O sonho de abrir um negócio próprio e alcançar a independência financeira já era alimentado pelo casal Sérgio e Maristela Ekuni quando ainda morava no Japão. Mas foi no Brasil que os dois conseguiram realizá-lo, ainda que para isso tenha sido necessário abrir mão do bem mais valioso da família: uma casa própria, em Apucarana, no Paraná, avaliada em R$ 300 mil. A aposta foi super arriscada, mas deu certo. Hoje, eles faturam de R$ 175 a R$ 200 mil mensais com uma franquia do restaurante japonês Matsuri To Go – em 2023, o faturamento total chegou a R$ 1,95 milhão e, para 2024, a projeção é de mais de R$ 2,2 milhões.
Mas, até chegar a esses números, um longo caminho foi percorrido pelo casal. Literalmente. Mesmo tendo nascido na mesma cidade, Apucarana, foi na terra do sol nascente que eles se conheceram e se casaram. Depois de mais de 15 anos no país asiático, a decisão de retornar ao Brasil aconteceu quando a filha primogênita, Ana Carolina, atingiu a idade escolar. “A gente desejava que ela fosse alfabetizada no Brasil e, como já queríamos retornar, achamos essa a melhor hora”, lembra Maristela.
De volta ao país de origem, Maristela se dedicou integralmente à criação da filha e aos cuidados da casa, enquanto Sérgio foi trabalhar em uma pastelaria. Durante nove anos, ele atuou em todos os setores do estabelecimento até chegar à gerência. O salário era a única renda da família e custeava as despesas da casa e as mensalidades do colégio da filha. “Nunca abrimos mão da educação dela. Desde pequena, ela teve um ótimo ensino. Com o tempo, decidiu fazer medicina, e a apoiamos sempre. Deixamos de pagar outras contas, mas nunca o colégio”, diz o pai e hoje empresário, Sérgio.
Com a vida apertada e dívidas que se aproximavam de R$ 20 mil no cartão de crédito, eles sabiam que algo de novo precisava ser feito para virar o jogo. O que nenhum dos dois imaginava é que o velho projeto de empreender se tornaria realidade justamente em um dos momentos mais difíceis para todos: a pandemia da Covid 19.
Maristela era a cozinheira oficial da família
A guinada na vida de ambos se deu a partir de outro integrante da família: o irmão de Maristela, Rodrigo Fujiwara, que recém havia perdido o emprego em uma farmácia. Depois de quatro meses desempregado, Rodrigo descobriu na internet uma vaga de trabalho na cozinha de um restaurante japonês, no município vizinho de Arapongas. Tratava-se do Matsuri To Go, tradicional estabelecimento de comida oriental do noroeste paranaense, que depois de enfrentar sérias dificuldades financeiras, retomou o crescimento ao mudar o modelo de gestão e a forma de atendimento, de presencial para o delivery.
Em plena pandemia, novas unidades do Matsuri To Go estavam sendo abertas na região. “Entrei em contato com a proprietária, a dona Emiko, que propôs que eu fizesse um teste para ver se iria gostar do trabalho. Mesmo sem nunca ter atuado no ramo, topei o desafio”, relembra Fujiwara.
A experiência deu tão certo, que depois de um mês em Arapongas, Rodrigo recebeu dos donos uma proposta para trabalhar na nova loja do Matsuri, inaugurada em Apucarana. Bastante motivado, aceitou. Após dois meses, convenceu a irmã a se juntar à equipe. Maristela já era a cozinheira oficial da família e quem preparava os sushis nas datas festivas. Gostou da ideia e logo se adaptou ao trabalho.
Enquanto isso, Sérgio seguia na pastelaria, mas observava de perto o giro de vendas e o crescimento do Matsuri. “A gente vendia 300 a 400 pastéis por dia e no japonês, saia em torno de 80 combinados. Inicialmente, eu não conseguia entender como poderia dar lucro com um volume tão menor de vendas”, recorda. “Só mais tarde compreendi: o ticket médio na pastelaria não passava de R$ 30 e, no restaurante, R$ 80. A margem era muito grande”, complementa.
Empresário precisou ser convencido a abrir franquia
A diferença de faturamento era discutida em casa e despertou na família o desejo de investir no modelo. Maristela e Sérgio tomaram coragem e pediram uma reunião com os proprietários do Matsuri. A ideia era, a partir de uma sociedade ou franquia, manter o sistema de atendimento e vendas, com a mesma qualidade.
O primeiro encontro não teve o resultado esperado. Raphael Koyama, filho do casal fundador, e responsável pelo renascimento da rede de restaurantes, inicialmente não concordou com a proposta de abrir franquias. Sem a experiência em franchising, preferia não arriscar o dinheiro investido por outras pessoas, com o receio de que o negócio não desse certo.
“Mas, depois que contamos toda nossa história de vida, desde os tempos do Japão e do nosso esforço pra poder realizar o sonho de empreender e de ver nossa filha estudar Medicina, acho que ele se identificou conosco e aceitou a proposta do franchising”, lembra Sérgio.
A cidade escolhida para abrir a primeira franquia do Matsuri To Go foi Umuarama, a 200 quilômetros de distância. O delivery fica em uma das avenidas mais movimentadas da cidade, conhecida pelos pontos gastronômicos. Para o investimento, o casal vendeu a casa em Apucarana.
“Foi a minha mãe, Tereza Moriya, que deu um empurrão. Tomou a frente na venda da casa, foi atrás de tudo”, destaca Sérgio. “No começo e até hoje ela é uma pessoa muito importante, e um dos principais motivos de investirmos no nosso sonho, pois queríamos dar uma qualidade de vida melhor para ela e nossos filhos.”
Do dinheiro da venda, foram usados R$ 180 mil para pagar a franquia e o restante para quitar as dívidas do cartão de crédito. E ainda deu para guardar uma reserva. Em 5 de julho de 2022, todos juntos – Sérgio, Maristela, a filha Ana Carolina, Rodrigo e uma funcionária – começaram a atender os pedidos.
Modelo de operação construído em conjunto
Os primeiros meses foram de muito diálogo com Raphael. “Ainda não havia o modelo de franquia estabelecido e construímos juntos. Coloquei o projeto debaixo do braço, busquei apoio e recebi todo o suporte necessário. Era tudo novo para a gente. Com ele, aprendi educação financeira, fluxo de caixa e DRE (demonstração do resultado do exercício). E isso para a gestão da empresa foi vital e nos deu segurança”, destaca Sérgio.
Além de todo o processo de adaptação à atividade, os novos empresários tiveram de enfrentar, logo no começo, a disparada do preço do salmão, principal ingrediente dos pratos oferecidos. “Novamente, a orientação que recebemos foi fundamental. Por recomendação dos franqueadores, havíamos feito uma reserva. Tivemos de fazer dois aportes de R$ 15 mil em razão do aumento do salmão. Foi necessário e fundamental”, diz Sérgio, ao reforçar a importância do assessoramento de quem administra o modelo.
Passados três meses, o cenário começou a se estabilizar. A partir do primeiro semestre as vendas decolaram. Ou melhor, triplicaram: de 40 pedidos diários para 120. E o faturamento vem aumentando mês a mês.
Qualidade, capricho, apresentação
Maristela atribui o crescimento das vendas à qualidade do produto: “É o diferencial. O capricho. A aparência. A apresentação. Segue o mesmo padrão ensinado pela dona Emiko Koyama e monitorado nas auditorias do seu Cláudio, pai do Raphael. E sempre com muito sabor”.
Outra explicação é o investimento em comunicação. Além das ações de marketing da rede, o Matsuri de Umuarama também adotou uma estratégia na cidade. Dois influenciadores por semana recebem combinados de sushis para divulgarem o restaurante nas redes sociais.
Maristela comemora o sucesso obtido em tão pouco tempo: “Ainda não acredito que depois de tudo o que passamos, conseguimos. Hoje trabalhamos com satisfação. É prazeroso. Agora podemos oferecer o ensino aos nossos filhos com tranquilidade. Não nos apertamos para pagar o colégio do Vinicius, nosso filho mais novo, de seis anos, como era no tempo da Ana Carolina. E ela agora vai poder seguir o sonho da Medicina”.
Pensando sempre coletivamente, os planos de crescimento não param entre os Ekuni. Sérgio adianta que devem investir em novos estabelecimentos em Umuruama. “Aqui mesmo na cidade. Pra continuarmos com a família unida”, finaliza.