A duras penas muitas empresas estão tentando entender, reagir e aprender lições com a crise do coronavírus. Não tem sido diferente na Microcamp, onde exerço o cargo de CEO. Como uma empresa de treinamento na área de tecnologia, imaginávamos estar quase que totalmente transformados digitalmente, mas tudo foi por terra após nos defrontarmos com a pandemia da Covid-19. Em tempo recorde, a empresa – com 69 unidades, 2 mil colaboradores e 60 mil alunos em todo Brasil, precisou rever sua dinâmica de aulas, suas estratégias de vendas, a rotina de trabalho de seus colaboradores e o relacionamento com os alunos.
Continuamos aprendendo, mas já é possível elencar boas lições tiradas no meio de tantas incertezas e como elas serão responsáveis por mudar o futuro da minha empresa e de outras pequenas e médias ainda neste ano.
A primeira delas diz respeito ao uso da tecnologia. Quando o isolamento social acabar, esqueça retomar a sua rotina anterior. O que virou digital na “força” continuará a ser digital. Uma boa estratégia é lançar mão de tudo o que a tecnologia proporciona, afinal em tempo de isolamento social, é por meio dela que as pessoas estão se relacionando, interagindo, trabalhando, negociando, comprando, estudando. As reuniões presenciais e os treinamentos, talvez sejam extintos em 90% dos casos. Muitos perceberam a otimização de tempo e recursos via videoconferências.
Outro aprendizado: o home office, que foi adotado como a forma mais segura de preservar a saúde dos colaboradores, daqui pra frente tende a ser visto como uma alternativa nas pequenas e médias empresas para manter a produtividade e otimizar o tempo. O preconceito ou a resistência das PMEs em adotar esse regime deve acabar. Obviamente, é difícil adotar trabalho remoto full time, mas a flexibilização de um ou mais dias na semana deve ser avaliada. Não é só de redução de custos que estou falando, mas sim de negociação de salários com este benefício e qualidade de vida. Muitos funcionários perdem muito tempo em trânsito diariamente, e chegam na empresa cansados e estressados. Trabalhando em casa, além de tempo, eles ganham qualidade de vida; porém, é preciso ter disciplina e maturidade profissional, um diferencial que será cada vez mais valorizado pelas empresas. E entenda-se por maturidade profissional, a capacidade de adaptar-se a novas situações, ser flexível, responsável e comprometido. Fazer corpo mole em home office, definitivamente não é uma atitude exemplar em tempos de crise.
E por fim, a necessidade de se reinventar, revisitar conceitos, políticas e estratégias. Para se adaptar ao novo cenário, nossa empresa, por exemplo, precisou rever o seu modelo de negócio, assim, o formato de aulas que eram 100% presenciais passou para a ser totalmente online. Foi uma mudança radical, porque o contato e o relacionamento entre alunos e instrutores na escola sempre foram muito valorizados, justamente por fazer parte da filosofia da empresa: a interação é que gera atitude nas pessoas. Foi necessária uma adaptação instantânea e pela primeira vez na história, em 43 anos, a empresa passou a oferecer aulas cem por cento online. Com o feedback positivo dos alunos, ficou a pergunta: por que não adotarmos também essa opção, daqui pra frente?
Resta agora levarmos estes desafios como uma lição de casa para ser aplicada no futuro e não ficar esquecida neste momento de isolamento. Mas de uma coisa tenho certeza: em maior ou menor escala, pequenas e médias empresas sairão transformadas depois dessa crise