Se você já realizou algum financiamento, empréstimo ou qualquer compra a prazo com certeza teve seu CPF verificado. Checar os dados do cliente em plataformas como Serasa e SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) é uma prática comum entre as empresas para garantir o pagamento das prestações. Quem tiver alguma pendência no próprio nome, ou seja, quem estiver devendo, provavelmente será impedido de realizar a compra.
Essa é a realidade para aproximadamente 62,7 milhões de brasileiros inadimplentes que encontram dificuldades para conseguir acesso ao crédito de forma geral. O dado divulgado pelo SPC Brasil representa mais de 40% da população adulta brasileira. O resultado disso? Muita gente sem movimentar a economia.
Luz no fim do túnel
O cenário está prestes a mudar por conta da Lei do Cadastro Positivo, sancionada recentemente pelo governo federal. Diferentemente de banco de dados como o Serasa ou SPC que informam a situação atual de inadimplência da pessoa física ou jurídica, o Cadastro Positivo reúne informações sobre todo o histórico dos consumidores.
A iniciativa permite que cada brasileiro tenha uma nota de crédito (score) definida de acordo com o pagamento de suas contas, não o contrário. “Cada pessoa deve de um jeito e por um motivo diferente. Pode ter esquecido de pagar, a conta pode ter extraviado, o saldo talvez não era suficiente justo na hora do pagamento, o cartão pode ter sido clonado… são muitas as possibilidades. Muita gente nem sabe que está com o nome ‘sujo’”, afirma Carlos Alexandre Gomes, diretor executivo do Banneg Banco de Negócios.
Em sua visão, a nova lei será uma grande aliada em negociações futuras e beneficiará diretamente as conversões da franquia que trabalha com intermediação de crédito. “É de praxe checar a situação financeira de qualquer cliente em busca de crédito, mas ter acesso apenas ao que ele deve é algo muito vago e pontual. Agora será possível ter uma noção bem mais ampla sobre seu comportamento como pagador, que é o que interessa”, afirma.
Expectativas
Para compor o banco de dados, o Cadastro Positivo reunirá informações de todos os cidadãos sobre operações de crédito e de serviços públicos, como pagamento de contas de luz, água e telefone. Informações bancárias (saldos, extratos e movimentação de conta, por exemplo) são sigilosas e não serão inseridas no sistema. A participação do cadastro não é obrigatória e quem não quiser ter suas informações reveladas pode solicitar a exclusão a qualquer momento.
Já existe uma versão do Cadastro Positivo prestado por empresas especializadas, onde estão inseridas informações de aproximadamente seis milhões de pessoas. Com a nova lei, esses dados passam a ser de conhecimento público e, segundo o governo, é esperado incremento de dados de 130 milhões de consumidores por conta da adesão automática.
“O que mais acontece em empresas de crédito como o Banneg é essa restrição ao cliente por conta da situação do CPF. É uma situação que prejudica todos os envolvidos: a pessoa que já está devendo e não tem como limpar seu nome, e as empresas que ficam estagnadas por conta desses consumidores que não conseguem ter acesso ao crédito. É como andar em círculos, você não sai do lugar”, explica Gomes.
As novas regras passam a valer a partir do dia 9 de julho de 2019 e, de acordo com as previsões do Banco Mundial, a implantação do Cadastro Positivo pode reduzir em até 45% a inadimplência no país.