Crise econômica muda perfil da demanda por cursos profissionalizantes

Dados da última Pnad Contínua mensal, pesquisa realizada pelo IBGE que mede o nível de desemprego e mais recentemente renda do brasileiro, já anunciam o que todos já perceberam: o desemprego no Brasil está aumentando – e chegou a 7,4 no último semestre – e a renda do consumidor está cada dia menor.

No setor de franquias, o efeito se fez sentir já nos números de 2014, quando alguns segmentos tiveram faturamento bem abaixo do de 2013 segundo dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF). No setor de Hotelaria e Turismo, por exemplo, o crescimento em 2014 foi de amargos 0,3% ante os 22% de expansão no ano anterior. Na abertura de unidades, o setor de Esportes, Saúde e Lazer cegou até mesmo a sofrer retração em 2014, com redução de 4% no seu total de unidades abertas em comparação a 2013.

Já entre os poucos segmentos que se mantiveram estáveis está o de Educação e Treinamento, com um crescimento de 12% em 2014 ante 17% no ano anterior. No número de unidades, o setor experimentou uma expansão de 7% mesmo no início da crise.

“O que percebemos é que houve uma mudança na demanda. Antes a gente tinha um cenário de pleno emprego e fazia as pessoas se interessarem por qualificação, mas boa parte da renda destas pessoas ainda estava indo para o consumo. Agora eu vejo o seguinte: as pessoas, ao se sentirem em uma perspectiva desemprego, buscam qualificação”, explica o diretor de marketing e expansão da CEBRAC (Centro Brasileiro de Cursos), Fabio Pozzi.

De acordo com ele, entre os anos 2000 e início de 2010, com a expansão da classe C e aumento da renda familiar, passou a existir um interesse maior dessa população por cursos técnicos e profissionalizantes pensando em investir na sua qualificação para ascender ainda mais socialmente. Já no cenário atual, a busca por qualificação profissional tem partido de uma postura “defensiva” da população.

“É menos um movimento de busca de qualificação, de auto-aperfeiçoamento, e mais um movimento defensivo para estar preparado pra não perder o emprego ou, caso o perca, conseguir se recolocar mais rápido”, avalia Pozzi ao analisar o perfil do público que tem buscado os cursos do CEBRAC.

Segundo uma pesquisa do instituto DataPopular realizada em fevereiro deste ano, 26% dos moradores de favelas já realizaram um curso profissionalizante. Mercado importante do segmento de Educação, é também entre os moradores de favelas que o pessimismo com a economia em 2015 é mais sentido. Ainda de acordo com o DataPopular, 75% dos moradores de favelas acreditavam, no início do ano, que 2015 seria “pior que 2014 para o Brasil em termos de empregos”. Desde então, os índices de pessimismo e desemprego entre a população só têm aumentado.

Com o comportamento mais cauteloso da população, há o risco de retração entre aqueles setores do segmento de Educação e Treinamento considerados “suplementares”, avalia o diretor de planejamento e pesquisa da Kumon, franquia especializada no ensino de português e matemática para crianças, João Danil Palma Ramos.

“Não chega a ser uma perda de mercado, mas existe uma certa retração no consumo que não compromete o crescimento e a solidez da empresa, que ainda assim é de um cenário de crescimento”, explica o executivo.

Nos últimos anos, a rede Kumon também colheu frutos com a expansão do consumo e da renda entre a classe C, que passou a “ter uma atitude mais proativa em relação à educação”, explica Ramos. Segundo ele, essa expansão gerou, inclusive, uma redução na idade média dos alunos do sistema.

“Na verdade há uma demanda muito grande por serviços como o Kumon. Vivemos em um mercado muito promissor e, naturalmente, quando há um aumento da renda familiar, as famílias encontram um espaço para encaixar o Kumon no orçamento”, avalia Ramos.

Já o diretor do CEBRAC, Fabio Pozzi, é mais otimista. Segundo ele, o segmento de cursos profissionalizantes é praticamente “imune” à crise, já que em momentos de alta no desemprego a população se revelou também preocupada em se requalificar e disputar novas vagas num mercado de trabalho ainda mais competitivo.

“Quando a economia está muito boa, as pessoas investem na sua educação e quando está ruim elas também investem na sua educação, justamente para se defender. Então é um setor que vai seguindo meio que imune à crise”, destaca o executivo.

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