Mais de 40% das crianças brasileiras entre 6 e 7 anos não sabiam ler ou escrever em 2021. Ao todo, 2,4 milhões de crianças não estão alfabetizadas nessa faixa etária, segundo análise da organização Todos Pela Educação, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) feita pelo IBGE.
Ainda, a pesquisa revela que o analfabetismo nessa faixa etária durante o período analisado foi maior entre crianças brancas: 88,5%, contra 69% entre crianças pretas e 52,7% entre crianças pardas. Os efeitos da pandemia da Covid-19 vêm deixando sérias marcas no ensino. A suspensão de aulas presenciais obrigou as escolas públicas e particulares a se adaptarem nos últimos dois anos.
Suzane Oliveira Pickler, 30 anos, administra uma unidade da franquia Monitorias Reforço Escolar em Porto Alegre (RS), e conta que o reflexo do ensino atingiu todas as faixas etárias, desde os pequenos em processo de alfabetização, como também os jovens em fase preparatória para o vestibular.
A preocupação da jovem franqueada com a retomada das aulas presenciais está ligada justamente ao fato das dificuldades que os alunos deverão sentir com o retorno dessas aulas.
“Tem sido um momento desafiador para as famílias brasileiras. Além da adaptação das rotinas das crianças e famílias, elas precisarão se readaptar ao modelo presencial após fazerem os estudos em casa nos últimos dois anos. Tudo isso pode resultar em queda no desempenho das disciplinas e das notas”, avalia a franqueada.
De olho no que o mercado pede
A Monitorias surgiu no mercado de franchising em meados de 2020, em meio a pandemia, como opção para auxiliar os alunos e os pais nas dificuldades com o aprendizado. Por ter o modelo de aulas individuais e online, professores qualificados de várias localidades do Brasil e das mais variadas disciplinas são chamados para atender essa parcela da população que vem tendo dificuldade em acompanhar o ensino aplicado em sala de aula.
Já o trabalho da Suzane, assim como os demais 50 franqueados da rede, é fazer toda a gestão da unidade na plataforma da franquia. Eles compram as aulas da rede em forma de crédito e tem liberdade para precificar de acordo com cada negociação. As aulas são direcionadas para estudantes do ensino fundamental ao médio e contam com mais de 7 mil professores cadastrados. Todos passam por processo seletivo rigoroso antes de integrar a equipe da Monitorias.
A jovem que entrou há oito meses na franquia e que administra o negócio online da própria casa, conta que o número de pessoas que buscam pelo auxílio das aulas de reforço escolar tem crescido mensalmente. Sem concorrência na sua região de atuação, Suzane comemora a possibilidade de trabalhar com modelo de negócio inovador e que agregue na educação das crianças e adolescentes.
Nos últimos meses, com 23 alunos e 160 atendimentos, com o retorno das aulas presenciais a empreendedora acredita que a demanda saltará para mais 50% ainda neste primeiro semestre.
“O reforço escolar tem sido necessário após os modelos falhos e frágeis adotados pelas escolas para cumprimento dos anos letivos com os alunos em casa ou em modelo híbrido. Acredito que é um mercado em ascensão e que continuará em alta nos próximos anos, pois os danos causados nesta pandemia deixaram uma grande lacuna na vida dos estudantes. Prova disso é o número alto de crianças que não sabem ler ou escrever”, diz.
Alfabetizar não é tarefa fácil
Pesquisa Educação Não Presencial na Perspectiva dos Estudantes e Suas Famílias, realizada pelo Datafolha a pedido do Itaú Social, da Fundação Lemann e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostra que para 28% das famílias, a prioridade das escolas nos próximos dois anos deve ser justamente a promoção de programas de reforço e recuperação.
Dois em cada três estudantes precisarão desse tipo de apoio para algum conteúdo. Entre as disciplinas mais citadas na pesquisa que precisará de mais atenção das escolas na retomada das aulas presenciais está matemática com 71%, língua portuguesa (70%), ciências (62%) e História (60%). Já as crianças em fase de alfabetização o número salta para 76%, segundo as famílias.
“Ainda há resistência por parte de algumas pessoas em aceitar que a aula online dá certo, e isso tem sido meu maior desafio dentro da franquia. Mas aos poucos estamos mudando esse cenário, até porque, quando a aula é aplicada de forma individual, mais específica com a dificuldade que o aluno está passando naquele momento, ele consegue já sentir o efeito positivo na primeira aula do acompanhamento escolar. Foi através dessa prática que utilizamos no trabalho do dia a dia da franquia que muitos alunos conseguiram melhorar as notas no ano passado”, conclui a franqueada da Monitorias Reforço Escolar.