Depois de décadas de desenvolvimento do mercado de moda íntima, quem está neste setor chegou a uma conclusão até certo ponto óbvia: não há mais espaço para marcas que apostam apenas em corpos magros, e a diversidade dos tamanhos e modelos das peças passou a influenciar nos resultados das empresas de forma decisiva.
A Hope, por exemplo, já há alguns anos aposta em tamanhos personalizados e modelos representando diferentes biotipos e é uma das líderes do mercado brasileiro. Mas a vanguarda fica com a gaúcha YANG, especializada em lingeries funcionais (utilizadas para fins específicos como, por exemplo, levantar os seios ou esconder gorduras localizadas), cuja história remonta ao empoderamento feminino antes mesmo da pauta chegar às rodas de discussão do mercado têxtil. A marca tem um projeto ambicioso de investimento, faturamento e abertura de novas lojas, além da chegada nos estados do Sudeste.
Ângela Freire, a fundadora da empresa, começou no final dos anos 1990 um projeto de venda das lingeries funcionais de porta em porta, e percebeu já naquele momento que o portfólio de produtos para todos os corpos seria um diferencial. “Nosso propósito sempre foi a transformação por meio da autoestima”, conta a empresária. “Não só empoderamos, como damos liberdade para as mulheres pensando nos corpos delas, e isso tem influenciado nos nossos resultados.”
Com seus propósitos cristalizados, a companhia agora quer dobrar de tamanho até o final do ano. Hoje, a YANG tem 11 lojas, faturou mais de R$ 7 milhões em 2021 e deve ultrapassar os R$ 10 milhões em 2022. A ideia é que o número de pontos de venda dobre até o final de dezembro por meio de um modelo de franquias. Ao menos cinco lojas já estão vendidas e em processo de implementação – todas elas em São Paulo.
Para os próximos três anos há ainda mais ambição: a marca pretende abrir mais 30 lojas e aterrissar em estados estratégicos, em especial no Sudeste. A ideia é que, além de São Paulo, novas unidades sejam abertas em Minas Gerais e Rio de Janeiro, mercados fortes que ainda têm espaço para o crescimento da marca. Neste período, a empresa também quer quadruplicar seu faturamento. Em três anos, a rede quer chegar a uma receita de R$ 38 milhões.
O setor anda aquecido e registrou crescimento de 8,8% no primeiro trimestre deste ano, quando comparado ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados da Associação Brasileira de Franchising. As empresas de moda apresentaram o melhor desempenho entre as franqueadoras, com crescimento de 13,5% do faturamento em relação a 2021.
Outros dados mostram que o setor está em ascensão. O mercado nacional de peças íntimas cresceu 26% em 2021, e finalizou o ano com faturamento de R$10,8 bilhões, aponta o levantamento realizado pelo IEMI — Inteligência de Mercado. A cadeia têxtil e de confecção movimentou R$ 4,5 bilhões em 2020, um crescimento de 25% em relação ao ano anterior, mesmo com a pandemia de covid-19, segundo a Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
O crescimento deste setor, mesmo com a paralisação das atividades das lojas físicas no auge do surto de Covid-19, tem relação com uma mudança de comportamento das marcas, que tiveram de apostar suas fichas em vendas online. Isso em uma vertente de produtos em que, muitas vezes, os clientes exigem contato físico com as peças, não só para aferir qualidade, mas por conta do caimento e de outros detalhes que são particulares da moda íntima.
Tecnologia e fabricação própria
Para abastecer as unidades com uma gama de produtos que vai até o número 56, a YANG montou sua própria fábrica em 2006. A total autonomia da confecção também influencia na diversidade de tamanhos, posto que a marca controla todos os processos. Mais de 60 funcionários, entre modelistas, costureiras, cortadeiras e revisoras, atendem diariamente as demandas, em muitos casos, são personalizadas.
A partir de uma tecnologia de modelagem 4D a marca consegue, a partir das medidas de silhuetas, do peso e da altura, construir uma peça única. Uma espécie de manequim virtual, a partir dos dados de cada cliente, onde a peça vai apertar mais, onde vai ser mais confortável, e a partir disso respeita-se o corpo de cada um.
“Nós começamos vendendo de porta em porta e todas as vezes era a mesma coisa. As mulheres gostavam, mas respondiam ‘tenho que ver com meu marido’. Você imagina, para comprar roupa íntima a mulher precisava pedir autorização para o marido. Nós temos orgulho de fazer parte de uma história que transformou isso”, diz Carlos Samuel, diretor-executivo da YANG.
Para o diretor, a marca percebeu que a diversidade é um “norte para o desenvolvimento”. Outro ponto é que preconceitos e outras questões fazem com que esse movimento ainda seja um desafio no Brasil, o que favorece o conceito da YANG, que já está consolidado. “E a democratização dos tamanhos foi o que nos trouxe até aqui”, completa Samuel.