Desempregada, Maria Cristina Carvalho, mais conhecida como Dona Kiki, enfrentou em 1979 seu maior desafio. Grávida, ela viu o esposo Paulo também perder o trabalho e resolveu apostar. Do empreendedorismo por necessidade, nasceu a “Quitandinha Goiana”. Diferentemente das quitandas de São Paulo, conhecidas por venderem frutas e verduras, as quitandinhas, em Goiás, são estabelecimentos que se caracterizam pela venda, a granel, de biscoitos e grãos, por exemplo.
“A gente tinha recebido uma pequena herança. Era o dinheiro exato para apostar em um negócio próprio, pequeno, mas nosso. O valor foi o suficiente para comprar e fazer a reforma do ponto”, explica Maria Cristina, que contou com a ajuda da sogra no início, pois, confessa, não sabia cozinhar.
A receita para a prosperidade, segundo Kiki, foi simples. O atendimento personalizado e a preocupação com os ingredientes dos salgadinhos e biscoitos vendidos pela quitandinha fizeram o faturamento do negócio decolar. O divisor de águas, no entanto, foi a chegada do primeiro shopping center à região de Goiânia, no início dos anos 80.
“O problema é que não queriam nos aceitar com o tipo de produto que vendíamos. O Paulo fez campana no hotel onde o superintendente do shopping se hospedava e chegou a entrar no mesmo elevador que ele para tentar convencê-lo. Depois de muita insistência, conseguiu”, recorda Kiki, que teve a presença do QG no centro comercial condicionada ao abandono dos biscoitos e à venda de pastéis –uma imposição do shopping.
“O problema é que a gente nunca tinha fritado pastel, mas sabia que existia uma pastelaria muito tradicional no Shopping Eldorado, em São Paulo. Viajei pra lá e convenci os donos a me ensinarem a operar a loja. Mas o segredo da massa era meu. Na minha infância eu frequentava uma pastelaria que tinha uma massa sem igual e fui lá buscar a receita”, explica Maria Cristina, que fez duas viagens em menos de duas semanas para elaborar a receita “mágica” para a expansão do seu negócio.
O sucesso foi imediato. Ainda desacostumados com o conceito de fast-food, os goianos adoraram o modelo simples e direto da quitandinha no shopping. “Era realmente muito simples. Os sabores se revezavam de acordo com o que tínhamos para fritar. Uma hora tinha pastel de queijo, outra hora de carne”, diverte-se a empresária, que espalhou o conceito do negócio por toda a capital goiana.
“Ao longo do tempo passamos a aprimorar ainda mais a operação, que hoje oferece muito mais do que os pasteis. São vendidos pratos rápidos e até mesmo lanches em nossas unidades”, lembra Kiki sobre a marca que é considerada um verdadeiro patrimônio da região para quem nasceu e vive em Goiânia.
Quase 40 anos após a primeira unidade do que hoje é o Grupo QG (conservando as iniciais originais da palavra Quitandinha Goiana), Kiki e Paulo comemoram um faturamento de R$ 36 milhões em 2016. Quem toca a operação é o filho mais jovem, Guilherme Carvalho. Para 2017, a meta é ainda mais ousada, aumentar o faturamento da rede para R$40 milhões, que já conta com 28 unidades espalhadas pela região Centro-Oeste, entre franquias e operações próprias, além de sete marcas que vão do varejo, passando pela indústria e até mesmo uma nova marca, o Bupaqê, focado no público jovem.
“A recompensa em ver aquilo que os meus pais construíram com tanto suor dando certo é enorme. Quando eu entrei no negócio procurei ajudar a profissionalizar mais a administração”, finaliza o jovem gestor, de 32 anos de idade.