O momento econômico, com redução do consumo e uma crise financeira cada vez mais acentuada pelo níveis de inflação e desemprego no país, já gera reflexos no setor de franquias. Ainda que os dados da ABF apontem para expansão de unidades, com algumas estratégias focadas na abertura de pontos no interior, grandes redes estão fechando unidades, medida que divide especialistas.
Em março deste ano, dez unidades O Boticário foram fechadas no interior de São Paulo, medida que foi atribuída pelo franqueado ao agravamento da crise econômica. No entanto, segundo o doutor em administração da IBE-FGV, Eduardo Maróstica, o fechamento de unidades pode não significar, exatamente, uma crise da marca. “Hoje não há tanto espaço para crescer. Isso não significa que a marca não cresça, mas que isso ocorre de maneira mais moderada e inteligente”, destaca o especialista.
Maróstica ressalta que há uma “tendência à multicanalidade”, com o uso cada vez maior do meio digital para substituir as unidades físicas. “Enquanto o varejo recua 10 a 15%, a internet cresce 10%”, lembra o doutor em administração da IBE-FGV. “É natural que as empresas mudem seu modelo de atuação. Hoje, abrir uma franquia da Boticário custa entre 500 mil a um milhão de reais. É natural que a empresa não queira comprometer sua marca”.
Já para o advogado especialista em franquias, Gabriel Hernan Facal Villarreal, o fechamento de unidades de grandes redes é um indício de cautela redobrada na hora de abrir uma franquia. “Este não é o momento de teste. Empreender já e arriscado e agora é ainda mais arriscado, então acho que o candidato tem que procurar estabilidade“, ressalta o advogado ao apontar algumas medidas que devem ser adotadas antes de abrir uma nova unidade, como buscar por marcas consagradas e evitar estratégias novas, como a expansão para o interior.
“Vender no interior é uma experiência absolutamente nova. Quando você compra uma franquia, você compra a segurança de não assumir o risco sozinho. Se você fecha contrato com quem conhece o caminho A para trilhar o caminho B, você está assumindo riscos”, alerta o especialista. Segundo ele, se grandes redes estão fechando unidades, “é porque algo muito complexo está acontecendo”. “Algumas franquias são tão corretas que orientam o franqueado a fechar antes que ele perca dinheiro, de maneira preventiva”, lembra Villarreal, ao atribuir a redução das redes à crise do varejo. “O cliente final não está comprando e as unidades fecham. Por melhor que seja a marca ou o negócio, o cliente é o chefe de tudo. Se ele não trouxer o dinheiro, a gente fecha”, conclui o advogado.
Redes de conversão
Entre as oportunidades do atual momento econômico, Villarreal aponta as “redes de conversão” (quando um negócio sem marca assume uma bandeira forte) como o modelo mais propício hoje em dia. “Com a crise, as marcas menos preparadas vão deixar de existir, o que gera um ambiente muito propício para franquias de conversão”, avalia o advogado.
O especialista lembra ainda que é preciso tomar os cuidados básicos antes de decidir abrir uma franquia, como a análise minuciosa da Circular de Oferta de Franquias, realizando contato com os atuais e com os antigos franqueados da rede para checar a saúde financeira da marca. “A franquia parte do pressuposto de que há acesso a informações e parte dessa revelação é poder conversar com quem já encerrou o negócio. Essa é a maior ferramenta que a lei dá para o candidato a franqueado”, lembra Villareal.
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