Jane Muniz já morou em comunidade e hoje sua rede fatura mais de 80 milhões ao ano

A história de Jane Muniz, de 37 anos, fundadora do Grupo Beauty, uma junção de sete marcas, incluindo o Spa das Sobrancelhas, com quase 400 franquias, assemelha-se às histórias de outras milhares de mulheres. Ex-moradora da comunidade do Fubá, na zona norte do Rio de Janeiro, perdeu a mãe muito cedo, e como o pai não tinha boas condições financeiras, teve que começar a trabalhar bem jovem, logo após a perda da mãe quando ela tinha 8 anos:

– Meu pai criou sozinho eu, minha irmã e dois irmãos. A gente morava em uma comunidade em Madureira, na Zona norte do Rio de Janeiro, com uma vida pobre e simples. E em volta da gente, mais pobreza e violência. Tanto que meu irmão mais velho se perdeu no tráfico. Foi terrível, mas me ensinou a importância das escolhas que eu faço na vida. Eu não queria ter o mesmo fim que ele. Por isso, desde nova, eu me virava para conseguir ter o meu dinheiro de jeito honesto. Aos 9 anos, carregava água para os vizinhos por uns trocados; aos 10, lavava louça e roupa. Com 13, consegui meu primeiro emprego vendendo bijuteria. Depois, não parei mais – conta a mestre em visagismo facial.

Jane trabalhou como atendente, secretária e vendedora de diversas lojas, e teve o seu primeiro contato com o mundo da beleza em uma perfumaria, foi quando ela passou a entender melhor como funcionava o uso dos cosméticos. Antes, ela lavava os seus cabelos com sabão de coco e mal sabia o que era um condicionador. Inspirada por um salão que existia dentro dessa loja, ela começou sua aventura no empreendedorismo.

Juntamente com o então namorado, Marko Porto — hoje marido e sócio —, fizeram um curso de cabeleireiro e, com apenas 19 anos e um investimento de 8 mil reais, Jane abriu seu primeiro salão e tornou-se empresária. O novo negócio fez muito sucesso, mas os planos de expansão acabaram causando a falência.

– Fomos conquistando cada vez mais e mais clientes. Isso tudo, em questão de meses. Então, recebemos uma proposta para comprar mais um salão, expandir. Estava prontinho, era só abrir. Decidimos tentar e foi nosso maior erro. Dividindo nossa energia entre as duas unidades, não conseguimos cuidar tão bem dos dois e a clientela foi começando a cair, mas os custos agora eram o dobro. Resultado: quebramos.

– Devendo o aluguel, telefone, salários e pagamentos de fornecedores, fechamos o salão, com uma mão na frente e outra atrás. Estávamos destruídos, uma sensação de fracasso indescritível – lembra a empresária. 

Mas Jane não se deu por vencida, ligou para todo mundo e avisou que ia começar de novo e que pagaria como pudesse: – A grande lição que tirei disso é que a sinceridade ajuda nessas ocasiões. Sem telefone, ela pegou alguns panfletos e ficou na porta convidando as pessoas a entrar. A estratégia funcionou, e em poucos meses ela já tinha conquistado uma clientela fiel. 

Como o estabelecimento já dava um atendimento especial às clientes que queriam tratar as sobrancelhas, a empresária e o marido perceberam que a grande busca pelo serviço, que tem baixo custo, poderia trazer frutos. 

A partir daí ela teve a ideia de criar um estabelecimento dedicado a valorizar o olhar. E assim, vendeu seu salão e em 2007 criou a primeira franquia de sobrancelhas do Brasil, o Spa das Sobrancelhas. Eles perceberam que segmentar os serviços de seu salão em design de sobrancelhas poderia ser um bom negócio. Em vez de uma loja, ela e o marido se mudaram para duas salas comerciais. Depois de um ano, surgiu a primeira filial.

Em 2011 entrou para o mercado de franchising, e a marca teve um salto de 11 para 160 unidades em apenas um ano. Hoje, tornou-se a maior rede especializada em design de sobrancelhas do mundo, presente em 24 Estados brasileiros e realizando mais de 200 mil atendimentos por mês, e em 2018 faturou mais de R$80 milhões.

Livro

Recentemente, a empresária lançou seu livro “Problema ou Oportunidade? Seu Olhar Para os Negócios Define Seu Sucesso”, pela Editora Gente.

“O que me moveu até aqui foi justamente me recusar a ficar vivendo os problemas”, disse a empresária no livro lançado em março.