Ele cresceu na favela, vendeu laranja de porta em porta, e hoje é dono de franquia de crepe que quer transformar na maior do mundo

André Augusto dormiu em um colchão no chão da sala até os 17 anos, de família humilde, conseguiu emprego em uma multinacional, teve negócio milionário que faliu e hoje é CEO da Crepefy

“Você não escolhe onde nasce, mas escolhe onde quer viver”, essa é uma das frases que motiva o empreendedor André Augusto, de 35 anos. Hoje ele está à frente da franquia Crepefy – rede especializada em crepe francês, que já soma 74 unidades e faturamento de R$ 10 milhões em 2023.

De família muito humilde, André cresceu na favela no Jardim São Judas Tadeu, na periferia de Taboão da Serra/ SP. Filho de uma mulher negra e um pai branco, por anos sua família lidou com o preconceito, na qual por muitas vezes sua mãe foi confundida como a babá e tinha que andar com a certidão de nascimento de André para confirmar ser sua mãe.

Até os 17 anos de idade, André dormia em um colchão no chão entre a sala e a cozinha, pois não tinha quarto. Mesmo pobre, a família deu a volta por cima. Sua mãe, dona Ana Augusto, mais conhecida como Aninha, se formou em teologia e pedagogia, tirou habilitação, comprou um carro, e também o seu próprio apartamento.

Sem tempo para ser vítima

O pai do André, senhor Eduardo Augusto, não tinha emprego fixo e vendia produtos na rua. Desde os 9 anos, André acompanhava o pai nas vendas, e foi ali na raça que aprendeu ser vendedor e garantir o básico para sobreviverem, já que por muitas vezes receberam doações de cesta básica porque não tinham como comprar alimentos. Os dois vendiam laranja e alho de porta em porta. Na adolescência, por volta dos seus 12 anos, conseguiram uma barraca de hot-dog, foi uma doação do seu tio João Augusto (irmão de seu pai) e vendiam pelas ruas de Taboão da Serra.

Com 16 anos, a vida já começou a dar sinais de melhora, pois seu pai conseguiu uma sociedade em uma empresa de vigilância de rua, e André ficava responsável por cuidar da barraca de cachorro-quente. Foi quando sua família aumentou um cômodo na casa, ainda na periferia, e André conseguiu ter o seu tão sonhado quarto.

“Essa oportunidade da sociedade que surgiu para meu pai foi fundamental para nossa família. Por isso, hoje valorizo tanto o programa de partnership, que é dar sociedade para funcionários com alto destaque”, diz André Augusto.

O poder dos livros

Aos 18 anos, André entrou para a faculdade de propaganda e marketing. Ficou obcecado por livros, conhecimento e negócios, e isso trouxe outras oportunidades e enxergou o mundo de uma outra maneira. A dedicação em cima dos livros possibilitou aos 20 anos de idade conquistar um emprego em uma empresa multinacional. Sua vida começava a dar um novo rumo.

Trabalhou em uma rede de franquias de alimentação, a Icegurt, por quatro anos, no setor de expansão. Lá fez muita educação corporativa, e isso foi o pontapé inicial para abrir sua própria empresa, em 2013.

“Os primeiros dois anos foi muito na raça, aprendendo muito. Nessa época cheguei a ler aproximadamente 100 livros sobre negócios, e muitas dessas táticas que eu lia já executava no dia seguinte dentro da minha empresa de calçados femininos. Isso inclusive, me estimulou a fazer uma pós-graduação em empreendedorismo”, relembra o jovem.

Milionário aos 27 anos

André pediu demissão da multinacional, seu pai tinha acabado de falecer e ele queria dar uma nova rota para sua vida, foi então que decidiu abrir uma loja de calçados femininos. Nessa época ele já estava casado, e sua esposa Tawane Augusto pegou um empréstimo pessoal, venderam o carro da família e conseguiram um sócio investidor para abrirem a operação em São Paulo.

O negócio decolou muito rápido e com apenas 27 anos, André faturava em média R$ 5 milhões ao ano. Mas, em 2016, por motivos internos (societários) e externos (recessão do país), falharam na administração e a empresa quebrou. Este período trouxe grandes aprendizados.

Dando a volta por cima

Após experimentar a amargura do fracasso, André não desistiu e sabia que sua vida estava no empreendedorismo. Em 2018 ele voltou ao mundo dos negócios com a Vendastech, rede de franquias de marketing e serviços digitais, chegou a abrir mais de 100 unidades, mas em maio de 2023 resolveu vender a empresa. Em 2020 abriu uma holding para dar consultoria, formatar empresas em franquias e expandir negócios. Dois anos depois, a holding virou a AGTO Group, um grupo de marcas próprias e de participação. Hoje o grupo responde pelas marcas Crepefy, Di Matteo Açaí e Franquia S/A (podcast de franquias).

Trouxe uma nova experiência na bagagem

No início de 2022, após uma viagem à França de comemoração de 15 anos de casados do André e sua esposa Tawane, ele notou que em cada esquina tinha uma creperia e com muitas pessoas comprando. Daí surgiu a ideia de trazer para o Brasil esse mesmo conceito. Após muitos testes, encontrou a massa perfeita através do seu sócio Denis Messias que ajudou no desenvolvimento do produto e assim fundou no final do mesmo ano a Crepefy, que é uma empresa de crepe de formato diferente do que costumamos encontrar. A massa é bem leve, com muito recheio, em formato de triângulo, e dispensa o uso de talheres.

“Um dos nossos diferenciais é que entregamos um crepe no modelo europeu com a brasilidade do nosso país. Usamos a massa e a forma de comer como na Europa, porém com os principais sabores do Brasil. Pegamos os mais vendidos de pizza e pastel, que é uma das refeições que o brasileiro mais adora, e adaptamos ao crepe. Foram meses de testes e mais testes até chegar em todo o conceito de produto, distribuição e marca”, explica o fundador e diretor executivo da Crepefy.

Modelo de franquia

A Crepefy é a única creperia que consegue dar experiência de marca em três momentos de consumo diferentes: balcão (loja física), delivery (apps e iFood), e eventos corporativos e festas (crepefy events). No início de 2023 a empresa entrou para o franchising e hoje é a principal marca do Grupo AGTO.

Trata-se de uma franquia semiautomática que possui gestão simples, onde o franqueado passa pela experiência em todas as etapas do negócio: gestão, atendimento e preparo. Todos os processos são automatizados, e devido a massa já vir pronta diretamente pela franqueadora (os insumos são comprados na região do franqueado), o preparo dura em média de 2 a 3 minutos para ser finalizado.

São mais de 30 sabores, entre salgados e doces, tendo como carro-chefe o crepe de frango com catupiry, e Nutella com morango com preços a partir de R$ 10,90. A cada mês a franquia lança um novo sabor como estratégia de agradar o paladar de todos, inclusive com opções fit e vegetariana. O cardápio ainda conta com saladas e sucos preparados na hora.

Para aqueles que preferem o delivery, a embalagem é no formato da logo da empresa, um charmoso fantasminha, preparada para manter o alimento aquecido para uma distância de até 40 minutos.

A Crepefy conta com três modelos de negócios: container, quiosque e loja de rua. Em todas elas são possíveis trabalhar delivery e também em eventos, que é onde o franqueado leva uma mini loja com estrutura modular para qualquer tipo de evento e serve os crepes como em um restaurante servidos à vontade, sem causar bagunça, cheiro ou fumaça.

Eco Crepefy Container: esse modelo é um container onde é necessário investimento entre R$ 75 mil a R$ 110 mil. O faturamento pode chegar a R$ 40 mil por mês, com lucro líquido entre 18% a 25% e retorno previsto entre 9 a 18 meses.

Quiosque: esse formato é para área a partir de 6 metros quadrados, e é necessário investimento inicial entre R$ 80 mil a R$ 110 mil, já incluso a taxa de franquia mais o capital de giro e investimento com instalação e equipamentos. Nesse modelo é possível contar com 2 a 4 colaboradores. O faturamento bruto médio mensal é de R$ 35 mil, com lucro líquido entre 18% a 25% mensal. O retorno do investimento é previsto entre 9 a 18 meses.

Store to go smart: esse modelo é uma pequena loja de rua, indicado para áreas a partir de 12 metros quadrados, onde é possível o cliente consumir no mesmo local. O investimento é entre R$ 80 mil a R$ 140 mil (incluso a taxa de franquia, capital de giro e investimento com instalação e equipamentos) onde é necessário entre 2 a 4 funcionários. O faturamento médio é de R$ 40 mil mensal, com lucro líquido entre 18% a 25%, e prazo de retorno estimado entre 9 a 18 meses.

Expansão

A rede que completou recentemente um ano de fundação já soma 74 unidades comercializadas (sendo 38 ativas) e uma unidade própria presente em 12 estados. A empresa é ideal para cidades a partir de 30 mil habitantes, e almeja encerrar o ano com 210 lojas e faturamento (sell out) de R$ 96 milhões.

A Crepefy, que já nasceu com uma proposta internacional, também foca a expansão para o exterior. Ainda para este ano há previsão de abertura de lojas em Orlando (EUA), Lisboa (Portugal), Bolívia e Santiago (Chile).

“Nascemos com a mentalidade para sermos uma marca internacional, portanto em apenas 24 meses teremos operações na América e Europa com masterfranqueados locais. Nosso objetivo é tornar-se a maior rede de crepes do mundo e estar presente em diversos países, sendo uma marca brasileira levando crepe, que é um prato típico francês”, enfatiza o empresário.

André reflete que trabalhar com alimentação é um grande desafio, mas que para enfrentar qualquer obstáculo busca sempre aconselhar com bons profissionais do mercado, e isso tem o ajudado muito.

Atualmente o Grupo AGTO soma mais de 100 unidades e aproximadamente 400 colaboradores e R$ 20 milhões de vendas sell out em 2023.