Quando Ji Woo saiu da Coreia do Sul para se aventurar em São Paulo, no início dos anos de 1990, jamais imaginaria os rumos que sua vida daria. Trazido pelo pai, comerciante, ele começou a trabalhar no negócio da família, uma loja de calçados, e a estudar. E é no colégio que começa uma relação decisiva para o seu futuro como empreendedor.
Lá, ele foi influenciado pelos amigos a cursar Economia. Já formado pela PUC, virou auditor contábil no Itaú, mas o emprego formal não trazia os desafios que desejava e decidiu montar a própria empresa. Topou a ideia de uma antiga namorada e abriu um salão de beleza. Após o primeiro ano, Ji acumulava dívidas e se sentia refém dos profissionais. Então, ele tinha duas opções: fechar as portas e ficar com o prejuízo ou aprender a ser cabeleireiro para assumir o negócio. Mesmo sem entender nada sobre a área, se apaixonou pela arte dos cuidados com os cabelos. Buscou a especialização no Instituto Embelleze para se tornar cabeleireiro e recebeu a informação de que seria um profissional completo em dois anos de curso. Rompendo todas as normas, ele criou em conjunto com a escola uma grade mais intensa, participando de diversas turmas ao mesmo tempo, e, em apenas 6 meses, já dominava todas as técnicas e ganhava cada vez mais clientes.
Veio a crise econômica, no entanto, e o espaço sentiu a queda de movimento. Ji se viu então obrigado a voltar ao mercado de trabalho, deixando a administração do negócio nas mãos da namorada. Foi quando os seus caminhos se cruzaram novamente com os de Luis Lanaro, economista e um dos seus amigos de ensino médio e faculdade, com quem começou a trabalhar. Na primeira reunião no novo trabalho, conheceu William Alves, publicitário que prestava serviços de comunicação e marketing. Ji comentou com ele sobre o salão de beleza que tinha, mas que, naquele momento, não pagava nem as contas. Luis, com vasta experiência na formatação de negócios, MBA em Negócios Internacionais pela Ohio University e passagem pelo Bank of Boston, entrou na conversa. Analisaram o que vinha sendo feito de errado e perceberam que os salões de beleza não haviam acompanhado as evoluções pelas quais o mundo passou.
– A mulher hoje é independente, empreendedora, ocupa posições importantes na sociedade, mas continua fazendo visitas a salões muito parecidos com os que suas avós frequentavam. E esse modelo não atende nenhuma das partes envolvidas: as clientes enfrentam dificuldades para agendamento, serviços demorados e preços pouco acessíveis; as profissionais da beleza sofrem com a sazonalidade e ficam muito tempo ociosas; e os salões não conseguem muitas vezes fechar as contas no final do mês, principalmente nos períodos fora dos picos de procura – ressalta Luis Lanaro.
Durante o Carnaval de 2017, o trio chegou à solução: unir recorrência e serviços ilimitados para fundar o primeiro clube de beleza com serviços ilimitados do Brasil. Nascia então o belle.club. A rotina dos três a partir de então foi transformada: tocavam o trabalho diário e se reuniam para colocar o novo projeto em movimento.
– Nossa proposta foi então oferecer serviços práticos e acessíveis, com pagamento recorrente. Assim conseguimos facilitar a vida das mulheres, propiciar oportunidades de renda para nossas profissionais parceiras e gerar previsibilidade de caixa para nossas lojas – explica William Alves.
O belle.club oferece serviços que as mulheres precisam no dia a dia: lavar e escovar os cabelos, hidratação, manicure e pedicure. Eles são organizados em três planos mensais distintos pela frequência de visitas. Dessa forma, os sócios conseguiram padronizar a qualidade e ter um compromisso fundamental: a gestão do tempo. Isso porque as assinantes ficam prontas em até 1 hora, mesmo se fizerem todos os serviços de uma só vez. Outro ponto importante no modelo de negócio é a praticidade oferecida, pois a assinatura pode ser feita pelo site ou pelo aplicativo da marca, disponível na App Store e no Google Play, assim como agendar horário, entrar em contato com a central de atendimento, comprar serviços extras e receber notificações para não esquecer do horário agendado.
– O Brasil é o quarto maior mercado global da beleza, com mais salões de beleza do que bares, restaurantes, farmácias, padarias e supermercados. Os salões de beleza representam 80% desse mercado. Nos outros 20% estão cuidados com a pele, serviços de estética, etc. Ou seja, é um mercado enorme e consolidado. O setor já atravessou por outras crises e saiu fortalecido, então, mesmo diante dos desafios do pós-pandemia, acreditamos que continuará sendo muito expressivo – analisa Lanaro, diretor de expansão da marca.
A primeira unidade da marca foi inaugurada em Sorocaba, seguida por São Paulo, no Itaim Bibi.
Lançamento da franquia e sociedade com José Carlos Semenzato
Antes mesmo da abertura do primeiro salão, a preocupação dos sócios com padronização, processos e construção de um negócio escalável já projetava a intenção de crescer por meio das franquias. “Se nossa preocupação era construir um modelo franqueável, nosso sonho era estar na SMZTO, uma referência no franchising nacional”, revela Lanaro.
O primeiro contato do trio com o grupo de José Carlos Semenzato foi no ano da criação do negócio, mas levou tempo para que a parceria se concretizasse. “Ainda estávamos muito ‘verdes’ para uma expansão quando começamos tudo. Em 2019, no entanto, surgiu uma outra oportunidade de apresentar nosso modelo e, mais maduros, conseguimos fechar a parceria, que nos deu ainda mais ânimo para seguir inovando”, conta Lanaro.
A partir daí, a franquia foi estruturada e lançada com foco nas pessoas que querem empreender conectadas com a inovação. São dois modelos de franquia: a loja implantada do zero e a conversão de bandeira, para proprietárias de salão de beleza que desejam transformar os seus negócios com a metodologia da franqueadora. Além disso, a franqueada, que não precisa ter formação ou experiência como cabeleireira ou manicure, tem ao seu dispor um sistema de gestão online, com controle financeiro integrado, todas as ferramentas para as vendas e que pode ser acessado de qualquer lugar, no notebook ou no smartphone. Com isso, o dia a dia da unidade é facilitado, permitindo que ela se dedique à estratégia do seu negócio.
Outro diferencial importante para a investidora diz respeito ao início do negócio, sempre desafiador para quem investe em trabalho e recursos na conquista de clientes. Ao contrário dos salões de beleza tradicionais, que levam um tempo para formar carteira de clientes, no belle.club, a loja é inaugurada com agenda cheia e receita previsível, devido a um exclusivo processo de lançamento de novas unidades.
– Quinze dias antes da abertura da loja, iniciamos uma campanha de vendas, usando técnicas do marketing digital para atingir as mulheres da região onde a unidade será instalada. Uma semana antes da inauguração, abrimos as vendas das assinaturas, o que faz com que, no primeiro dia de atendimento, a unidade já tenha agenda cheia – descreve Alves.
O investimento total é de R$ 200 mil, incluindo taxa de franquia, adequação do imóvel, equipamentos e capital de giro.
As primeiras unidades franqueadas da marca serão inauguradas no bairro do Brooklin, na capital paulista, e na cidade de Santo André. No ano passado, a empresa faturou R$ 1,5 milhão e a previsão para 2021 é fechar com R$ 15 milhões e 6 lojas.
Perda de um dos fundadores
De cabeleireiro com dificuldades em manter o seu negócio, Ji contribuiu na estruturação de todo o negócio para o crescimento. Em setembro de 2019, pegou todos de surpresa ao sofrer um mal súbito e falecer precocemente, aos 47 anos.
– Ele já havia deixado o caminho aberto para que seguíssemos na missão de revolucionar o mercado dos serviços de beleza no Brasil. Esse era o seu sonho e a sua memória estará sempre viva através desse propósito – recordam os sócios.