O franchising, que antigamente era um modelo de negócio típico de cidade grande, está cada vez mais presente em localidades pequenas. Pesquisa da Associação Brasileira de Franchising (ABF) divulgada no início deste mês mostra que a expansão de franquias em número de unidades avança Brasil adentro muito além do eixo Rio-São Paulo. Das 30 cidades que mais ganharam novas franquias neste ano, 12 não são capitais. É uma clara interiorização do franchising.
A Sabores do Nonno, marca de massa artesanal cozida e congelada que nasceu durante a pandemia e hoje é franqueadora com 82 unidades em quatro Estados, é exemplo desse fenômeno. Apesar de marcar presença em duas capitais, mais de 80% das unidades estão em cidades do interior. “Temos vários franqueados em localidades pequenas, com menos de 100 mil habitantes. Inclusive em cidades menores”, conta Cadu Moura, CEO da empresa.
A própria Sabores do Nonno nasceu no interior, em Agudos, cidade de menos de 40 mil habitantes. Para Cadu, as cidades menores são um grande mercado ainda a ser explorado pelo franchising. “Há nichos de negócio, como o de massa congelada, que nas localidades menores o empreendedor não vai encontrar grande concorrência, diferente das capitais que costumam já estar mais saturadas. Menor concorrência é uma grande vantagem porque há consumidores ainda a serem conquistados”, comenta.
Além disso, quem empreende em cidades menores, geralmente tem contato mais próximo com seus clientes, o que facilita a fidelização. “No nosso modelo de franquia, quase sempre o próprio empreendedor é quem vende e entrega o produto e isso fortalece o relacionamento. Quando é cidade pequena, não é raro parte da clientela já conhecer o franqueado ou alguém de sua família. Isso tudo ajuda no desempenho do negócio”, avalia Cadu.
É o caso da franqueada Cássia Cristina Tavante, que tem uma unidade Sabores do Nonno em Adamantina, cidade com pouco mais de 35 mil habitantes. “A gente faz a divulgação da marca e dos produtos nas mídias sociais, o que é importante para o negócio, mas boa parte da clientela é formada por amigos e familiares. E funciona bem a indicação. Quem compra e gosta, indica para um amigo, parente, o que é bem mais difícil acontecer em cidade grande”, conta.
Outra franqueada da marca, Carla Basso de Lima Bortuluzi, que tem unidade em Votuporanga, cidade com cerca de 100 mil habitantes, confirma a relevância da rede de conhecidos no desempenho das vendas. “Mais ou menos 50% dos meus clientes são meus amigos, familiares, vizinhos, etc. Ou seja, pessoas que eu já conhecia antes de abrir a franquia”, afirma. Além do boca-a-boca ser uma ferramenta importante, as duas franqueadas reconhecem que a concorrência é menor em cidades pequenas, o que facilita o desenvolvimento do negócio. Tanto Carla quanto Cássia só têm um concorrente local para o produto que comercializam.
Solidificação do home based
A solidificação das franquias home based, que permite ao empreendedor trabalhar em casa e geralmente exige baixo investimento, também contribuiu para a interiorização do franchising, ressalta o CEO da Sabores do Nonno. “Com celular e poucos equipamentos, qualquer pessoa pode ter seu negócio próprio. É uma alternativa de trabalho e renda de forma profissional para quem prefere fazer home office, modelo de trabalho que expandiu durante a pandemia e tudo indica que veio para ficar”, acrescenta.
O hábito de consumir pelo e-commerce, uma necessidade durante a pandemia, também é outro fator que fortalece a interiorização das franquias home based. Para o CEO da Sabores do Nonno, este é um comportamento que boa parte dos consumidores, mesmo em cidades pequenas, não abandonam mais. “É mais prático e rápido, principalmente para itens de consumo contínuo, do dia a dia. É uma herança da pandemia que beneficia este modelo de negócio”, finaliza.