Nascida em Monte Alto, interior de São Paulo, Cecília Victório sempre teve um pé na cozinha. Quando criança passava as tardes acompanhando sua avó, vinda da Itália, preparando as delícias para família. A curiosidade a levava a perguntar quais ingredientes eram utilizados e o porquê. “Minha avó utilizava muita canela, manjericão, orégano, sempre presentes na culinária italiana. As receitas nunca tinham uma quantidade certa de itens, ela me dizia ‘um pouco disso, um pouco daquilo’”, lembra Cecília emocionada.
Aos 17 anos a empreendedora se candidatou a uma bolsa para estudar nos Estados Unidos onde, além de aprender, ainda prestava atenção em sua grande paixão, a culinária. Durante sua estadia no exterior, Cecília recolheu receitas típicas das regiões por onde passava, como o famoso Red Velvet, bolo de massa leve e vermelha, recheado de cream cheese.
Quando retornou ao Brasil, apesar do desejo de cursar administração de empresas, optou por seguir a carreira em letras, com especialidade em língua inglesa e atuou como professora em colégios públicos e particulares, para 1º e 2º graus, na época em Osasco. Cecília também morou em Porto Alegre, onde decidiu conhecer um pouco mais sobre sua origem visitando colônias e lavouras de italianos. Além da cultura, com saudosismo, procurou entender a culinária e as histórias de sua avó, se aprofundando nas receitas de doces, pães e cucas.
Em 1995, casou-se e se mudou para São Paulo, onde passou a trabalhar como secretária em uma multinacional especializada em produtos agrícolas e alimentícios. Também atuou na extinta Cica, onde sua paixão por alimentos voltou a aflorar. Ela, que atuava como secretária, pediu aos chefes para conhecer as linhas de produção da fábrica e, posteriormente, foi transferida para a área de análises dos enlatados como milho, ervilha e molho de tomate. “Sempre gostei muito de ensinar, mas também aproveitei ao máximo os outros empregos. Acredito que o ser humano tem inúmeras capacidades que variam de acordo com a necessidade”, afirma Cecília.
Em 1998, a necessidade de cuidar do primeiro filho a fez parar de trabalhar fora e dedicar-se à família. Durante as tardes, Cecília assistia a programas de culinária na TV, gravava e anotava as receitas para reproduzi-las em casa, sempre com seu toque especial. “Percebi o quanto gostava e aquilo me fazia bem. Dediquei-me aos bolos, produzia para a família, aniversários e para dar de presente para amigos e na escola dos meus filhos, tudo sempre com parte da receita adaptada por mim”, conta.
O sucesso dos bolos fez com que Cecília recebesse pedidos maiores, como casamentos. Todos eram produzidos de maneira caseira em sua própria cozinha, apenas por ela. Isso a fez repensar no que gostava de fazer, quais eram seus sonhos.
Foi justamente um sonho que a levou para o empreendedorismo. “Uma vez sonhei que estava dentro de uma cafeteria. Vi o balcão em formato de ‘L’, um pai com uma criança saindo por uma porta de vidro. Era aquilo que queria fazer, unir a família em torno de uma mesa, mas não só a de casa, vender bolos em pedaços para reunir colegas de trabalho, amigos de faculdade no café da tarde”, lembra ela.
Cecília então decidiu buscar redes de franquias de bolos caseiros, porém, nada se assemelhava ao desejo dela. A empreendedora visitou algumas marcas, experimentou os produtos, mas as redes ofereciam apenas bolos para levar para casa e todos feitos com receitas únicas, os mesmos ingredientes que eram saborizados ao final da receita.
“Meu desejo era recomeçar oferecendo o melhor de mim aos clientes, levando a minha verdade, a minha história”. Foi assim que Cecília decidiu investir em sua própria marca, a Bolos da Cecília. Mais uma vez ela reuniu pessoas, antigos conhecidos que atuavam no ramo de franquias e preparou diversos sabores de bolos, todos com seu toque especial, ingredientes frescos e selecionados, sem adição de conservantes e preparo 100% artesanal, e ofereceu aos conhecidos para que experimentassem e aprovassem suas receitas.
O passo inicial estava dado, a Bolos da Cecília já nasceu formatada para ser uma franquia de sucesso. A degustação dos 12 bolos rendeu sócios que transformaram o sonho em realidade. A primeira loja, inaugurada em 2013 na Granja Julieta, possuía o modelo desejado por Cecília, bolateria e cafeteria, sendo um atrativo para os escritórios da região. Até então, apenas cinco pessoas trabalhavam na unidade, sendo necessário que continuassem suas tarefas madrugada afora.
O primeiro bolo comercializado foi o de laranja, acompanhado do de cenoura, limão e maçã. Tempos depois a segunda unidade foi inaugurada e surgiu, o que é considerado por Cecília, uma grande dificuldade. “Por serem receitas próprias, segui os passos da minha avó, ‘um pouco disto, um pouco daquilo’, não mensurava os ingredientes. Como reproduzir o mesmo bolo em todas as unidades? Passei dias contando os produtos e repetindo receitas para chegar em um padrão. Sabor por sabor, receita a receita”, explica.
No início, a Bolos da Cecília comercializava 20 sabores de bolo, hoje são mais de 100, incluindo bolos salgados. A marca foi a primeira rede de franquias a comercializar o famoso Bolo de Churros. Responsável por todas as receitas, ela continua buscando inspiração no Brasil e no exterior para criar novas receitas. Recentemente a rede incluiu bolos Premium em seu cardápio, pensando em festas de aniversário, por exemplo.
Hoje, a rede possui 21 unidades franqueadas em funcionamento em São Paulo, Brasília, Paraná e Rio de Janeiro, onde tem feito muito sucesso. Além do treinamento inicial, todos os franqueados recebem as receitas específicas de cada bolo e, no caso da linha Premium, um vídeo gravado por ela, para passar a receita. “Cada um dos sabores leva ingredientes específicos e tem um tempo certo de descanso, na batedeira ou para ficar no forno. Se as receitas não forem seguidas à risca, o bolo não tem o mesmo sabor”, conta Cecília.
Criada para ser diferente das demais, a rede Bolos da Cecília faturou, em 2017, R$ 5,1 milhões e mostra todo o seu potencial oferecendo não apenas o bolo inteiro, mas também pedaços do produto que podem ser consumidos na própria loja, acompanhados de cafés gourmet, salgados, refrigerantes, entre muitos outros. “Quero reunir famílias e amigos em torno da mesa, utilizar meu saudosismo para que outras pessoas aproveitem e se lembrem de momentos agradáveis enquanto degustam um bom bolo. Bolo é memória, resgata aquilo que somos e gostamos de verdade, e não foi feito para se comer sozinho”, finaliza Cecília Victório.