A era dos shoppings, tal como a conhecíamos, está enfrentando um declínio significativo, sinalizando mudanças drásticas no panorama do varejo. Segundo dados apresentados ao The Wall Street Journal, pelo Nick Egelanian, presidente da empresa de consultoria de varejo SiteWorks, nos Estados Unidos, o número de shoppings em operação desabou de 2.500 na década de 1980 para apenas 700 atualmente, com previsões sugerindo que esse número pode diminuir ainda mais, com apenas 150 shoppings restantes daqui a uma década. Essa tendência não é exclusiva dos Estados Unidos, sendo observada em outros países como o Brasil, levantando questionamentos cruciais sobre o futuro do varejo físico e as valiosas lições que podemos extrair desse declínio.
O crescimento exponencial do comércio online, exacerbado pela pandemia, tem sido um dos principais catalisadores dessa transformação. Compras online oferecem aos consumidores uma conveniência incomparável, uma variedade impressionante de produtos e preços competitivos. Grandes plataformas como Amazon, Walmart e Mercado Livre, emergiram como líderes nesse cenário, conquistando uma fatia substancial do mercado de vendas.
Além disso, os hábitos de consumo estão passando por uma metamorfose, especialmente entre as novas gerações, como os millennials e a Gen Z. Estas priorizam experiências personalizadas e autênticas em detrimento das compras tradicionais, o que desafia os varejistas a se adaptarem a essa nova realidade, oferecendo algo mais do que apenas produtos em suas lojas físicas.
O surgimento de gigantes do varejo como Walmart e Target também têm desempenhado um papel crucial nesse cenário em mutação. Essas empresas oferecem preços mais baixos e uma variedade de produtos muito maior do que muitos shoppings, atraindo clientes que antes frequentavam esses centros comerciais.
A eficiência logística e a escala de operação dessas corporações colocam em risco a viabilidade dos pequenos lojistas dentro dos shoppings. A falta de diferenciação é outro fator que contribui para a crise dos shoppings. Muitos desses centros comerciais oferecem uma experiência similar aos consumidores, com lojas que vendem os mesmos produtos. Isso torna desafiador atrair e fidelizar clientes, especialmente em um mercado saturado e competitivo.
Nos Estados Unidos, diversos shoppings icônicos fecharam suas portas nos últimos anos, incluindo o Northland Mall em Detroit e o Southdale Center em Minnesota. A empresa Sears, outrora uma gigante do varejo, também enfrentou sérios revezes, fechando centenas de lojas e agora está em processo de falência.
No Brasil, a tendência é semelhante, com o número de shoppings em operação diminuindo gradualmente. Em 2023, 10 shoppings fecharam suas portas, e a expectativa é que esse número continue a crescer nos próximos anos. Até mesmo lojas tradicionais como Renner e C&A estão reduzindo o número de suas unidades físicas e investindo cada vez mais em seus canais online.
Diante deste cenário desafiador, a reinvenção se torna fundamental para os shoppings que desejam sobreviver. Eles precisam se adaptar às novas demandas dos consumidores, oferecendo experiências únicas e relevantes. Isso pode incluir a incorporação de espaços de entretenimento, lazer e gastronomia, como cinemas, parques de diversões e restaurantes renomados.
A personalização emerge como a chave para o sucesso, com a implementação de tecnologias como a inteligência artificial para oferecer aos clientes produtos e serviços personalizados.
Além disso, os shoppings podem se transformar em centros multifuncionais, integrando serviços como coworking, academia e até unidades de saúde, criando um ambiente que vai além das compras, tornando-se destinos mais frequentes para os consumidores. O foco na experiência do cliente é crucial, exigindo um ambiente agradável e convidativo, com boa infraestrutura, serviços de qualidade e eventos diferenciados. A integração dos canais online e offline também é essencial para oferecer uma experiência de compra completa e personalizada aos consumidores.
O futuro do varejo parece ser híbrido, com o comércio online e físico coexistindo e se complementando. Os shoppings que desejam prosperar nesse novo cenário precisam se reinventar, oferecer experiências únicas e relevantes aos consumidores e integrar os canais online e offline de forma eficiente. Aqueles que conseguirem se adaptar às mudanças e inovar serão os que prosperarão no futuro.
Recentemente, durante um evento no Boulevard Shopping em Belo Horizonte, surgiu uma discussão sobre o papel do franchising nos shoppings. A realidade é que a presença de franquias está diminuindo nesses centros comerciais. Embora ainda representem uma parte significativa das lojas, sua participação vem encolhendo nos últimos anos. Segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), o número de franquias em shoppings caiu de 60% em 2015 para 55% em 2023.
Vários fatores contribuem para essa tendência, incluindo o crescimento do comércio online, os altos custos de operação nos shoppings e a falta de diferenciação entre as franquias. No entanto, alguns segmentos de franquias ainda apresentam crescimento, como alimentação, serviços e experiências únicas.
Para prosperar em shoppings, as franquias precisarão se adaptar às mudanças do mercado, oferecer produtos e serviços inovadores, investir em marketing digital e proporcionar uma experiência de compra personalizada e omnichannel. O futuro das franquias nos shoppings depende da capacidade de se adaptarem e inovarem diante desses desafios em constante evolução.