A crise política volta a dar o tom e influenciar diretamente a intenção de consumo das famílias paulistanas. Em junho, o Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) recuou 1,2%, ao passar de 78,6 pontos em maio para 77,7 pontos em junho. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, ainda houve forte crescimento, de 23,4%, quando o ICF se situava em 63 pontos.
O ICF é apurado mensalmente pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) e varia de zero a 200 pontos, sendo que abaixo de 100 pontos significa insatisfação e acima de 100 pontos representa satisfação em relação às condições de consumo.
Dos sete segmentos que compõem o ICF, cinco registraram retração, sendo que os itens relacionados ao emprego foram os que mais contribuíram para a queda geral no mês. O item Perspectiva Profissional recuou 3,8% atingindo 103,7 pontos. Já o item Emprego Atual voltou a ficar na área de indiferença de 100,9 pontos, ou seja, as respostas positivas, tecnicamente, igualam-se às negativas. A queda em relação ao mês anterior foi de 1,8%.
Na sequência veio o item Renda Atual, que passou de 89 pontos em maio para 87,2 pontos em junho, recuo de 2,1%. Na comparação com o mesmo período do ano passado, houve crescimento de 25,2%, a maior variação anual da série para o item. Atualmente, são 25% dos paulistanos que dizem que a sua renda está melhor do que há um ano, enquanto em junho do ano passado esse porcentual era de 20%.
O consumidor paulistano também revelou sua insatisfação no item Acesso ao Crédito, que sofreu queda de -0,7% e se posicionou com 75,2 pontos. Já na comparação anual, houve crescimento de 20,7%. O mesmo foi observado em Perspectiva de Consumo. O item recuou 1,3% e atingiu os 74 pontos. São 48% dos paulistanos que dizem que devem consumir menos nos próximos meses.
De acordo com a FecomercioSP, apesar de a taxa Selic estar caindo de forma acelerada, os juros para o consumidor na ponta ainda estão muito elevados, e isso mantém a dificuldade de financiamento de compras a prazo.
Já os itens Nível de Consumo Atual e Momento para Duráveis foram os únicos que apresentaram crescimento no mês e registraram pontuação de 50,2 e 52,9, respectivamente.
As famílias com renda de até dez salários mínimos foram as que mais sentiram os efeitos da crise. O ICF desse grupo recuou 1,8%, ao passar de 76,4 pontos para 75 pontos em junho. Na mesma base de comparação, o índice de intenção de consumo das famílias com renda superior a dez salários mínimos subiu levemente (0,5%), atingindo 85,5 pontos.
Para a assessoria econômica da Federação, a queda do ICF no mês de junho já era esperada por causa da nova tensão política. Quando aumenta os riscos político e econômico, as famílias repensam gastos e se tornam mais cautelosas. O dado de julho deve seguir essa tendência negativa, ainda sob os reflexos da atual turbulência, mas, de qualquer forma, na comparação com o mesmo período do ano passado, o saldo é positivo.
Metodologia
O Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) é apurado mensalmente pela FecomercioSP desde janeiro de 2010, com dados de 2,2 mil consumidores no município de São Paulo. O ICF é composto por sete itens: Emprego atual; Perspectiva profissional; Renda atual; Acesso ao crédito; Nível de consumo atual; Perspectiva de consumo; e Momento para duráveis. O índice vai de zero a 200 pontos, no qual abaixo de 100 pontos é considerado insatisfatório e acima de 100 pontos, satisfatório. O objetivo da pesquisa é ser um indicador antecedente de vendas do comércio, transformando-se, com base no ponto de vista dos consumidores e não no uso de modelos econométricos, em uma ferramenta poderosa para o varejo, para os fabricantes, para as consultorias e para as instituições financeiras.