Com o aumento expressivo da expectativa de vida da população mundial não é difícil encontrar empreendedores que decidiram se lançar em um negócio próprio depois dos 50 anos. No chamado “empreendedorismo prateado”, muitos, inclusive, utilizam o montante — ou parte dele — acumulado ao longo de toda uma vida de trabalho e provam que o surgimento dos fios brancos não é sinônimo, necessariamente, de aposentadoria. Ao contrário, há até quem descubra uma nova profissão ou vocação.
Prova é que segundo o último levantamento da Associação Brasileira de Franchising (ABF), 1,6% daqueles que buscam uma franquia para investir já se aposentou. Outro dado que corrobora isso é que, segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), entre os 53 milhões de empreendedores do país, 49% estão acima dessa faixa etária. E as boas notícias não param por aí: ainda de acordo com a entidade, 7,3% dos novos empreendedores que apostam em negócios de pequeno porte têm 65 anos ou mais.
“O empreendedorismo prateado acaba sendo um caminho natural para quem se aposenta e ainda não se sente preparado para deixar de vez o mercado de trabalho. É uma parcela da população que tem muita experiência de vida, mais maturidade para enfrentar os possíveis desafios. Até mesmo, por conta disso, buscam segurança para investir suas economias e as franquias — por se tratarem de um tipo de negócio com alto grau de maturidade e menor risco — acabam sendo um grande atrativo”, explica a diretora executiva da ABF, Silvana Buzzi.
Conheça cases de empreendedores que escolheram não parar de trabalhar, mesmo depois da aposentadoria:
Aproveitando o repasse
Próximo de completar 60 anos, Thales Dompieri atuava como diretor comercial na iniciativa privada quando analisou que era o momento de empreender e buscar por um investimento a longo prazo, para não depender da aposentadoria. Após a decisão, procurou por seis meses negócios de franquias do segmento de serviços antes de ingressar na 5àsec, maior rede de lavanderias do Brasil. O franqueado entrou na rede por meio do repasse de duas operações em 2019 e mais duas em 2020, todas no estado de São Paulo. Atualmente, ele possui quatro pontos de venda da 5àsec localizadas no interior paulista. Para o empresário, as unidades de repasse são oportunidades para quem deseja ingressar no franchising sem precisar partir do zero, pois a operação já conta com uma cartela de clientes fiéis, sendo necessário aprimorar os processos e a gestão para garantir o sucesso da unidade.
Ampliando o portfólio
Aos 56 anos, Maria do Carmo Huber é franqueada da Calçados Bibi, em Curitiba, no Paraná, junto com a filha Mariana Huber. Bancária há mais de 20 anos, a empresária criou seus filhos sempre trabalhando e desenvolveu habilidades para alinhar a maternidade com o profissional. Há nove anos no mercado calçadista como franqueada de outra empresa, Maria do Carmo em conjunto com a filha decidiu apostar na Bibi para ampliar os negócios dentro do segmento. A primeira operação da marca de calçados infantis foi aberta em 2021. Atualmente, mãe e filha são sócias em quatro lojas exclusivas da Bibi na capital paranaense.
Aqui e lá
Marisete Zimmerman, de 58 anos, é franqueada da Casa do Construtor de Eunápolis, na Bahia, desde 2015. E o que a levou a empreender, aos 51 anos foi um motivo muito forte: passar mais tempo no país, junto da família. Ela, que se divide entre o Brasil e a Suíça, costuma passar de 7 a 8 meses por aqui, cuidando do negócio. Para isso, conta com a ajuda de um de seus netos e da filha. “Eu os estou treinando para que possam assumir a direção. Meu neto está quase pronto para virar gerente”, se orgulha.
Potencial que vem da maturidade
Mineira, natural de Juiz de Fora, a empresária Maria Rita de Cássia da Paixão está há 22 anos no Divino Fogão, rede de restaurantes de comida da fazenda com 199 pontos de venda, entre lojas e dark kitchens. A empresária iniciou sua trajetória dentro da marca como gerente de loja e há 10 anos, quando estava com 56 anos, se tornou franqueada do negócio. O convite partiu do fundador da empresa, Reinaldo Varela, que enxergou potencial no trabalho de Maria Rita. Após a oportunidade, a empresária partiu para mais um desafio profissional. Hoje, ela está à frente de quatro operações da rede e levou as filhas e o neto para atuarem dentro da marca também.
Oferecendo serviço completo
Rosana Figueiredo, 60 anos, era professora universitária aposentada nas áreas de Marketing e Administração quando decidiu com o marido Marcos Diamente (60), administrador de empresas, empreender e tornaram-se franqueados da iGUi TRATABEM há cinco anos. Na época, Marcos havia se desligado do emprego em uma concessionária de automóveis e procurava trabalhar numa atividade que gostasse. O casal, então, começou a pesquisar negócios em franquias. Por indicação de amigos, decidiram pela TRATABEM. Formada em Administração, Marketing e Planejamento Estratégico, mesmo aposentada Rosana lecionou cerca de um ano e meio após a abertura da loja. Com o sucesso da primeira franquia e pela visão de mercado do Marcos, há um ano o casal abriu uma loja de piscinas Splash, outra marca da rede iGUi. “Hoje fazemos um trabalho completo: temos as duas franquias, vendemos as piscinas e continuamos com o serviço de TRATABEM, não só de limpeza como de manutenção técnica”, explica Rosana. Atualmente, o casal emprega 13 colaboradores fixos e um free lancer em ambas as lojas localizadas no bairro do Tucuruvi, região da Serra da Cantareira, em São Paulo.
Tudo e mais um pouco
Com 68 anos, Jodilton Souza já tinha uma vasta experiência no segmento de Educação. Fundador de uma holding que conta com uma escola de Ensino Fundamental e Médio, dois centros universitários, além de outros negócios do setor de Saúde, Agronegócio e Entretenimento, o empresário enxergou uma oportunidade de expandir ainda mais seus investimentos na área acadêmica em sua cidade, Feira de Santana, na Bahia. A ideia era abrir uma escola de Educação Infantil. Como sugestão, a filha de Jodilton, Anna Clara, sugeriu a Maple Bear, por ser um negócio formato e de renomado no mercado que atua. Após conhecer as instalações da marca em Salvador, na capital, Souza entrou em contato com a rede e depois das negociações levou a primeira Maple Bear para sua cidade. A operação iniciou as aulas em fevereiro de 2022 e já conta com 170 estudantes.
Pioneirismo que fez história
A história de Ricardo e Kátia Fernandes, de 65 e 63 anos, com a Milon começou nos anos 2000 como representantes comerciais da Kyly, maior empresa de vestuário infantil do Brasil. O casal foi o responsável por levar as peças de todas as marcas do Grupo Kyly para o Ceará. Encantados pela proposta das lojas Milon, quando o projeto foi lançado em 2006, os Fernandes decidiram abrir a primeira operação da rede logo que o negócio se tornou franquia. Dessa forma, em 2017, a rede estreou no mercado de franchising com a inauguração da loja localizada em Fortaleza, capital cearense. Atualmente, Kátia e Ricardo possuem duas operações da marca no Ceará e está nos planos do casal abrir a terceira loja.
Com vista para o mar
O dentista paulistano, de 57 anos, Dárcio Lavieri, realizou o sonho de ter um negócio e ficar próximo do mar. Após trabalhar cerca de 30 anos com implantes em clínicas odontológicas em diversas unidades no Sul do País, ele mudou de vida com a ajuda de um sócio e o apoio da família. A oportunidade bateu a sua porta e ele não pensou duas vezes. Conhecendo o negócio estruturado e sólido da franquia Oral Sin, ele vendeu uma casa e investiu em janeiro de 2021, no meio da pandemia numa unidade da rede na cidade de São Francisco do Sul, no litoral norte de Santa Catarina. Os ares praianos fizeram tão bem aos negócios que já em tão pouco tempo de operação, a unidade ganhou recentemente o 3º lugar geral em performance da rede e já pensa em se planejar para obter uma segunda unidade.
Da graxa ao Botox
Após trabalhar anos no ramo de autopeças com caminhoneiros, o empresário Claudiney Rocco de 54 anos e sua esposa Rosimeire, de 51 anos, que é do ramo de gestão financeira, resolveram deixar um pouco de lado a graxa dos caminhões e investir numa franquia de estética da Royal Face.
Com uma grande influência da filha, franqueada de uma clínica odontológica, o casal pode conhecer um pouco mais da segurança de se investir num negócio já testado que é a franquia. Claudiney, que também é formado e pos graduado em administração e gestão, estudou o mercado, com as vantagens, os riscos e benefícios, teve segurança e não teve dúvidas de tomar a decisão. Ele e sua esposa são franqueados na cidade de Cianorte. Para ele, foi uma virada de chave. Ele está feliz, é muito dedicado a todos os setores, desde a venda inicial até o fim do tratamento, batendo recordes de performances na rede. Ele também continua com a autopeças, mas garante que mesmo com públicos tão diferentes, o cliente sempre quer ser sempre bem atendido e isso ele não abre mão.