Valéria Barros, 42, nasceu na cidade de Pirapora, no interior de Minas Gerais, mas aos dois anos se mudou para Tabuleiro do Norte (CE). Lá passou fome na infância. Com pais ausentes, foi praticamente criada pelos vizinhos.
Aos 11 anos, brincando em um balanço, fechou os olhos e lembrou da cena de uma novela: uma mulher bonita descendo de um avião, com uma pasta preta nas mãos. “Eu me via sendo ela, visitando empresas”, lembra. Valéria estava certa. Hoje, ela é sócia da Trevo Gelateria e da Trevo Açaí, dois negócios de sucesso em Fortaleza.
A trajetória profissional da empreendedora começou como recepcionista de uma loja de produtos automotivos. Para ganhar um pouco mais e conseguir pagar as despesas de casa, ajudava nas vendas. Algumas vendedoras, no entanto, não gostaram da ideia e reclamaram com o chefe até Valéria ser demitida.
Valéria ficou sem chão, mas conseguiu um novo emprego em uma loja de blindagem. “Quando eu iniciei, achava que blindagem era coisa apenas para o Papa”, brinca. Começou como recepcionista e, ao longo de 10 anos, se tornou a vendedora de maior prestígio na empresa. Era o auge de sua vida profissional.
Um dia, o marido Markus Wesley a convidou para fazer um curso de autoconhecimento. “Foi uma experiência tão transformadora que saí de lá decidida a empreender. Ao fim do curso, fui até meu chefe e pedi a conta”, lembra.
Só tinha um problema: empreender com o quê? Nos últimos dias na empresa de blindagem, Valéria foi em uma sorveteria após o almoço e, ali, “conversando com o sorvete”, veio o estalo: vou abrir uma gelateria! “Uma coisa que eu sei é tomar sorvete. Além disso, Fortaleza é quente o ano todo, sempre há demanda para sorvetes”, pensou.
Com a ideia em mente, faltava um planejamento. Valéria sabia que a parte de vendas e de relacionamento com o cliente ela fazia muito bem. Porém, conta que era leiga em gestão e planejamento financeiro. “Por isso chamei o Markus, que tinha conhecimento no assunto, para ser meu sócio. No início não oficializamos a sociedade, mas a parceria sempre esteve lá e ele me ajudou em todo o processo”, relata.
A empreendedora também tinha o desafio de estabelecer uma marca. “Eu precisava de um nome. Como nossa primeira loja ficava em uma rotatória em formato de trevo, foi assim que decidi chamar. E, no fim, acabei emprestando as palavras de Paulo Vieira, coach, e criei o slogan: ‘isso dá uma sorte!’”, relata.
A primeira loja da Trevo Gelateria foi aberta em 2014. Na inauguração, o estabelecimento realizou mais de 600 atendimentos. Dias depois, Valéria criou especialmente para uma influenciadora a Taça da Felicidade, uma receita com gelato, Nutella e granulados. Quando a foto do doce caiu nas redes sociais, virou a sensação!
“A Trevo Gelateria lotou de clientes procurando pela Taça da Felicidade. Mas havia um problema: eu só tinha quatro taças de vidro”, comenta. “Cheguei a aumentar o valor do produto para dar conta de tantos pedidos, mas o ritmo não diminuiu”, lembra.
O sucesso da gelateria aflorou o pensamento para outro negócio. A alta demanda por açaí que existe no Ceará e por ser um produto relacionado ao bem-estar e à alimentação saudável, levou o casal a criar a Trevo Açaí.
Mesmo sem intenção, um negócio acabou puxando o outro. “Os clientes já associavam o açaí à mesma qualidade e atendimento da galeteria. Oferecemos, além dos produtos acessíveis, uma experiência única na loja”, comenta Valéria.
Desde então, as duas marcas coexistem, mas atuam separadamente. O casal expandiu o empreendimento para os principais pontos gastronômicos de Fortaleza. Foi quando a ideia de transformar a Trevo Gelateria e a Trevo Açaí em franquia veio à tona.
“No início, eu tinha medo de perder o padrão e a qualidade. Mas o Markus me mostrou que, com planejamento, consultoria de campo e investimento, tínhamos a capacidade de levar a Trevo para todo Brasil”, explica.
E deu certo. As duas marcas se tornaram franquia, mas o foco da expansão, no momento, é para a Trevo Açaí, que já inaugurou oito franquias e expandiu para quatro estados, incluindo São Paulo.
Para o próximo ano, a meta da Trevo Açaí é dobrar o número de unidades. Até 2025, a projeção é chegar a 200 lojas por todo o país. “Para nós, é gratificante poder oferecer um modelo de negócio consolidado para empreendedores que, assim como nós, vieram de baixo e sonham em crescer”, conclui Valéria.