Assim como o futebol, os carros ainda são tomados como uma preferência dos homens, inclusive nos negócios. Porém, a paulista Erika Felício, de 35 anos, veio para quebrar esse paradigma.
Casada e com um filho pequeno, ela conciliava as tarefas do lar com as atividades profissionais na revenda de produtos de beleza, que a permitiam ajudar no orçamento familiar. Durante seis meses, ela persistiu nesse projeto, mas resolveu fechar as portas porque a empresa não estava gerando lucro.
Meses depois, a família então abriu uma empresa voltada a alimentos, mas cerca de 10 dias antes da inauguração da loja desistiu do negócio devido às proporções do investimento que estavam se tornando gigantesca. Erika acabou vendendo sua parte e partiu para um sonho antigo e com fonte de renda confiável: carros. “Sempre fui vidrada em carros. Nunca havia trabalhado diretamente com veículos, mas sempre fui muito curiosa, então resolvemos tirar esse sonho do papel e colocar em prática”, diz.
Superando obstáculos
Há exatamente dois anos à frente de um negócio predominantemente masculino em Recife (PE), Erika enfrentou alguns obstáculos e mostrou que não só entendia de beleza, mas também nos cuidados de um carro. Para isso, fez cursos e buscou conhecer a fundo a parte técnica dos veículos. Seu conhecimento era seu maior trunfo para mostrar que entendia do serviço.
“Encontrei algumas dificuldades no início para convencer os clientes de que poderiam confiar em nossos serviços. Tive que mostrar que tinha conhecimento técnico do negócio, mas entendo que seja uma quebra de paradigmas, uma mulher fazendo limpeza técnica de motor gera desconfiança. No entanto, com o tempo construímos uma relação de confiança com eles e, principalmente, mostramos competência naquilo que estávamos fazendo, com o diferencial de ter um olhar feminino e criterioso ao acabamento dos serviços. Isso agregou valor ao meu negócio”, conta a empreendedora.
Dados da pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), conduzida pelo Sebrae, mostram que o Brasil tem aproximadamente 24 milhões de mulheres empreendedoras. Esse número expressivo está atrelado ao fato de milhares de brasileiros terem ficado desempregados, impactados pela crise econômica, o que impulsionou o empreendedorismo feminino.
Assim como Erika, o público feminino ainda enfrenta dificuldades para ganhar credibilidade e ter uma posição de destaque, somente pelo fato de ser uma mulher a frente de um negócio.
Serviço sustentável
Através de pesquisas de negócios sustentáveis e de baixo investimento, o modelo oferecido pela franquia Acquazero, rede especializada em lavagem ecológica automotiva, atraiu o olhar de Erika. Então, ela apostou no home office, com investimento, na época, de aproximadamente R$20 mil.
Com faturamento girando em torno de R$20 mil, a franqueada almeja triplicar o faturamento do ano passado. Para isso, está focada na ampliação do portfólio de serviços e atendimento a empresa de frota, aumento da base e cobertura de clientes, que hoje é em torno de 250 clientes por mês de uma carteira de quase 700 clientes cadastrados. A maioria deles são oriundos de condomínios de alto padrão na capital pernambucana.
A empreendedora salienta que resiliência, gestão de pessoas, planejamento e relacionamento com o cliente são as habilidades fundamentais para manter o bom andamento desse tipo de negócio.
“Luto por aquilo que acredito, sempre valorizando e respeitando a todos, porém exigindo reciprocidade nas minhas relações. Não se trata somente de independência financeira ou emocional, mas, sobretudo de ideias, da maneira que enxergamos o mundo, dos direitos e deveres. Nós, mulheres, podemos fazer qualquer coisa, desde que tenhamos foco e nos preparemos para isso”, afirma Erika sobre a posição das mulheres no mercado de trabalho.
Muitas pessoas ainda acreditam que cuidar de uma casa é tarefa simples. Pelo contrário! “A sociedade exigi excelência da mulher em todos os seus papeis: mãe, esposa, dona de casa, filha, profissional… Nos culpamos quando não conseguimos ser 100% em tudo, quando deveríamos ser apenas gratas por poder ser o melhor possível. Seja qual for o negócio, é garantia de sucesso quando trabalhamos felizes e inteiras e ter o apoio incondicional da minha família me faz acreditar ainda mais no sucesso do meu negócio”, diz.
A empreendedora é responsável por fazer o treinamento da equipe (de oito colaboradores homens), supervisionar o atendimento e, quando necessário, arregaça as mangas e também ajuda na limpeza dos automóveis. “Optei por investir em uma franquia devido o suporte e por não começar algo do zero. O suporte foi essencial e me ajudou na gestão, principalmente pelo fato que eu vim de dois negócios que eu tive que abrir mão por não darem certos. A questão sustentável e o baixo investimento foram os pontos-chave para eu decidir pela marca. Hoje posso dizer que me sinto realizada e é gratificante acordar toda manhã e sentir prazer pelo meu trabalho. A palavra “desafiada” resume muito bem minha história, pois todos os dias é um grande desafio”, conclui.