A mais recente crise política, que já perdura por dois meses e, aparentemente, tinha potencial para ao menos desacelerar o processo de recuperação tanto da confiança dos empresários e consumidores quanto do lado real da economia, parece não ter exercido impactos negativos imediatos, pelo menos sobre o nível de estoques do varejo, que permaneceu praticamente estável nos últimos dois meses. Após uma alta de 2,7% na passagem de maio para junho, o Índice de Estoques (IE) do comércio varejista na região metropolitana de São Paulo voltou a cair em julho (-2,5%), atingindo 105,8 pontos. Apesar da queda na comparação mensal, o índice cresceu 6,6% em relação a julho de 2016. Assim, a proporção de empresários com estoques adequados alcançou 52,8%, mantendo-se acima dos 50% pelo terceiro mês consecutivo, mas ainda abaixo dos 60% a 65% vistos em momentos de boas vendas.
Os dados são do Índice de Estoques (IE) da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), que capta a percepção dos comerciantes sobre o volume de mercadorias estocadas nas lojas, e varia de zero (inadequação total) a 200 pontos (adequação total). A marca dos cem pontos é o limite entre inadequação e adequação.
Tanto o grupo que diz ter estoques elevados quanto os que dizem ter estoques baixos apresentaram pouca variação em julho, atingindo 33% e 13,9%, respectivamente. Entre abril e maio, houve uma aceleração do ajuste de estoques que culminou em quedas, e em junho e julho houve praticamente uma estabilização. A parcela de empresários que afirma estar com estoques acima do adequado subiu 0,9 ponto porcentual (p.p.), na comparação com junho,mas recuou 3,8 pontos porcentuais em relação ao mesmo mês de 2016. Já os que disseram estar com o nível de mercadorias abaixo do ideal registraram leves altas de 0,4 p.p., na comparação mensal, e de 0,3 p.p., no contraponto anual.
De acordo com a assessoria econômica da FecomercioSP, os diferenciais entre estoques acima e abaixo do adequado tiveram uma pequena alta em julho, mas dentro da margem de erro, não havendo interrupção efetiva no ajuste de estoques que fora percebido no começo deste ano. Os indicadores de estoques, de forma geral, continuam em patamares melhores do que no passado recente, mas aquém do desejável de uma economia em sua plenitude, segundo a Entidade.
Dados positivos seguem sendo divulgados, como alta do PIB no primeiro trimestre, desemprego com ligeira queda, crescimento sazonal da indústria, bom desempenho do setor agropecuário, queda de juros e retomada de vendas de alguns segmentos (como o de automóveis), recorde de exportações líquidas, entrada de dólares, resistência do mercado acionário, inflação muito baixa e certa estabilidade do câmbio, evidenciando uma recuperação e mostrando uma inesperada capacidade de dissociação entre economia e política no Brasil.
Para a FecomercioSP, é louvável a resiliência da economia até o momento e uma prova do potencial do País, a despeito da política, porém, nada garante que esse relativo descolamento persista eternamente. Assim, não é possível de se fazer prognósticos com grande grau de certeza, diante desse cenário cheio de dúvidas e possibilidades.
Nota metodológica
O Índice de Estoques é apurado mensalmente pela FecomercioSP desde junho de 2011, com informações de cerca de 600 empresários do comércio nos municípios que compõem a região metropolitana de São Paulo. O indicador vai de zero a 200 pontos, representando, respectivamente, inadequação total e adequação total. Em análise interna dos números do índice, é possível identificar a percepção dos pesquisados relacionada à inadequação de estoques para “acima” – quando há a sensação de excesso de mercadorias – e para “abaixo”, em casos de os empresários avaliarem a falta de itens disponíveis para suprir a demanda a curto prazo.