Juros é a principal barreira para 38% dos empresários que não buscam crédito

As altas taxas de juros cobradas pelas instituições financeiras são o principal motivo para os empresários dos ramos do comércio e serviços não buscarem crédito para investir e desenvolver seus negócios. A constatação é de uma pesquisa feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) com empresários de todos os portes nas 27 capitais. De acordo com o levantamento, entre aqueles que nunca recorreram a empréstimos e financiamentos, quatro em cada dez (38%) atribuem a decisão ao fato de considerarem os juros elevados. A burocracia no processo de aprovação de um empréstimo foi citada por 12% dos entrevistados. Outro motivo é que 44% desses empresários conseguem manter a operação da empresa com recursos próprios. No total, 58% dos varejistas nunca utilizaram, ou ao menos buscaram, crédito na forma de empréstimos ou financiamentos.

Levando em consideração os últimos 12 meses, apenas 9% dos comerciantes e empresários do ramo de serviços tomaram recursos emprestados de terceiros. Outros 5% tentaram fazê-lo, mas não conseguiram, sendo que 3% acabaram desistindo e 2% tiveram o crédito negado.

“Com a demanda do consumidor retraída e a atividade econômica estagnada no país, inclusive com piora dos índices de empregabilidade e de renda, o empresariado brasileiro tem se mostrado pouco interessado em aumentar investimentos em seus negócios. Embora a Selic se encontre em uma trajetória consistente de queda, os juros praticados pelas instituições financeiras seguem altos, o que infelizmente contribui para inibir a busca por crédito”, afirma o presidente da CNDL, Honório Pinheiro.

Pensando nas medidas que poderiam aproximar o empresariado do crédito, os entrevistados destacam, principalmente, a flexibilização da documentação exigida (49%), alteração na política de garantias (38%), diminuição de exigência de capital próprio (38%) e das exigências quanto ao plano de negócio (35%). De acordo com a pesquisa, 57% dos empresários do varejo acreditam que linhas de financiamento bancário estimulam os investimentos, aumentando a produtividade e competitividade da empresa. Atribuindo uma nota de um a 10 para a importância do crédito no crescimento e manutenção do negócio, em que 10 significa máxima importância, os entrevistados deram nota média 6,1, sendo que 47% deram nota acima de 7,0.

Banco público tem preferência de 28%; para 44%, provar a situação legal da empresa é o processo mais burocrático

A pesquisa do SPC Brasil e da CNDL ainda revela que os principais processos e burocracias enfrentados por quem contratou crédito é atestar a situação legal da empresa, citada por 44% dos entrevistados. Outros empecilhos relatados são a necessidade de um avalista (23%), garantia de bens (20%) e a elaboração do plano de negócios (15%). Os bancos públicos são identificados pelos empresários como o melhor tipo de instituição financeira para se buscar crédito, citado por 28% dos entrevistados. Os bancos privados foram mencionados por 17%. Outros 55% são indiferentes. A preferência pelos bancos públicos é justificada, sobretudo, pela percepção de que eles praticam juros mais acessíveis (59%). Outros 14% citam a segurança e credibilidade dessas instituições. Ainda assim, a nota média para o sentimento de amparo do governo nas políticas de acesso ao crédito é de apenas 3,3 pontos. No total, 47% dos empresários consultados não conhecem nenhuma linha de financiamento. Entre os que conhecem, as mais citadas são as do BNDES (49%).

Levando em consideração os 28% de empresários que disseram ter enfrentado dificuldades no negócio devido à falta de crédito, 54% admitiram não ter conseguido comprar mercadorias e matérias-primas e 46% não puderam nem mesmo organizar o orçamento da empresa devido à escassez de recursos.

Bancos são os principais orientadores para 40% de quem tomou crédito; documentação exigida é entrave para 48%

A taxa de juros (33%) foi o principal fator para a escolha da instituição, apesar de 69% dos empresários nem mesmo se lembrarem da alíquota que foi cobrada pela instituição. Além disso, 36% não tomaram o cuidado de comparar as taxas de juros de diferentes instituições e 17% tampouco avaliaram Custo Total do Empréstimo. Entre aqueles que se lembraram do valor contratado, a média é de quase R$ 36 mil, sendo que 27% tomaram um valor inferior a R$ 20 mil. Para 54% desses entrevistados, o valor foi suficiente para cumprir os objetivos traçados, enquanto para 46% a quantia foi insuficiente. O prazo para o pagamento do empréstimo foi de 22 meses, em média.

A maioria (83%) dos empresários que tomaram empréstimo está conseguindo pagar todas as parcelas em dia, mas 11% admitiram alguns atrasos, enquanto 5% reconhecem ainda ter parcelas em atraso. Antes de contratar o empréstimo, 8% dos entrevistados admitiram nem mesmo ter avaliado a possibilidade concreta de conseguir pagar todas as prestações.

Na hora de contratar crédito, quatro em cada dez (40%) empresários citam os bancos como principais orientadores no processo de tomada de crédito. Os contadores são lembrados por 14% dos entrevistados como principais orientadores e a internet por 11% deles. Apenas 2,6% mencionam empresas de consultoria especializadas. Para preencher a documentação requerida, 61% contaram com a ajuda de terceiros.

66% não pensam em fazer investimentos no seu negócio

Pensando no futuro, a maioria (66%) dos empresários não planeja realizar investimentos nos próximos 90 dias. Apenas 22% manifestam essa intenção, enquanto 12% estão indecisos. Mesmo entre a minoria que pretende investir, o capital próprio bancará os investimentos em 60% dos casos. Há ainda 18% que mencionam o capital próprio tendo como origem a venda de algum bem. O empréstimo em bancos e financeiras foi citado por 20%, enquanto o empréstimo com amigos e familiares foi mencionado por 4%.

Metodologia

A pesquisa foi realizada pelo SPC Brasil e pela CNDL no âmbito do ‘Programa Nacional de Desenvolvimento do Varejo’ em parceria com o Sebrae. O estudo foi realizado com 822 empresários dos ramos de comércio e serviços em toda as regiões brasileiras. A margem de erro é de no máximo 3,4 pontos percentuais a uma margem de confiança de 95%.