A tão sonhada aposentadoria chega para muitos homens aos 65 anos, mas essa palavra não faz parte da vida do empreendedor Jilo Shimada, fundador e diretor de expansão da rede de franquias Via Certa Educação Profissional. Hoje aos 70 anos de idade, Jilo conta que a idade não é um empecilho para nada, já que o trabalho o move e se sente em condições de continuar contribuindo para o crescimento da empresa, usando a seu favor a longa experiência adquirida.
“Lógico que contamos com outros sócios na franquia que a diferença de idade chega a mais de 30 anos, mas isso é balanceado. O tempo me ensinou a não tomar decisões precipitadas, sempre ponderadas e consultar os demais sócios antes de decidir algo importante. No dia a dia do trabalho, procuro resolver à minha maneira, porém sempre com decisões prudentes”, observa o empresário que comanda o negócio ao lado dos sócios e amigos Décio Marchi, de 46 anos, e André de Oliveira, de 32 anos.
Ele revela que sua geração demora um pouco mais para lidar com assuntos que envolvem tecnologia, fato esse que é marcante na geração Z, que a conectividade é espontânea. Para Shimada, as inovações tecnológicas são as que exigem mais rapidez nas decisões na busca de conhecimentos técnicos.
Família de comerciantes
Natural do Paraná, criado na pequena cidade de Jussara, Jilo ajudava o pai na empresa familiar, o antigo armazém de Secos e Molhados, hoje muito conhecido como mercadinho ou supermercado. Lá ele atendia os clientes e fazia as entregas de bicicleta.
Aos 14 anos se mudou sozinho para a casa dos tios em Maringá (PR) para dar início aos estudos de técnico de contabilidade. Fora do horário escolar ajudava o tio no bazar. Quando alcançou os 18 anos resolveu dar um novo passo. Muito focado e em busca de alcançar um diploma, Jilo se mudou para a cidade de Marília, interior de São Paulo, para cursar administração de empresas, já que poucas cidades naquela época ofereciam esse curso.
O que o jovem não sabia é que ali ele fincaria suas raízes. Ele morou em Marília ao longo de 47 anos, constituiu família e criou muitos negócios, entre eles sua própria rede de franquias.
Ao longo da jornada acadêmica passou por muitos perrengues, como dividir uma quitinete com mais três amigos e dividir um único marmitex, muitas vezes sua única refeição do dia. Por outro lado, conseguiu emprego em grandes empresas. Ainda como acadêmico conseguiu emprego na Mesbla, uma loja de departamentos francesa muito tradicional no país na época; Bradesco e Volkswagen. Essa última alcançou muita experiência, principalmente por trabalhar dentro de uma empresa de grande porte e ganhar entre 5 e 6 salários mínimos, foi quando começou a melhorar financeiramente.
Criando o seu próprio negócio
Quando terminou a faculdade em 1974 usou o dinheiro que guardou para abrir o seu primeiro negócio próprio, um pequeno escritório de contabilidade, junto a um amigo da faculdade. Os jovens trabalhavam dia e noite, pois não tinham condições de pagar um funcionário. Com a experiência em contabilidade dos antigos trabalhos, Jilo começou a desenvolver serviços, que poucos escritórios da época faziam. Com isso, conseguiu formar sua própria carteira de clientes e outros escritórios também começaram a repassar alguns tipos de serviços.
Em um ano de empresa conseguiu comprar o maior escritório de contabilidade de Marília, na época financiado em 12 vezes.
Virada de chave
Algum tempo depois, um cliente ofereceu para o escritório o trabalho de processamento de dados. Como Jilo era o único que desenvolvia na cidade o serviço de correção monetária do ativo imobilizado, em que calculava manualmente através de índices de inflação, serviço bastante complexo devido às altas taxas de inflação na época, e uma infinidade de contas e itens que tinham que ser calculados minuciosamente, desde a data de aquisição para não acarretar infração fiscal, foi quando esse cliente propôs sociedade em uma empresa de processamento de dados, especificamente para realizar este tipo de trabalho em Marília e toda a região. Já que com o uso do computador o serviço que Jilo demorava uma semana para fazer manualmente, agora seria feito em até uma hora.
Sem capital para montar a empresa de processamento de dados, ele vendeu sua parte da antiga sociedade, e resolveu alugar as máquinas que eram ociosas nas empresas. Com isso, abriu em 1977, aos 25 anos de idade, o negócio que se tornou uma das primeiras empresas de processamento de dados no interior de SP. O sócio vendia o serviço e Jilo executava. Era uma dupla perfeita! No final do primeiro ano compraram à vista dois carros zero, sendo o modelo do ano, casas, terrenos e sítios, apenas com 26 anos de idade.
Mas essa ascensão durou pouco tempo. Com pouco mais de um ano do novo negócio, o Governo mudou algumas leis e simplificou o serviço de correção monetária do ativo imobilizado, substituindo por outra modalidade mais fácil podendo calcular por contas e não item por item como era antes, dando oportunidade para a maioria executar manualmente este trabalho, prejudicando seu faturamento. Com isso, Jilo teve que mudar e criar novos serviços dentro da contabilidade usando o computador, já que muitas empresas não tinham o equipamento na época, pois era algo muito caro.
Em 1979 os dois sócios, usando da ousadia, uma característica dos jovens, adquiriu o primeiro modelo de computador fabricado no Brasil, com apenas 8 kb de memória RAM, e HD de 5 mb, mas que custou uma pequena fortuna, cerca de 50 mil dólares.
Mais uma vez o empresário encontrou barreiras no negócio. Primeiro, o computador adquirido não tinha capacidade de executar grandes quantidades de serviços como era esperado, isso fez com que ainda necessitasse recorrer a computadores de grandes empresas para locar horas, não diminuindo os custos pretendidos, pelo contrário, ficou com um “elefante branco na mão”. Outro desafio ocorreu no início de 1990, quando o governo Collor assumiu, além dos bloqueios dos depósitos bancários que a empresa tinha, permitiu a entrada de computadores importados no Brasil, muitas empresas começaram a desenvolver o mesmo serviço que Jilo executava, e em poucos meses ele viu a quantidade de serviço despencar.
Da contabilidade para cursos profissionalizantes
Em 1993 Jilo conheceu o fundador da primeira franquia de cursos profissionalizantes do Brasil, que na época tinha unidade própria apenas em Lins (SP). Ele usou o prédio do antigo trabalho para abrir uma unidade da marca em Marília, e em apenas uma semana preencheu as mais de 300 vagas disponíveis, pois não havia concorrência na época.
Em pouco tempo abriu oito escolas na região, devido à alta demanda, porém acabou entrando em dívidas com o financiamento dos computadores nas escolas, muito caro na época. Com o aumento das dívidas, foi necessário vender praticamente todos os bens e Jilo se desfez de sete unidades, ficando apenas com a operação de Marília.
Pouco tempo depois, essa escola profissionalizante, que era comandada por um empresário hoje muito conhecido no meio de franchising, virou franquia, e com isso, Jilo se tornou um dos seus primeiros franqueados.
Nova parceria
Após a venda da marca para outro grupo, Jilo conta que a dificuldade do suporte no atendimento com os franqueados ficou insustentável para se manter naquele negócio. Ele que há alguns anos tinha criado laços de amizade com o também franqueado da mesma marca em Birigui (SP), Décio Marchi Junior, visualizaram a oportunidade de juntos criarem sua própria rede de franquias, já que Décio também notava a queda na qualidade no suporte de toda a rede.
Em 2012 surgiu a Via Certa Educação Profissional, com a criação de uma metodologia própria. Como o contrato com a antiga franquia já havia expirado há algum tempo, eles apenas viraram a bandeira do negócio e mesmo com a mudança não perderam nenhum aluno. Pouco tempo depois, o André, sobrinho do Décio, entrou na sociedade para dar ainda mais peso ao time.
Os empresários resolveram que a sede do empreendimento seria na cidade de Birigui. Com isso, Jilo resolveu pegar suas malas e partir de vez para uma nova cidade, levando na bagagem muita sabedoria e aprendizado que os últimos 40 anos tinha proporcionado.
Sistema de ensino
Após dois anos de mercado, a Via Certa entrou para o franchising e desde então vem se tornado referência nacional em educação, a rede soma mais de 150 mil alunos formados, e uma grade com 44 cursos em diversas áreas, como: administração e vendas; beleza e estética; gastronomia; idiomas; indústria e energia; informática e tecnologia; reforço escolar e saúde. A duração do curso varia de seis meses a dois anos, e o custo mensal é bem acessível, a partir de R$ 130.
Durante a pandemia a marca adotou o Sistema Flex, onde agora o aluno escolhe se quer fazer o curso totalmente online, híbrido ou presencial. Essa estratégia acelerou a busca de novos alunos, que aproveitaram para profissionalizar, além de alcançar novos franqueados.
A Via Certa possui modelo de negócio com investimento inicial a partir de R$ 90 mil, incluso a taxa de franquia e taxa de instalação. O faturamento bruto médio mensal é a partir de R$ 60 mil podendo chegar a R$ 300 mil, dependendo do tamanho do território. O lucro líquido mensal é de 30% a 40% do faturamento, tendo um prazo de retorno estimado de 12 a 24 meses.
Atualmente a rede conta com 51 operações nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Paraná, Minas Gerais, Paraíba, Ceará, Santa Catarina, Bahia, Sergipe e Pernambuco. A Via Certa visa chegar a 100 franquias até o final de 2023 e faturamento anual de R$ 30 milhões.
Recorde de matrículas
Os cursos profissionalizantes se tornaram uma alternativa ainda mais forte para quem procura se qualificar e conquistar sua primeira vaga de emprego. Diante desse cenário, a Via Certa registrou recorde de matrículas durante o último mês de janeiro. Foram 2.672 matrículas, com um aumento em torno de 800 novas matrículas, comparado ao mesmo período do ano passado.
“Em 20 anos de experiência no setor educacional nunca tinha visto algo parecido no mercado. Somente em janeiro deste ano a rede identificou recorde de procura diária de pessoas interessadas pelos cursos, e isso se repetiu ao longo de fevereiro e março. No geral, vimos o interesse em todos os cursos, principalmente do público da classe C”, diz o diretor de expansão da Via Certa.
Não existe idade para empreender
Força de vontade, dedicação e resiliência são características necessárias para quem busca ter o próprio negócio, e esses atributos Jilo carrega consigo. O diretor de expansão revela que seu maior sonho como empresário é tornar a Via Certa a maior e mais eficaz escola de cursos profissionalizantes do Brasil e acredita que alcançará essa meta.
Já no campo pessoal, ele se sente totalmente realizado. Com duas filhas formadas e bem encaminhadas profissionalmente, hoje seu hobby é viajar, e para isso não abre mão de ao menos fazer duas viagens ao exterior por ano. Tanto que já conhece ao menos 20 países. Essas viagens possibilitam não somente relaxar, mas também conhecer novas culturas, e de quebra ainda trazer sempre algo novo que pode ser implementado no próprio negócio.
“Todo aquele que quer ser empreendedor tem que ter em mente que as dificuldades são muitas. E para vencer esses desafios é necessário se reinventar e inovar todos os dias para acompanhar a evolução do mercado. Ter resiliência, trabalhar em dobro para superar. A vida de empreendedor tem altos e baixos. A necessidade de se esforçar muito mais que um trabalho CLT é necessário. Não basta ter capital para empreender, é necessário ter garra! Por isso, analisamos com muita cautela o perfil para quem quer empreender dentro da Via Certa. O esforço é fundamental para qualquer negócio. Essa é a lição que deixo para os mais novos que estão entrando”, finaliza o diretor de expansão da franquia Via Certa Educação Profissional, Jilo Shimada.