Conhecido como “executivo de calçada”, o vendedor ambulante tem várias denominações no mercado, até mesmo como “encantador de clientes”. Foi começando como vendedor ambulante que Hermes Bernardo, de 37 anos, se tornou empresário milionário e hoje é exemplo de como a perseverança e uma boa dose de visão empreendedora é possível chegar longe.
Em 2013, o paulista trouxe o prato típico do Reino Unido, o fish and chips (peixe e fritas) para o Brasil e a transformou na marca FiChips Food. Pouco explorado em terras brasileiras, o negócio tem se revelado muito promissor e hoje soma 90 operações comercializadas pelo Brasil.
Exemplo dentro de casa
Quando Hermes tinha sete anos, seus pais se separaram e ele começou a sair com a mãe para vender sapatinhos de bebê de porta em porta na cidade de São Paulo. Apesar da pouca idade, foi ali que começou a entender de vendas e principalmente os princípios de honestidade, integridade e dever cumprido.
Aos 15 anos começou a trabalhar em uma rede de cursos profissionalizantes com atendimento, e aos 20 foi trabalhar em uma companhia aérea, sua primeira virada de chave na vida. “Trabalhar em companhia aérea foi um enorme aprendizado, não só de solucionar problemas com velocidade por conta de time, mas também uma questão emocional de lidar com conflitos. Isso me trouxe uma grande bagagem psicológica, uma boa gestão emocional, desde atraso de voos até administração de crise com a queda de um dos aviões da GOL na época, principalmente termômetro de lidar com diferentes tipos de perfil de pessoas. Comecei com atendimento no check-in da empresa GOL, passei por cinco promoções, tendo o último cargo como despachante técnico de voo”, relembra Hermes.
O primeiro negócio próprio
Com mais bagagem de conhecimento adquirida dentro da companhia aérea, Hermes resolveu largar o emprego e ter o seu próprio negócio, a loja virtual Hermes Importados, com vendas apenas pelo e-commerce, mercado pouco explorado na época, com comercialização de perfumes.
Ele mesmo buscava a mercadoria no Paraguai, porém o negócio não decolou. “Naquela época o Brasil tinha baixo número de compras online, justamente por receio de passar o cartão à distância e poucas opções para executar as transações na web. Eu sabia que o mercado online era o futuro das compras, porém infelizmente não deu certo”, relembra o empresário.
Do limão a limonada
Hermes então começou a trabalhar em duas empresas ao mesmo tempo e estudava MBA em Planejamento de Gestão de Serviços à noite, com isso desenvolveu crise de ansiedade e altos picos de estresse. Em uma partida de futebol com os amigos rompeu o tendão de aquiles do pé esquerdo. Ele teve complicações na cirurgia e como sequela não pôde andar ao longo de seis meses. Foi quando teve que parar literalmente para se recuperar e cuidar da saúde física e mental.
Desempregado e sem perspectiva de voltar tão cedo ao mercado de trabalho, teve sua visão de empreendedor ao folhear um álbum de fotos de uma viagem a Londres. Foi aí que surgiu a ideia de criar um negócio com a iguaria mais pedida da capital do Reino Unido: o fast-food de peixe empanado com batatas fritas.
“Desde criança sempre fui apaixonado pelas bandeiras do Brasil e a do Reino Unido, e uma das primeiras coisas que aprendi a fazer na cozinha eram as frituras, que com o tempo se tornou minha especialidade em casa”, relembra.
A marca FiChips Food foi criada junto a um Guarda Real segurando o cardápio da casa, chamado carinhosamente de “Aquiles”, para relembrar que em um dos maiores momentos de dor da sua vida conseguiu tirar proveito e criar sua empresa.
Hermes levou para as ruas de São Paulo essa novidade em forma de food truck, sendo um dos pioneiros desse mercado e do prato típico da culinária inglesa no Brasil. Ele vendeu seu próprio carro e investiu o dinheiro, cerca de R$ 40 mil, nesse novo empreendimento. Filho de contador, ele sabe muito bem como administrar os recursos financeiros. Tanto, que tinha ainda uma reserva financeira guardada para os primeiros meses de fluxo de caixa.
Em pouco tempo, ganhou destaque no mercado e presença confirmada nos maiores eventos do país, como o Lollapalooza. No mesmo ano de fundação, a FiChips foi considerada entre as 11 empresas que mais inovaram no ramo de alimentação no Brasil.
Em 2019 a FiChips participou do programa Shark Tank (Canal Sony) onde os tubarões João Appolinário (Polishop) e José Carlos Semenzato (holding SMZTO) se interessaram no negócio, porém na última hora Hermes não aceitou a proposta e resolveu seguir sozinho com o empreendimento.
O mar está para peixe
A proposta da FiChips é servir produtos de alta qualidade a preços justos e acessíveis, com uma proposta diferente do que já existe no mercado de alimentação. A começar pela identidade visual da empresa que proporciona um ambiente inglês, descontraído e ao mesmo tempo aconchegante.
Para oferecer ainda mais opções aos clientes sem sair do conceito principal do negócio, a FiChips conta no cardápio o Fish and Onion, Fichips Salad, o famoso London Burguer, Fichips Potato, o delicioso escondidinho Inglês Shepherd’s Pie e como sobremesa, não podia faltar o churros europeu e Banoffe. Todos eles podem ser servidos para viagem – em cones ou em caixinhas personalizadas.
A FiChips trabalha com cinco modelos de negócios ideais para lugares com grande fluxo de pessoas, que consiste no modelo de lojas delivery para cidades até 50 mil habitantes, container, shopping, quiosque e loja de rua em formato de pub, com investimento inicial a partir de R$ 152 mil. O faturamento do negócio gira em média entre R$ 60 mil a R$ 122 mil, com prazo de retorno estimado entre 14 a 24 meses.
Todos os modelos são habilitados para trabalhar com o delivery, o que possibilita um poder de ganho ainda maior ao franqueado, e incluem taxa de franquia, equipamentos, estoque inicial e capital de giro.
Hoje a FiChips soma 90 operações, entre ativas e comercializadas. Em 2021 a marca faturou R$ 7 milhões e projeta encerrar este ano com R$ 12 milhões.
Segmento valioso
O mercado de alimentação é um dos setores que sempre está em alta, devido ser algo de primeira necessidade para se sobreviver. Em pesquisa divulgada pela ABF (Associação Brasileira de Franchising) referente ao 2º trimestre, o segmento de Alimentação – Food Service ocupou 22,3% maior frente a igual período no ano passado, no faturamento do franchising. Na pesquisa o setor ficou atrás somente do segmento de Hotelaria e Turismo que comemorou alta de 25,4%.
“Trabalhar com gastronomia não é para qualquer pessoa. É muita pressão diariamente, agilidade e execução bem feita de cada produto entregue. Há estudos que comprovam que a função chefe de cozinha é uma das profissões mais estressantes do mundo. Porém, por outro lado, é prazeroso trabalhar nesse segmento. Trata-se de algo que sempre está em alta e em constante evolução”, avalia o executivo.
Tanto que na pandemia onde muitos restaurantes foram afetados nos primeiros meses por ter que ficar de portas fechadas, desde 2018 a FiChips criou caixinhas adequadas para fritura, com papel acoplado e espaço para armazenamento dos molhos para não escorrer no transporte. Tudo isso impactou nesse período com as vendas ocorrendo apenas pelo delivery, ou seja, quando a pandemia chegou à marca estava totalmente preparada para atender seu público em casa. Entre 2020 ao final de 2021 a FiChips cresceu 77% no faturamento e 50% em novas unidades comercializadas.
Presente nas operações
Hermes conta que periodicamente a cada semestre agenda tour de visitas em todas as unidades da FiChips. Ele faz questão de estar presente nas operações, sentir de perto as dificuldades do franqueado, bem como verificar alguma estratégia que esse empreendedor implantou na unidade e deu certo, e a possibilidade de replicar em toda rede.
Alcançar sucesso não é apenas trabalho
Hermes revela que em toda inauguração sempre aponta o dedo indicador para cima, pois para ele, todo sucesso alcançado nesses últimos nove anos de FiChips se resume “na honra e glória de Deus!”
“O feito é melhor que o perfeito não feito, desde que seja feito com diligência! Planejamento e execução têm que andar sincronizados. Não adianta ter planejamento e pouca execução, assim como não adianta muita execução sem planejamento, precisa traçar a rota do planejamento onde se quer chegar e sempre mensurar como está indo o negócio, aquilo que não é medido não tem como ser melhorado”, finaliza o empresário.