Dados do Indicador de Reserva Financeira do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) revelam que apenas 17% dos consumidores brasileiros pouparam ao menos parte de sua renda em maio – 75% dos entrevistados não conseguiram guardar nenhuma parte de seus rendimentos. O baixo número de poupadores tem se mantido estável desde janeiro deste ano, mês de início da série histórica.
A abertura do indicador por faixa de renda revela que é nas classes C, D e E em que o problema surge com mais força. Oito em cada dez (79%) pessoas que se enquadram nessa faixa de rendimento não conseguiram poupar dinheiro. Já nas classes A e B, o percentual de não-poupadores cai para 62% da amostra.
Entre os brasileiros que não pouparam nenhum centavo, 42% justificam receber um salário muito baixo, o que inviabiliza ter sobras no fim do mês. Outros 18% foram surpreendidos por algum imprevisto financeiro e 16% relataram falta de controle ou de disciplina nos gastos.
A maior parte dos brasileiros também não tem o hábito de poupar. De acordo com a sondagem, 35% dos consumidores dizem poupar habitualmente, sendo que 31% poupam o que sobra do orçamento e 5% poupam sempre o mesmo valor. Pouco mais da metade dos poupadores (52%) precisaram dispor de parte de suas reservas em maio, sendo que 18% usaram para fazer frente a despesas extras, 15% para pagar as contas da casa e 11% para pagar dívidas. Já os imprevistos foram citados por 8%.
“Muitos consumidores só percebem a importância do hábito de poupar quando se confrontam com uma urgência. Desenvolver esse hábito é importante pois, além de trazer segurança, afasta o mau costume de gastar mais do que a renda permite, que pode até trazer uma satisfação imediata, mas compromete o bem-estar financeiro”, afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
57% escolhem a poupança como aplicação de investimento
Considerando o destino da reserva financeira, a maioria (57%) dos poupadores escolheu um tipo de aplicação de baixa remuneração, como a caderneta de poupança. Em segundo lugar, 27% dos entrevistados decidiram manter o dinheiro guardado na própria casa, opção não recomendada por questões de segurança e por não render juros. Em seguida aparecem opções mais sofisticadas de aplicações, como a Previdência Privada (11%), os fundos de investimento (8%), o CDB (6%) e o Tesouro Direto (5%).
Entre aqueles que mantêm o dinheiro em casa, as razões são variadas: 30% dizem preferir guardar seus recursos dessa forma devido à facilidade de uso, enquanto 21% dizem achar mais seguro e 19% alegam desconfiar das instituições financeiras. Esses poupadores ainda justificam-se dizendo que o dinheiro guardado não é muito (19%) e que não têm conta em banco (17%).
“É preciso acrescentar que as escolhas de investimento são influenciadas também pelo conhecimento escasso sobre as possibilidades de investir. É importante que aplicação escolhida esteja em linha com os objetivos da reserva financeira. Se o objetivo é proteger-se contra imprevistos, o conveniente é optar por uma reserva com alta liquidez, ainda que isso implique um rendimento menor. Por outro lado, se o objetivo é poupar para o longo ou médio prazo, aplicações menos líquidas, isto é, com menos facilidade para sacar, podem constituir um freio ao impulso de utilizar as reservas para o consumo corrente”, aconselha a economista.
37% poupam para se prevenir de doenças e imprevistos
O indicador mostra que dentre os brasileiros que possuem alguma reserva financeira, o objetivo principal é se proteger contra situações imprevistas e não necessariamente realizar um sonho ou fazer compras. No total, 37% dessas pessoas pouparam parte de suas rendas para se prevenir contra doenças ou imprevistos em casa, 29% para enfrentar uma possível demissão e 26% para garantir um futuro melhor para seus familiares e outros. Somente a partir do quarto lugar no ranking de citações é que aparecem opções relacionadas a consumo, como fazer uma viagem (25%), realizar um sonho de compra (19%), bancar os estudos (17%) e reformar a casa (16%).
Metodologia
O objetivo da sondagem é acompanhar, mês a mês, a formação de reserva financeira do brasileiro, destacando a quantidade daqueles que tiveram condições de poupar ao longo dos meses. O indicador abrange 12 capitais das cinco regiões brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Recife, Salvador, Fortaleza, Brasília, Goiânia, Manaus e Belém. Juntas, essas cidades somam aproximadamente 80% da população residente nas capitais. A amostra, de 800 casos, foi composta por pessoas com idade superior ou igual a 18 anos, de ambos os sexos e de todas as classes sociais. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais a uma margem de confiança de 95%.