Dados recentes da Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia trazem um panorama interessante sobre o crescimento de idosos no mercado de trabalho. De acordo com o levantamento, entre 2013 e 2017, o número de pessoas com 65 anos ou mais com carteira assinada aumentou 43%. Os números ratificam a mais nova pesquisa feita pela Robert Half, empresa de recrutamento de cargos de média e alta gerência, que mostra uma maior aceitação destes profissionais no mercado. Pelo levantamento, 91% das empresas contratariam um profissional com 50 anos ou mais.
Toda essa movimentação em torno da maior presença da terceira idade no mercado de trabalho tem se refletido também na busca deles por capacitação. A MoveEdu, maior plataforma edtech – education technology – do país, observou no último ano uma procura maior de idosos por cursos profissionalizantes de informática e inglês. Na visão de analistas da companhia, a demanda maior por aulas reflete um interesse da terceira idade em se preparar melhor para a reinserção no mercado de trabalho.
“A maior parte desse público procura se atualizar sobre a área em que pretendem atuar. Por terem um aprendizado de outra época, entendem que precisam se reciclar para competir com quem já está inserido no mercado”, explica Rogério Gabriel, presidente e fundador da MoveEdu.
Conforme pontua o diretor da Microlins, uma das maiores redes de ensino profissionalizante do país, Rafael Cunha, o interesse por esses temas ocorre por eles serem muito exigidos pelo mercado atual de trabalho. “São cursos que faltaram na formação deles e o ensino profissionalizante é uma via mais rápida para repor essa lacuna. Ao aprender o conteúdo com mais agilidade, é possível se inserir mais rapidamente na área em que se deseja atuar”, explica.
Reinserção e melhora da saúde
É esse o caso de Isabel Maria da Silva, de 73 anos. Aposentada, ela queria tornar a rotina mais dinâmica. Por isso, decidiu aprender um pouco mais sobre o tema que o mundo inteiro comentava mas ela não compreendia muito bem: a tecnologia. Para entrar nesse universo tão diferente, procurou a Microlins de Casa Amarela, bairro na região norte de Recife, Pernambuco, e se inscreveu no curso de Informática E Tecnologia. “No começo ela tinha um pouco de receio de não conseguir acompanhar as aulas. Mas, com o nosso apoio e muita dedicação dela, hoje já evoluiu e adora as aulas”, conta Tassyana Vasconcelos franqueada da Microlins Casa Amarela.
Além de aprender mais sobre a área e se capacitar, Isabel passou também a ter outros benefícios, como uma maior integração com a turma e amizades feitas, além de uma atividade mental maior – um bom benefício para evitar depressão e doenças do gênero. “O benefício da capacitação permite a recolocação no mercado. Porém, pensando no quesito social, o retorno aos estudos é muito positivo também para a saúde do idoso, pois o mantém ativo e sempre com corpo e mente ocupados”, ressalta Tassyana.
Para dinamizar o negócio
Além de ajudar em questões de bem-estar mental, o retorno aos estudos também pode ser visto como uma alternativa para impulsionar o trabalho da terceira idade. Contar com a tecnologia em modelos de negócios é algo já comum no mundo empreendedor, mas não é tão usual para a faixa etária acima dos 60 anos. Para entrar nesse universo das facilidades tecnológicas e “não ficar para trás”, como ela mesma define, Maria Nazaré de França, de 70 anos, foi buscar o auxílio da Microlins de Xinguará, município do Pará. Lá, ela faz o curso de Informática e Tecnologia para dinamizar a loja de produtos de higiene que possui. Com a informática, o controle de itens em estoque ou vendidos em um dia se torna mais fácil de realizar. “Essa facilidade nos processos é muito importante, pois ela ganha tempo para se preocupar com outras demandas do negócio”, diz Eliane Pardinho, gerente da unidade.
Há quatro meses estudando, ela comparece às aulas três vezes por semana para se especializar. Com a ajuda de um professor que resolve suas dúvidas, Nazaré segue evoluindo. “Ela tem provado que voltar a estudar nessa idade é muito benéfico: além de manter a mente ativa, ela ainda se beneficiará das vantagens que a tecnologia pode levar ao negócio dela”, comenta a gerente.