele acredita que a presença do franqueado na operação é fundamental para o bom desempenho do negócio e, assim, aconselha os franqueados a terem plena ciência do que acontece em suas unidades franqueadas. “Porém, nosso negócio oferece a flexibilidade de poder programar viagens e ausências e não trabalhamos aos domingos, o que é positivo para as famílias”, pondera.
Numa microfranquia MicroPro (escola física para cidades de 70 mil habitantes), investem-se R$ 89 mil, com taxa de franquia de R$ 10 mil. Numa franquia, investem-se R$ 120 mil, com taxa de franquia de R$ 30 mil. A MicroPro foi eleita, em pesquisa da ABF (Associação Brasileira de Franchising) a franquia do segmento de Educação com melhor índice de satisfação de franqueados na última pesquisa da entidade.
Cláudia Vieira é franqueada da MicroPro desde 2016. A história dela com a marca, porém, vem de muito antes: ela era funcionária da rede, atuando como diretora de uma das escolas. “Eu sempre trabalhei aos sábados. Quando me tornei franqueada, mantive essa rotina esporadicamente, administrando as idas à escola para poder viajar em finais de semana e ter mais tempo para minha família e para realizar atividades rotineiras. Sem dúvida, a presença do franqueado na escola faz toda a diferença no negócio e é indispensável. Mas, conseguimos fugir dos horários de shopping e administrar nossa rotina”, diz.
Pinta Mundi Tintas – Nassim Katri, fundador da Pinta Mundi Tintas, opera a rede varejista de tintas e acessórios para pintura desde 1992. Em 2017, iniciou a formatação da franquia, em um modelo de negócios compacto, focado em atuação exclusiva de lojas de rua, em horário comercial e custo reduzido de funcionários. A estratégia deu certo. “Nossas lojas funcionam de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, e, aos sábados, das 8h às 13h. O franqueado e seus colaboradores têm qualidade de vida”, comenta.
Além dessa característica, as lojas PINTA MUNDI TINTAS são instaladas em ruas de grande movimento – pontos mais acessíveis que os de shopping – têm baixa complexidade operacional, o que significa que seus estoques são fáceis de operar, os produtos têm longa validade e é necessário apenas um colaborador e o franqueado para operarem a loja. Todas essas facilidades, somadas à baixa complexidade, ao lucro e também à flexibilidade de horário, têm atraído franqueados com os mais variados perfis.
A engenheira química Luciana de Carvalho, de 50 anos, pós-graduada em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que trilhou carreira executiva em indústrias como a Basf, escolheu o bairro de Moema, na zona Sul de São Paulo, para inaugurar sua loja da Pinta Mundi Tintas. Um dos atrativos da marca, segundo a franqueada, foi justamente a flexibilidade de horários. “Sinto-me dona do meu tempo e isso é positivo. O meu negócio depende do meu empenho e saber que eu posso controlar minhas atividades é gratificante”, diz ela.
Luciana comenta que, ao procurar uma franquia, até pensou em lojas de shopping, devido à segurança maior. “Mas, o fato de ter de trabalhar em horários tão extensos e durante todo o final de semana me desanimaram. Agora, sei que fiz a melhor escolha”, diz ela.
Concorda com a franqueada seu colega de rede, Paulo Camargo. Franqueado da Pinta Mundi Tintas desde 2019, ele afirma que ganhou muita qualidade de vida após abrir a franquia no bairro da Vila Mascote, zona Sul de São Paulo.
Durante 15 anos, Paulo Camargo atuou como executivo financeiro de um frigorífico localizado em Itupeva (SP). Morando em São Paulo e tendo que viajar diariamente, ele se sentia cansado. “Essa viagem diária já era suficientemente estressante”, lembra. “Eu saía de casa às 5h30 e voltava depois das 20h. Não tinha tempo para nada”, diz. Cansado também do mercado corporativo, ele pediu demissão e resolveu apostar em uma franquia. “Fiquei curioso ao conhecer a Pinta Mundi Tintas e, depois de estudar bem o negócio, percebi que era muito fácil de operá-lo. Investi e estou bem satisfeito”, informa.
Hoje, o franqueado diz que fecha a loja às 18h e, em dez minutos, está em casa. Consegue viajar aos finais de semana e tem tempo para conviver com as filhas, de 10 e 14 anos, acompanhando de perto a educação das meninas. “Como franqueado, não é apenas nos finais de semana que tenho mais tempo. Depois da loja fechada, não tenho a preocupação de fazer compras, receber pedidos, nada que outra operação demande. É, realmente, um investimento que permite ter boa qualidade de vida”, comenta.
Numa Pinta Mundi Tintas investem-se a partir de R$ 189 mil (loja compacta).