Maioria no Brasil, as pessoas de pele preta vêm ocupando cada vez mais espaços de destaque no país. Segundo dados do estudo Empreendedorismo Negro no Brasil, realizado pela aceleradora de empresários negros PretaHub, da Feira Preta, em parceria com a Plano CDE e JP Morgan, cerca de 51%, dos brasileiros que empreendem são pretos ou pardos. Esses empreendedores e empreendedoras movimentam R$ 1,7 trilhão por ano no país.
Para que eles cheguem ao topo, os caminhos costumam ter muito mais obstáculos. Márcio Cafezeiro, CEO & Co-Founder da IP School – Inglês Particular é prova disso e costuma dizer que a cor da sua pele “torna as montanhas mais altas”, já que percebe o preconceito até hoje. Mas, ele afirma que não gosta de se fazer de vítima e que quando há vitória, ela é melhor ainda, por ser conquistada com maiores dificuldades.
Ainda assim, sabe que este cenário precisa mudar. Tendo Rauel Araruna e Fábio Ferreira, ambos brancos, como sócios, ele conta que, muitas vezes, tratam apenas os outros dois como donos da empresa. Em outras oportunidades, as pessoas se surpreendem quando é ele que sabe falar fluentemente a língua inglesa em reuniões, encontro e convenções.
Em seus meios de convívio, Cafezeiro também costuma ser minoria: ele é um dos poucos treinadores de inteligência emocional de pele preta, um dos poucos dono de escola, um dos poucos em óperas e museus. “Chego aos lugares e as pessoas perguntam para quem trabalho ou falam somente com meus sócios, isso é muito comum. Acredito que a melhor forma de responder seja por meus resultados e eles falam por si só, mas é desafiador mesmo. É muito comum esse tipo de reação da sociedade e eu não posso e nem me deixo abater”, garante.
O caminho que trouxe Márcio Cafezeiro até aqui
Márcio Cafezeiro sempre teve uma meta de vida: ter seu próprio negócio antes de completar os 30 anos de idade. O objetivo foi conquistado com antecedência, já que hoje, aos 35 anos, ele é CEO & Co-Founder da IP School – Inglês Particular há seis anos. Mas, para isso, a trajetória foi árdua, de muito trabalho e estudo.
Ainda no Ensino Médio, Márcio cursou técnico em publicidade e propaganda. Seguindo na mesma área, se formou em Marketing, pela Uninove. Depois, fez especialização em Logística e Marketing no Senac.
Mas, ele também se especializou em outra área: o desenvolvimento humano. Nesta, os certificados são diversos. Com eles, ele se se tornou coach profissional, além de terapeuta e programador neurolinguístico.
Antes mesmo dos diplomas e certificados, Cafezeiro trilhava seu caminho até chegar à fundação da IP School – Inglês Particular. Ele é autodidata. Aprendeu inglês, principalmente, assistindo a filmes e “dando a cara a tapa”, como gosta de dizer. Essa vontade de aprender e de encarar desafios, inclusive, lhe abriu caminhos na carreira.
Dos cinco aos 20 anos de idade, o CEO esteve em um ramo bem diferente: foi jogador de futebol profissional, passando por times como Corinthians e Palmeiras. Em 2006, parou de vez com o futebol e viu sua vida mudar completamente. O primeiro emprego formal foi como vendedor de cursos de inglês, porta a porta. Depois disso, foi trabalhar como operador de telemarketing e, posteriormente, foi contratado em um cartório de certidões, como auxiliar administrativo. Foi nesta etapa que o inglês começou a fazer a diferença na vida dele. Um cliente, que só falava inglês, ligou para o cartório e o jovem era o único que conseguia atendê-lo. “A partir daí, comecei a trabalhar diretamente com o dono do cartório e fiquei por lá durante três anos, quando pude ser gerente de uma equipe de 17 integrantes. Até que surgiu uma oportunidade em uma indústria de Guarulhos e comecei a trabalhar lá. Foi nesse emprego que tive as maiores oportunidades no exterior, em virtude do meu inglês. Isso ajudou a desenvolver minha habilidade no idioma”, conta.
Saindo desse emprego, ele foi atuar em outra fábrica. Pouco mais de um ano no trabalho, ele foi demitido. “Foi aí que percebi que estava na hora de pôr em prática meu plano de ter algo próprio”, revela.
Por um tempo, Márcio deu aulas de inglês em uma escola, mas logo começou a conversar com seu atual sócio, Rauel Araruna, sobre a possibilidade deles abrirem uma escola de inglês. Em 2014, eles fundaram a IP School – Inglês Particular, com uma metodologia totalmente diferenciada, a fim de realmente ensinar e extrair o melhor da individualidade de cada aluno.
“Foi nessa época que comecei a investir mais no desenvolvimento humano, porque eu queria formatar toda essa metodologia. Eu fui me especializar e entender o que era o coaching e fui em busca da minha certificação de terapeuta de programação neurolinguística. A minha proposta é melhorar a vida das pessoas e eu procuro trabalhar com pessoas que querem ter paixão pela vida”, explica o CEO.
Atualmente, a IP School conta com 13 escolas, todas no estado de São Paulo, e expande-se pelo sistema de franquias. “Nós dobramos de tamanho durante a pandemia e pretendemos fechar o ano com pelo menos 16 unidades em operação. É um crescimento sustentável e apoiado por uma metodologia própria, que visa ao aprendizado real do aluno, sem empurrar nele livros e materiais desnecessários. Nosso aluno aprende a falar e, por isso, temos credibilidade”, orgulha-se. A previsão de faturamento da IP School em 2021 é de R$ 2 milhões.
Empreendedorismo social
Hoje, além da IP School, ele tem também o Instituto Márcio Cafezeiro, aonde são ensinadas diferentes disciplinas, por uma equipe de profissionais. Entre elas, estão Inteligência Emocional, Primeiros Socorros, Convivência e Valores, Palestras, Nutrição, Vendas, Meditação, Artes Cênicas e Educação Financeira.
Mas o propósito do Instituto é ainda maior. Em uma parceria com o projeto “O Sonho É Nosso”, são feitas arrecadações e toda segunda-feira feira, à noite, são entregues marmitas para pessoas em situação de rua de Guarulhos, que também recebem o café da manhã aos sábados. Neste período de frio, agasalhos também são doados.
Ao longo do ano, outras atividades também são desempenhadas pelo Instituto, a fim de dar maior apoio para essa parte da população. Eles recebem serviços de odontologia, corte de cabelo, entre outros.