Mercado de franquias sofre com o gargalo da falta de treinamento

Por Márcia Queirós, co-fundadora da Fast Escova

Após a compra de uma franquia, o sucesso e o colher dos frutos vêm depois de múltiplos fatores bem trabalhados. Localização do negócio, capital de giro e concorrência são algumas das razões pelas quais um franqueado pode ter o crescimento tolhido ou, até mesmo, levar seu negócio ao fracasso. No entanto, uma franquia bem sucedida não depende apenas da atuação do franqueado, que deve seguir as diretrizes das franqueadoras. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o maior causador de ações judiciais entre franqueados e franqueadores é a carência de treinamento das franquias – 30% dos conflitos estão relacionados à falta de suporte.

Neste sentido, é preciso ser redundante: não há expansão de qualidade sem capacitação regular. A busca de investidores pelo modelo franchising tem inúmeros motivos e, um deles, é a padronização de processos e metodologias, a qual traz a expertise da franqueadora, que entendeu um modelo de negócio que seja lucrativo, perene e autossustentável. Sendo assim, franqueados constantemente treinados se adaptam às necessidades da marca com mais facilidade e adquirem autonomia do seu negócio com mais facilidade. É muito comum observarmos que, franqueados engajados nos treinamentos têm uma maior propensão a desejar adquirir outra franquia, já que a metodologia embarcada no seu negócio foi assimilada de uma forma mais eficiente.

A ABF, Associação Brasileira de Franchising, apresentou excelentes números do franchising neste ano, o que nos deu um fôlego ainda maior para pensarmos em expansão. Segundo a sua Pesquisa Trimestral de Desempenho do Setor de Franquias em 2024, as operações de franchising no país representaram um acréscimo de 7.473, em relação ao mesmo período de 2023, totalizando 191.376 operações em todo o Brasil. Em relação aos empregos diretos, o setor fechou o ano com 1,6 milhão de postos de trabalho, 4,9% a mais do que no mesmo período do ano anterior.

Apesar da avaliação animadora da maior entidade do setor do Brasil, um levantamento da Praxis Business trouxe, também neste ano, um dado alarmante: 45% das redes do país investem até R$ 50 mil por ano em treinamentos a seus franqueados. Redes que aplicam mais de R$ 300 mil em treinamentos representam apenas 16,7% da fatia de franqueadoras operando no Brasil. Se o setor avança a passos largos e convence investidores neste modelo de negócios, mas não treina seus pontos pulverizados em todo o país, podemos encarar em um futuro uma alta debandada de empreendedores do mercado de franquias. Não há possibilidade de sustentabilidade no negócio sem que toda a rede fale a mesma língua. E não é possível obter essa comunicação uníssona sem treinamento constante.

Não há escapatória: da rede que está começando a ganhar espaço, até os gigantes do mundo dependem do treinamento contínuo para manter a consistência da qualidade do serviço prestado. O McDonald ‘s, por exemplo, é reconhecido por seu extenso programa de treinamento, mesmo com seu histórico de sucesso e reputação da marca aparentemente inabaláveis. A “Hamburger University”, instituição de ensino dedicada a formar franqueados e funcionários, ampara todos os aspectos da operação de um restaurante da rede, desde procedimentos operacionais e gestão de pessoal, até marketing e atendimento ao cliente.

Para alcançar o verdadeiro sucesso no franchising, não basta escolher um modelo de negócios promissor ou contar com uma marca forte. Ainda que o sucesso do setor de franquias no Brasil esteja crescendo de forma impressionante, a falta de investimento adequado em capacitação pode ameaçar a sustentabilidade e a qualidade do serviço a longo prazo. Afinal, uma boa ideia não se sustenta sem a preservação da integridade do modelo de negócio, e constantes estudos para que ele se adapte às mudanças inevitáveis que iremos enfrentar.