O ano era 2016 e após uma série de tentativas profissionais, desde advocacia até construção civil, meu dinheiro acabou. Passei mais de quatro anos entre idas e vindas aos Estados Unidos e posso afirmar que é muito fácil “achar fácil” empreender em território americano. O mercado é dinâmico,abre-se uma empresa em minutos, contratações simples e desburocratizadas, impostos pagos sobre o lucro efetivo (não sobre faturamento) e crédito quase sempre muito barato. Tantas vantagens assim são ótimas, certo? Nem sempre.
Quando as facilidades são tantas o impulso inicial para tirar uma ideia do papel é mais simples, com isso: mais tranquilidade para empreender, mais gente no mercado, mais concorrência e qualidade.Bons sinais para o consumidor, que terá uma guerra para ser atendido,nem tanto para o empreendedor, que será apenas uma das partes no meio dessa guerra.
Em outra realidade, temos o Brasil, pintado como o inferno para os empreendedores: burocratizado, alta carga tributária, insegurança jurídica e relações trabalhistas complexas. Isso é ruim, certo? Nem sempre.
As dificuldades prévias acabam criando o efeito contrário do que percebe-se no mercado americano. São dificuldades que fazem com que a maioria das ideias não saia sequer do papel. Menos concorrência traz consigo menos qualidade. Sinais ruins para o consumidor, que será atendido com menos cuidado; nem tão ruins para o empreendedor que terá mais espaço no mercado.
Não tenho certeza se a explicação ficou clara o suficiente, mas em resumo: As facilidades para empreender nos Estados Unidos, os transformam no mercado mais competitivo do mundo enquanto as dificuldades em empreender no Brasil, o transforma em um dos mercados mais espaçosos e rentáveis do mundo.
A OAKBERRY, empresa que fundei em 2016, passou por esse “dilema” na pele. O modelo foi desenvolvido no ano anterior, nos Estados Unidos, mas a grande concorrência impossibilitou que eu começasse o negócio na Califórnia, conforme planejado. Os aluguéis eram caríssimos e não cabiam no meu orçamento. Forçado a inverter a ordem das coisas, comecei então o negócio em São Paulo, onde sou nascido e criado, em meio a uma – baita – crise política e econômica. A instabilidade foi vantajosa e “me ajudou” a encontrar um bom ponto de vendas, em um bom shopping por um bom aluguel. De lá para cá, são mais de 230 unidades, em 11 países, incluindo nosso aguardado american dream.
Escrevo tudo isso para fazer um pedido, quase um apelo. Precisamos parar de vender o Brasil como o inferno dos empreendedores e o país do fracasso certo para quem arrisca. É fundamental valorizar o Brasil como valorizamos os Estados Unidos.
Há uma grande chance em nossas mãos. Imaginem um país em que o empreendedor tenha a confiança do mercado americano e o espaço do mercado brasileiro. Teríamos uma janela de várias décadas de crescimento acelerado. Passaríamos então a filtrar pela competência e não mais pelo medo de agir.
Boas idéias morrem antes de sair do papel no nosso país e nós somos os culpados por essa morte prematura. Empreenda no Brasil, aproveite as oportunidades e o fim do rentismo. Se existe alguma vantagem em uma crise como essa, é o potencial de mudar radicalmente o prisma por onde enxergamos um mercado tão complexo, mas tão simples.