Desde o começo de 2020, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a pandemia do então “novo coronavírus”, o mundo empresarial viveu momentos de incerteza. Investimentos foram perdidos, empreendimentos foram fechados e falências decretadas.
No mercado de franquias, o cenário não foi muito diferente. Em comparação com 2019, o faturamento dos franqueados caiu uma média de 10,5% em 2020, segundo dados da Associação Brasileira de Franchising. Além das receitas, o setor enfrentou também a queda do número de unidades abertas, com diminuição de 2,6% no ano passado.
Entretanto, alguns segmentos, como o das franquias de saúde, beleza e bem-estar, superaram as expectativas do mercado e conseguiram se destacar ainda em 2020. Com um crescimento de 3,1% no ano passado, este setor foi o segundo que mais se ampliou durante o ano, ficando atrás apenas de casa e construção. E nesse caso específico, vale pontuar que as redes que atendem o mercado de reformas não tiveram que fechar suas portas em momentos de isolamento social severo, pois foram consideradas de funcionamento essencial – o que certamente colaborou com o crescimento acentuado.
Por esse motivo, acredito que vale comentar com mais profundidade sobre o segmento de saúde, beleza e bem-estar, pois apesar dos impactos das restrições da pandemia, ele conseguiu se manter firme e segue em desenvolvimento.
Em contraste com o que poderia ser apenas um reflexo das necessidades brasileiras no momento de pico dos casos, as franquias deste setor continuam a crescer em 2021. De acordo com os dados mais recentes da ABF, observa-se um aumento de 17,4% no faturamento em relação ao 2º trimestre de 2019. Quando comparamos com o mesmo período do ano passado, este número é ainda maior, chegando a 21%.
Não posso dizer que esse segmento não foi afetado pela pandemia. Aliás, todos fomos afetados, não só economicamente, mas também pessoalmente e, inclusive, ainda estamos nos adaptando às mudanças que o vírus provocou em nossas vidas. Entretanto, vale pontuar que o mercado de franquias possui algumas peculiaridades que conseguiram manter o segmento ativo mesmo com as restrições, e colaboraram para que os franqueados não tivessem que baixar as portas. Entre elas o suporte que a franqueadora oferece ao franqueado, programas mais sólidos de publicidade e marketing, além é claro, de todo o know how e credibilidade de toda uma marca que o franqueado passa a ter quando decide empreender em uma rede de franquias. Outro ponto que influenciou na rápida recuperação do setor e fez com que as unidades se mantivessem ativas durante o período de isolamento está diretamente relacionado a uma mudança no comportamento dos consumidores.
Vou dar um exemplo que vai esclarecer meu ponto de vista: os números apontam que o setor que ganhou mais destaque desde março de 2020 foi o de casa e construção. Para entendermos o porquê deste fato, basta analisar a quantidade de pessoas que começaram a trabalhar ou estudar nas próprias residências. Essa mudança na rotina das pessoas fez com que a casa se tornasse o lugar onde todos passamos mais tempo, e consequentemente buscamos alternativas para deixar este local mais agradável e aconchegante. Isso impulsionou o investimento em melhorias nas casas e ampliou a demanda do setor.
No caso das franquias de saúde, beleza e bem-estar, tivemos um movimento semelhante, porém mais tímido. Em meio ao caos sanitário, muitas pessoas passaram a se importar mais com a saúde, buscaram opções para valorizar o aspecto mental e o autocuidado. Em resumo, o brasileiro mudou seus hábitos em busca de uma qualidade de vida melhor. De acordo com uma pesquisa publicada pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (USP), 44,6% dos entrevistados ingeriram frutas e hortaliças com uma maior frequência durante a pandemia, antes desse período o número era de 42,8% da população.
É interessante destacar que esse movimento aconteceu de forma desvinculada das necessidades estéticas. Como as franquias que oferecem estes serviços estavam fechadas, as vendas online dispararam com vouchers para serem utilizados quando as regras começassem a ficar mais flexíveis.
O momento positivo do setor é perceptível, as expectativas são as melhores possíveis para o fechamento de 2021 e isso vem chamando atenção dos empresários. Com mais de 70% da população brasileira vacinada ao menos com a primeira dose e após a abertura total do comércio, o mundo dos negócios volta a respirar e outra tendência que já se verificava em um cenário anterior à pandemia ganhou força. Trata-se da entrada no mercado e da ampliação do investimento de grandes nomes no segmento de saúde, beleza e bem-estar, com destaque para as redes especializadas em procedimentos estéticos destinados ao cuidado da pele, do rosto e do corpo. Nesse contexto, um dos setores mais concorridos e disputados é o da depilação, que reúne rostos conhecidos, como apresentadoras e atrizes que enxergaram nesse mercado a oportunidade de ampliar seus negócios.
Com um investimento maior de pessoas públicas e mais publicidade, o número de unidades e redes disparou. Dados da ABF mostram que, em todo o país, os números de faturamento e de unidades abertas de franquias de saúde, beleza e bem-estar aumentaram se compararmos com o 2º trimestre de 2020. Na região Norte, a alta foi de 35% no faturamento e de 3,4% no número de unidades abertas. No Nordeste, o crescimento foi de 50,6% e 7,9%, respectivamente. E o mesmo movimento pode ser observado nas demais regiões do país, como Centro-Oeste (58,2% mais receitas e 10,1% mais unidades), Sudeste (48,7% e 8%) e Sul (45,1% e 9,3%).
Do alto dos meus 25 anos de experiência no mercado de franquias brasileiro e analisando esses números, posso dizer que o momento é de mudança e adaptações. A economia ainda está se recuperando, o consumidor encontra-se receoso, mas o mercado e os empresários já começam a enxergar boas expectativas e acredito que o segmento de saúde, beleza e bem-estar seguirá crescendo, empregando e sendo destaque no mercado.