As drogarias são um dos poucos setores do varejo e mercado de consumo brasileiros que cresceu nos últimos dezoito meses e continua com boas perspectivas para 2016. Este crescimento sustentável é explicado tanto por fatores econômicos e características peculiares à indústria, quanto pelas estratégias operacionais e por uma gestão robusta.
O bom desempenho deste segmento é mais impressionante quando inserida no contexto do setor varejista no Brasil que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2015, apresentou queda de 4,5%, a maior registrada desde 2001.
De acordo com dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o varejo nacional registrou, no ano passado, o fechamento de 95,4 mil lojas. Nem as grandes redes foram poupadas: o Grupo Pão de Açúcar (GPA) fechou 73 unidades. Já os números da União Geral dos Trabalhadores (UGT) apontam que houve uma redução de 180,9 mil vagas também em 2015.
Por sua vez, as drogarias estão no caminho inverso, como podemos observar em algumas empresas de capital aberto. A “Raia Drogasil”, por exemplo, abriu no ano passado 156 novas lojas, aumentando em 0,9 p.p. sua participação no mercado sem sacrificar sua margem bruta (esta aumentou 1,2 p.p. em relação a 2014). Já a “BR Pharma” manteve o mesmo número de lojas, reverteu os prejuízos de dois anos atrás e aumentou a margem bruta em 26,4% em 2015.
Como se percebe, as empresas de capital aberto dão “o tom” do segmento. Abaixo, algumas explicações que corroboram para o seu bom desempenho.
1 – Dois value drivers: medicamentos & perfumarias
Os medicamentos (bens de primeira necessidade) e a perfumaria (item de consumo) equilibram o desempenho do segmento de drogarias. O primeiro, mais estável, impulsiona o segundo, que tem muito a crescer ainda, oferecendo uma experiência única ao consumidor.
Enquanto um pai é menos sensível ao preço do medicamento do seu filho (se ele tiver os recursos, é claro), ele vai, sim, optar pelo medicamento de menor custo (provavelmente genérico), satisfazendo, assim, a sua necessidade de realizar uma boa compra. Mas, dificilmente, ele vai percorrer diferentes drogarias para comprar os medicamentos prescritos na receita (a não ser que um deles não esteja disponível na drogaria em questão).
As redes deste segmento estão cientes da relação “necessidade versus consumo” e se posicionam de forma inteligente para atender ao seu público fiel.
2 – Expansão de portfólio: perfumaria e serviços
A venda de produtos de perfumaria e dermocosméticos nas drogarias, também conhecidos como Cosmetics, Fragrances & Toiletries (CF&T) apresentou um rápido crescimento no Brasil. De acordo com o relatório do “BTG Pactual”, a CAGR (taxa de crescimento composta de um determinado período) foi de 22,5% entre 2008 e 2012.
Apesar do término da exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para a disposição dos medicamentos não tarjados (OTC) atrás do balcão, os produtos CF&T ainda têm grande espaço e destaque nas prateleiras.
As farmácias estão agregando serviços de saúde. A “Droga Raia”, por exemplo, já oferece aferição da pressão sanguínea e mensuração da glicemia. Vacinação é um serviço de alto valor agregado que apenas depende da aprovação da ANVISA para também invadir as redes de drogarias.
3 – Segmento é resiliente, especialmente os medicamentos
As drogarias, especialmente no que diz respeito aos medicamentos (responsáveis por, aproximadamente, 70 a 80% das vendas), têm uma natureza defensiva em relação à recessão econômica. Os principais drivers de crescimento da demanda por medicamentos estão no envelhecimento da população, no crescente acesso dos consumidores à informação e tratamentos com o aumento de renda. Conforme estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que a população brasileira acima de 60 anos chegará, até 2050, a 30% dos atuais 12,5% de idosos. Enquanto a quantidade de idosos duplicará no mundo, e quase triplicará no Brasil. Medicamentos crescerão em menor escala que perfumaria, mas têm um grande potencial.
4 – Gestão de primeira linha
As drogarias estão na ponta do relacionamento com o consumidor. A gestão do mix é importantíssima, pois a falta de um medicamento pode implicar em encaminhar seu cliente ao concorrente mais próximo. A gestão de perdas é fundamental. Com tantos produtos de alto valor em embalagens tão pequenas há a seriedade de não vender itens fora da validade. Toda a cadeia logística é crucial no sucesso econômico da rede, sobretudo, com o advento do e-commerce também para os medicamentos.
Por fim, a gestão do capital de giro, normalmente um desafio, é uma oportunidade de ganhos extras: foi um ótimo negócio encher seus estoques antes do aumento regulado de 12,5% dos preços dos medicamentos em abril de 2016, repassando-o para o consumidor nos meses seguintes.
As drogarias são um excelente negócio, mas será cada vez mais difícil para os pequenos. O segmento ainda é bastante fragmentado no Brasil: as grandes redes acumulam apenas 12 mil das 68 mil existentes no país e representam 55% do faturamento acumulado. Segundo a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), em 2014, “o nicho no país foi marcado por médias cadeias, operações baseadas no associativismo e lojas independentes, com baixa representatividade no faturamento”.
Espera-se que as grandes redes como “Droga Raia”, “DPSP”, “Farmácias Pague Menos” e “BR Pharma” continuem consolidando o mercado, se aproveitando da sua maior escala, melhor tecnologia e gestão mais eficiente do capital, inclusive o de giro. A “Droga Raia”, inclusive, é um exemplo do que se pode conquistar (basta ver sua performance financeira).
O desafio da gestão empresarial no varejo é intensificado em tempos de cenário econômico incerto, como o atual. As previsões para este ano não se mantêm melhores que 2015: de acordo com estimativas da CNC, pode haver 253 mil demissões e recuo de 8,3% no volume de vendas em relação ao ano passado. As drogarias, no entanto, enxergam um oceano azul a sua frente.
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